Filme: X-Men 2, Bryan Singer


 
 

cinema

X-Men 2 X-2

X-Men and Women

- ernesto friedman -

Ler gibi é muito bom. Ler quadrinhos fez parte da infância dos rapazes (e das moças, se bem que elas estavam mais ligadas em Bolinha e Luluzinha). Eu gostava era de super-herói. Batman, Super-Homem (sempre encrenquei com aquele jeito Bush de ser do oriundo de Krypton, mas li muito Super-Man) e Capitão Marvel eram devorados regularmente. Até o recém lembrado Demolidor, onde somente o herói era colorido de vermelho, me agradava. O misterioso Fantasma - apesar das dúvidas que sua convivência com Guran na Caverna Negra despertava - era o máximo. Afinal, ele era um humano super qualificado defendendo os últimos redutos da natureza contra a maldade da civilização. Irresistível. Mandrake era uma coisa alucinante com suas mágicas sem pé nem cabeça. A fornada dos heróis mais recentes e problemáticos: Homem de Ferro, Capitão América, o atrapalhado Homem Aranha e o super pit boy verde Hulk, chegaram com modestas versões animadas para a tevê. Quando os personagens foram para as séries de tevê, a coisa pegou. Eles não eram levados a sério e também não havia os efeitos visuais para mostrar na tela o que acontecia nos quadrinhos e em nossas cabeças. Houve um Batman e Robin na tevê, meio gay, que era engraçado. Super-Homem também teve versões na telinha antes de chegar, em 1978, à antológica produção com Christopher Reeve. Daí pra frente foi só botar dinheiro e surgiram bons filmes. O diretor Tim Burtom, em 1989, deu o tom dark à versão Batman no cinema e, amparado pela interpretação de Jack Nicholson como o Coringa, deu status de obra de arte ao herói das revistas. Mas não foram só acertos. Em 1996, O Fantasma foi esculhambado no cinema por uma produção de segunda, onde o herói é interpretado pelo frágil Billy Zane. O mascarado de queixo quadrado merecia um ator com mais testosterona. Bem, estou enrolando vocês antes de falar nos X-Men pelo simples motivo de que não li esses quadrinhos. Acho que eles chegaram depois que eu passei para os livros de verdade. De qualquer modo os dois filmes dos X-Men me impressionaram. Eles respeitam sua origem. As duas edições, X-Men (2000) e X-2 (2003), acertaram no tom da transposição para a tela grande do cinema da turma de mutantes e suas angústias.

Você que vive uma a vida medíocre de ir à aula e sonhar com a menina mais bonita do pedaço, enquanto enfrenta uma realidade muito aquém das grandes realizações que se sente destinado a cumprir, com os super-heróis, pode viajar na maionese dos poderes miraculosos e fugir do dia-a-dia enfadonho. Esta insatisfação tende a se reproduzir na idade adulta. Afinal, os chefes, os brilhantes, os bem sucedidos, os ricos, infelizmente, são minoria. E nós – digo, vocês - que fracassam, ficam felizes em ver que os super-heróis com todos seus super-poderes, também se dão mal. Fantasiar com super-herói é se transferir para os personagens. A grande jogada dos X-Men é que eles oferecem um vasto cardápio de tipos onde podemos escolher aquele que vai embalar o sonho de que somos o máximo. Acho mesmo que numa entrevista, para esclarecer qual a personalidade de um jovem, ele ou ela deveria dizer o time para que torce, qual carro prefere, qual homem/mulher é o mais bonito do momento e ... qual seu X-Men favorito. Wolverine deve ganhar na preferência. A combinação do cara grosseiro (tipo Hells Angels), fumando charuto de alto calibre, virtualmente indestrutível, com o lado romântico carente do tipo cachorro sem dono, é um forte apelo para o mulheril. Ou você prefere ser o Ciclope, mais suave, com poderes limitados, mas que garantiu o coração da Dra. Jean Grey. Entre a mulheres, o jogo de escolher qual mutante ela gostaria de ser diz muito sobre a personalidade da garota. Você é inteligente, telepática, recatada e tem dúvida se quer o certinho Ciclope ou o super bad guy Wolverine, como a Dra. Jean Grey? Ou você é degenerada e belíssima como a Mística, que pode ter o corpo que desejar e conquistar qualquer homem? Bem, exceto o romântico ... Wolverine, pois a regra é o super-herói ter sempre seu calcanhar de Aquiles ou sua kriptonita que o impede de chegar à felicidade. Ou você se identifica mais com a Vampira, de rosto angelical, mas que literalmente suga o poder do super-herói (leia-se "homem") em que toca? Por isso, ela não pode trocar carinhos com os namorados, gerando um tesão refreado que deve fazer a cabeça das mocinhas. Há também a negra belíssima Tempestade que, quando se enfurece, faz chover e trovoar. Resumindo: dize-me que X-Men você gostaria de ser e eu te direi quem és.

Mas, já que embarquei no delírio do filme, com seus perfeitos efeitos especiais, com sua montagem cortada como uma boa tira de quadrinhos e seu roteiro superficial, deixando a profundidade para nossa interpretações, lá vou eu dar uma interpretada. Atenção! E se a gente imaginasse que os humanos do filme representam os pobres americanos puros do Bush e os mutantes são ... tan tan tan ... os árabes. Sim, os árabes. Essas criaturas diferentes, com propósitos estranhos, com poderes que superam a tecnologia ocidental. Afinal, esse negócio de se suicidar explodindo tudo em volta não deixa de ser um super-poder dessa espécie mutante. Na cabeça simplista dos assessores de Bush, os árabes, como os mutantes do filme, são de dois tipos: os bons e os maus. O Professor Charles Xavier, interpretado pelo careca Patrick Stewart de Jornada nas Estrelas, é o líder dos mutantes bons, algo como um sheik da família real da Arábia Saudita, aliada incondicional dos americanos. Já Magneto, cuja maldade é passada pelo olhar de pedra do sempre bom ator Ian McKellen, é o Osama Bin Laden dos mutantes. A solução dos militares de acabar com os árabes na porrada aparece no filme, pois o personagem indiscutivelmente mau mesmo é o milico manipulador que quer exterminar os mutantes. Os políticos condescendentes, que não se alinham à política de guerra de Bush, são representados na figura do Senador Robert Kelly, que, no filme, se torna um mutante e passa a saber o que é não ser wasp na América xenofóbica pós 11 de setembro. Tão vendo como os quadrinhos podem ser elucidativos da História que acontece na frente dos nossos narizes?

O diretor Bryan Singer acertou nessa segunda edição dos mutantes. Este filão ainda vai render muita grana. Vamos ver muita mutação mais adiante. Mas, faturar mesmo vai ser Matrix em 2003, é coisa para bilhões. Quem vê, verá.


cotação:  


você pode comprar filmes pela internet


envie agora seu comentário sobre este artigo

mais filmes

início da página | homepage Polemikos

18maio2003
Copyright © [Polemikos]. Todos os direitos reservados.