Lance de sorte Good Thief 

simpáticos perdedores

- ernesto friedman -


cotação:  

Mais um remake na praça. O original, Bob le Flambert é de 1955. A tendência é irreversível. Os americanos refilmam tudo, principalmente os filmes estrangeiros. Neil Jordan (de Entrevista com o Vampiro) dirigiu este Good Thief, que teria o natural e adequado título em português "Bom Ladrão". Entretanto, os gênios da distribuidora nacional trocaram, talvez para ficar mas óbvio, por Lance de Sorte. Então tá bom. É filme sobre grande assalto. Essa afirmação é verdadeira, mas não é bem assim. Na realidade, é um filme sobre a figura de Bob, o ladrão decadente com o qual todos simpatizam, inclusive nós, os espectadores. A figura de um ladrão no ocaso de sua mal sucedida carreira (seis prisões no prontuário) é o centro da história. O objetivo de Neil Jordan é jogar com a interpretação de Nick Nolte no papel do fracassado Bob. Nick fica muito bem no papel. Ele já fez algumas figuras parecidas, mas seu jeito de viciado em heroína desiludido recitando filosofia de esquina é cativante. Como a platéia não é de ferro, para equilibrar a depressão do nosso herói, Neil Jordan escalou a russinha Nutsa Kukhianidze, interpretando Anne, típica jovem perdida, oriunda da Europa Oriental, iniciando carreira na prostituição. Ela e Nolte formam par perfeito para exercitarmos o voyeurismo cinematográfico. A interpretação de Nolte chama atenção, suas longas falas são eficientes em nos cativar e nos fazer torcer pelo bom ladrão. A menina é um sucesso na frente das lentes. Jordan é generoso nas tomadas em que ela aparece. Assim, nos deixamos levar pela conversa de Nolte e a imagem magnífica de Kukhianidze. Como ela mesmo diz no filme, "é como se eu fosse de ouro e todo mundo quisesse tirar uma lasquinha". A platéia faz isso mesmo e tenta tirar pedaço dela com o olhar.

O clima é de desesperança de filme noir, mas o ritmo é animado e a edição dá velocidade à narrativa e não deixa o jeito down do personagem de Nolte dominar a parada. O filme evolui e o grande roubo se arma. É o golpe irresistível que pode consagrar o ladrão e resolver sua aposentadoria. O roteiro não tem muita preocupação com a organização do assalto, dá-se mais atenção em explorar os personagens que circulam em torno de Bob e Anne. Tem o policial francês - o filme se passa no sul da França mas ele, que eu me lembre, é o único francês da história, a maioria dos personagens é árabe - que gosta de Bob. Também há sua curiosa quadrilha. Bem, lá pro final, a gente torcendo para haver um happy end, o diretor nos atende. Entretanto, provavelmente para dizer que criaram alguma coisa, alteraram o final do filme original. É um erro, o final do Bob le Flambert de 1955 era surpreendente e agradável. Na nova versão, as explicações ficam frouxas, o roteirista força a barra. É assim mesmo. É tudo uma grande brincadeira para passar o tempo, mas precisamente, para passar duas horas no escuro do cinema.


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03março2004
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