Filme: O Diabo Veste Prada, David Frankel


 
 

cinema

O Diabo Veste Prada Devil Wears Prada

um conto de fadas politicamente correto

- ernesto friedman -

É a nova versão de Pretty Woman. Só que agora, felizmente, não serve para glamourizar a profissão de prostituta. Fica no meio entre demonizar e mostrar o encanto da cultura e da indústria da moda. O tema é de forte apelo para as meninas, pois nove entre dez delas sonham em ser manequins e viver felizes para sempre no paraíso das anoréxicas. O filme deve ser mais fácil de consumir que o livro best-seller. As moças não precisam se esvair no esforço para ler. É melhor ver logo no filme as famosas bolsas Prada e outros tantos apetrechos famosos do imaginário feminino. O desfile de celebridades da moda faz o gosto da mulherada. Até Gisele Bündchen faz discreta participação. O diretor David Frankel toca com competência o ritmo do filme. A produção é luxuosa, o que é redundância, em se tratando do tema abordado. O Diabo Veste Prada - isso sim é que é merchandising! - tem o objetivo de explorar as fantasias das mulheres em trabalhar com moda. O filme apresenta de maneira suave a dúvida entre se vender para viver no charme da moda, ou buscar uma carreira mais séria. O que você escolheria?

O diabo da história é Miranda Pristley (Meryl Streep), toda poderosa editora de uma revista de moda que contrata a idealista Andrea (Anne Hathaway). A personagem Miranda é caricaturada pelo jeito seco e grosseiro de tratar os que estão mais embaixo na cadeia alimentar. Na verdade, exceto o exercício de jogar bolsas e casacos de luxo em cima da mesa da assistente, Miranda é apenas um executivo exigente e pouco dado a perder tempo com seu staff. Como ela diz: “se eu fosse homem, minha maneira de ser não chamaria muita atenção”. Meryl Streep fica bem no papel da mal amada poderosa.

A heroína é Andrea, interpretada por Anne Hathaway, que parece saída de algum desenho japonês mangá, com olhos e bocas enormes, e longos cabelos negros. A platéia masculina, que não entende nada de alta costura e acha que Jimmy Choo é uma rede de comida chinesa, se deleita em observar a gracinha da Anne correndo de lá pra cá em Manhattam com seus sapatinhos de salto alto.

A temática complexa do filme é que a bela Andrea, pretendente a jornalista, se vê empregada como assistente de Miranda, tendo que aturar sua impaciência e grosseria, mas com os benefícios de circular na linha de frente do negócio da moda. A história gira em torno de sua dúvida em largar a vida de passar vexames no trabalho ou se entregar aos prazeres de Gabannas e Cia. Acho que 99% das jovens que vêem o filme aceitariam de boa vontade as humilhações de Miranda para poder assistir desfiles em Paris na primeira fila. Por isso, comparei o filme com Pretty Woman. Há um quê de prostituição no ar. O dilema entre a fantasia da moda e o trabalho mais intelectual torna o filme politicamente correto, ainda mais com o final escolhido. Se bem que o público vai lembrar mesmo é dos modelitos desfilados.

Para um filme agradar a todos, Hollywood desenvolveu a técnica de suavizar a discussão. Tudo é muito bom. Ninguém sofre de verdade. Assim, a dúvida de Andrea é entre uma carreira glamourosa e outra também cheia de atrativos, afinal, ser jornalista de um grande jornal é o sonho de muita gente. Os pretendentes a Andrea são todos bonitos. A diferença entre os dois é que o mais pobre mantém cuidada barba por fazer. A atriz é linda, como todas as mulheres devem se sentir em suas fantasias. Até a mulher má tem algo de bom embaixo da casca de demônio. O mais gozado da pasteurização ética da história é que quando chega o momento de Andrea tomar uma decisão mais difícil, que testaria sua decantada ética, o roteirista, simplesmente, inventa um acidente de carro para resolver o problema e tirá-la do aperto. Relaxem e aproveitem, é apenas um conto de fadas de nossa época


cotação:  


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24setembro2006
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