Filme: O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias, Cao Hamburguer
cinema
O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias
infância em tempos de cólera
- ernesto friedman -
Bom filme nacional. Sem tratar de nordestino pobre, o filme O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias visita um Brasil que já é História: os tempos da ditadura militar. O filme de Cao Hamburguer usa a história do garoto Mauro (Michel Joelsas), que tem que se separar dos pais que entram para a clandestinidade ou, como o eufemismo que dá título ao filme, “saem de férias”. A inesperada morte do avô, o deixa a criança aos cuidados dos vizinhos. A partir da peculiar situação, o roteiro do próprio Cao Hamburguer, Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani e Anna Muylaert, mostra um retrato indireto da época e nos traz bons momentos de sentimentos humanos. Sem quase explicitar a violência, o filme passa o clima de tensão da época da ditadura. O foco de “O Ano” é mostrar com sensibilidade as experiências da transição do menino Mauro para a adolescência. No tempo em que espera o retorno dos pais, prometido para a época da Copa do Mundo de 70, Mauro encontra sua quase primeira namorada. Em paralelo acontece o sutil estreitar do relacionamento entre o menino e o velho judeu Slomo (o excelente Germano Haiut), que se torna seu tutor compulsório, juntamente com toda a comunidade israelita de um bairro de São Paulo, mobilizada para cuidar do menino temporariamente órfão. O pano de fundo é o ambiente opressivo da ditadura que contrasta com a onda ufanista da Copa de 70.
Tendo a ser crítico com os filmes nacionais, que às vezes ganham elogios complacentes sem merecerem. Neste caso, o filme nacional foi equivocadamente depreciado. O "O Globo" deu-lhe apenas o bonequinho assistindo, enquanto concedeu o boneco aplaudindo ao indigente Um Homem Quase Perfeito. Mas “O Ano” não precisa da mídia. A qualidade do filme, que conta com dois pesos-pesados na produção Fernando Meirelles e Daniel Filho, é reconhecida a cada apresentação e as recomendações boca-a-boca estão enchendo as sessões.
A visão da comunidade israelita de um bairro de São Paulo mostra um pouco da reação das instituições à brutalidade do estado de exceção que se viveu. Em algum momento, infelizmente muito rápido, a ação conjunta das Igrejas é apresentada. É uma pena que se tenha perdido a oportunidade de mostrar as ações que transcendiam as diferenças religiosas e que permitiu livrar muitos dos presos da ditadura. O diretor decidiu por ressaltar o papel da comunidade judaica. Os judeus ficam envaidecidos e respondem enchendo o cinema. Por outro lado, esta abordagem pode ser um bom trampolim para o filme ter receptividade no circuito internacional. Afinal, há judeus por toda a parte para se sentirem ligados àqueles cidadãos que falam iídiche no Brasil.
O maior destaque do filme para mim foi a fotografia. A história era boa, entretanto a beleza das imagens extraídas de um ambiente com poucas belezas visuais, impressiona. Cada enquadramento chama atenção para o esmero do desenho. Nem falo do uso da imagem para reforçar o clima de época. A gente percebe o arame farpado em primeiro plano, forte e discreto, em dose certa para comentar o estrangulamento social vivido no regime militar. Mas dá gosto ver o belo quadro extraído de uma simples tomada num corredor de um prédio de classe média pobre. A competência da direção de fotografia é de Adriano Goldman.
Simples: “O Ano” vale o ingresso.
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