Filme: Tropa de Elite, José Padilha
cinema
Tropa de Elite
retrato da elite da tropa
quem é polícia? quem é bandido?
- ernesto friedman -
Meninos, eu vi! O filme foi copiado para a rede. Tropa de Elite é show! Os envolvidos já foram presos. Devem ficar na cadeia. Pausa. Renan Calheiros, entretanto, não deve ir para trás das grades. Fecha pausa. Depois que a cópia caiu na rede, o povo passou a "baixar" o filme e o mercado paralelo virou festa. No Centros das grandes cidades, os camelôs gritam a plenos pulmões: - Olha o DVD do filme Tropa de Elite! .. e o faturamento da produção de seis milhões de reais escoa para o ralo da informalidade de nossa economia. Mas o assunto está tão forte no boca-a-boca, que a copiagem generalizada pode se transformar em fenômeno de marketing favorável. Todos vão ter que assistir ao filme. Além disso, os produtores e diretor já decidiram mudar algumas cenas para introduzir novidades e premiar quem pagar o justo ingresso. Fiquem tranqüilos, pagarei o meu.
O filme Tropa de Elite é baseado no livro Elite da Tropa, de Luiz Eduardo Soares, Rodrigo Pimentel e André Baptista. Deve estrear no Festival do Rio, neste mês. O filme é excelente. A produção é meticulosa. O filme se utiliza de uma história sobre o Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) para mostrar o retrato da corrupção crônica na polícia e a enormidade do problema da relação polícia e bandido no Rio de Janeiro. O trabalho com os atores é um primor. Wagner Moura (sucesso na novela das oito da Globo) dá show como um capitão neurótico do Bope. Os outros atores que completam o trio de personagens principais do filme, Caio Junqueira e André Ramiro, seguram a onda na composição dos personagens. Fernanda Machado traz sua beleza para compor a patricinha de uma ONG. A moça fotografa bem. O roteiro tem sucesso na difícil tarefa de mostrar os certos e errados de nossa polícia. Na verdade, a esculhambação atual é tanta, que fica difícil não cair no risível na hora de mostrar a corrupção generalizada. E fica difícil destacar os honestos. Padilha optou por mostrar um Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM) imune à corrupção. Entretanto, o Bope apresentado por Padilha é uma instituição que banaliza a violência. Não há regras nas ações contra os criminosos. A tese da honestidade é difícil, mas é solução adequada para traçar o fio da história. A realidade esquizofrênica da profissão de policial fica bem demonstrada. O diretor opta por mostrar a tragédia, mas às vezes, de tão insano, tudo parece comédia. É o estilo brasileiro de conviver com seus problemas crônicos e rir deles. Destaque para o trecho do filme dedicado ao treinamento dos soldados do Bope. É de cair da cadeira de tanto rir. Quando termina a cena e percebemos que as coisas são realmente daquele jeito, o engraçado fica com gosto amargo.
O filme toca de passagem no paradoxo do consumo da droga pela classe média e alta. É esse consumo que sustenta o tráfico, que corrompe a polícia e gera a criminalidade que assusta a classe média. Tem solução? O garotinho rico da PUC vai parar de fumar maconha para evitar a criminalidade? É ruim!
Ponto alto do roteiro é não cair na tentação de dar soluções para o problema da simbiose entre tráfico e polícia. Também, seria tentativa marcada para o insucesso. O diretor José Padilha, o mesmo do documentário "Ônibus 174", opta por mostrar com estética cuidada, um filme asfixiante, registrando o frágil equilíbrio das relações entre classe média, moradores da favela, polícia, tráfico, bicheiros e políticos. A sensação que já tínhamos de que o caldo entornou, que o barco desgovernou, fica reforçada no filme. O Rio, cenário do filme, é mais uma vez o palco perfeito onde é gestado o futuro brasileiro. E o prognóstico não é bom. Por enquanto, podemos rir de nossa miséria social. Riremos até encontrarmos a bala perdida que nos espera.
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