A Caricatura de Maomé

Do lado de lá do mundo, temos um continente muçulmano que ainda está no estágio pré-histórico de cultura religiosa. Respeito a opinião de todo mundo. Respeitem a minha: religião é muleta psicológica ou social. Com variações, no nível pessoal ou em grupos, religião forte é falta de bom senso. Veja o caso do Islã, ou você está com Maomé, ou você é um rebelde que merece ser passado na cimitarra. As mulheres - os homens de lá interpretaram as escrituras do profeta e concluíram muito sabiamente, para eles – são tratadas como criaturas de segunda classe, vivem um ostracismo consentido. E elas que achem muito bom. Por aquelas bandas, se a mulher não gostar do seu pouquinho, é pecadora e deve ser açoitada ou ter outra punição exemplar. Deve ser ignorância ou preconceito meu, mas a religião dos caras é meio antiquada. Nem os espertos administradores de dízimo, os Evangélicos, são tão radicais.

Entretanto, se aguardarmos, a religião muçulmana vai evoluir. A turma do turbante vai se aperfeiçoar, absorverá conquistas sociais como democracia e igualdade de direitos. Mas isso parece que vai levar muito tempo. Dá para esperar? O problema é que há um descompasso gritante entre a civilização ocidental, razoavelmente pragmática (há os Bush, os Garotinhos, mas, que se há de fazer?) e a cultura islâmica, em que a sociedade é submetida a preceitos religiosos levados ao pé da letra. É mais ou menos como se a Santa Inquisição da Igreja Católica ainda prosperasse em algum canto do planeta. Demarcadas as diferenças, o atrito é inevitável. Com os movimentos de imigração, há cerca de 15 milhões de muçulmanos vivendo na comunidade européia. Os governos europeus estão paranóicos em relação a atos de terrorismo. Ficam em pânico com os possíveis desdobramentos da crise da caricatura do profeta. É o típico momento de decisão: ou os governos assumem a liberdade de expressão e permitem que se critique, que se brinque com religiões, ou atendem à pressão dos radicais religiosos e saem pedindo desculpas e censurando os debochados. É mais uma batalha sobre liberdades. Para as empresas é mais fácil se dobrar frente a exigências de ditaduras religiosas ou não. Vejam a emblemática abertura de pernas do Google para a ditadura chinesa. Mas aí o negócio é apenas grana, muita grana. Já um governo aceitar as cobranças prepotentes dos fanáticos religiosos são outros quinhentos.

Se não formos um dos radicais de qualquer lado, o assunto é ridículo. Não vale a pena tanto barulho por nada. Boicotar produtos dinamarqueses (foi na Dinamarca que as caricaturas ganharam destaque), feito no nível governamental, é uma afronta às relações entre países. Confundir o jornal sacana com a população do país, onde muita gente é religiosa e deve considerar inadequado o procedimento dos jornais envolvidos, só mostra uma visão superficial, absoluta e retrógrada, típica de fanatismo religioso. A reclamação exacerbada e ações extremistas, tais como incendiar embaixada da Dinamarca na Síria, com toda a carga de manipulação política que pode haver, não é marketing positivo para a disseminação do Islã. Mas será que há preocupação deles com o progresso do islamismo? Talvez não. Esse negócio de vender uma certeza cega é bom negócio. É impressionante que não haja interlocutores de cabeça fria do lado muçulmano. Gente que procure relaxar as tensões com o ocidente de modo a tornar o trabalho de Mr. Bush mais difícil. A postura radical dos muçulmanos nessa hora, só contribui para justificar invasões de países muçulmanos. Que se veja o Irã. O imbróglio do esforço nuclear iraniano pode degenerar em ação armada. O preço do petróleo na casa dos setenta dólares o barril deve trazer embutido, não só a fome chinesa por energia, mas um temor de que tenhamos o Irã fora do mercado enquanto os EUA fazem uma intervenção cirúrgica no grande produtor de petróleo.

Por enquanto, o jogo evolui no sentido de jogadas mais agressivas dos muçulmanos. Veremos se o ocidente agüenta o tranco. A Europa está definindo o tom que tratará o problema. Depois do caso das roupas muçulmanas nas escolas francesas, da autoflagelação dos pobres dos subúrbios queimando os carros velhos dos vizinhos, tem-se mais um degrau na escalada do posicionamento dos países frente religiões extremadas e suas comunidades. Como previsão: não parece haver fator apaziguador à vista. A tendência e para a radicalização e pancadaria. É terreno fértil para o terrorismo. Recomendação para o curto prazo: Oremos.  

- Ernesto Friedman -


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05fevereiro2006
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