Por que é tão difícil conseguir nota fiscal na Mr.Cat?

Sempre é a mesma coisa. Um sapato lhe chama atenção na vitrine, você entra na loja, vem o vendedor sorridente, você escolhe o que quer, experimenta, decide levar. Parece tudo normal. Aí começa a manobra. O cliente é levado ao balcão, onde o vendedor passa o trouxa para a moça do caixa. Esta costuma ser ágil para receber o dinheiro ou passar o cartão de crédito. A embalagem da compra chega e ... emoção, a nota fiscal não aparece. Constrangimento total. Não, só do cliente. Do outro lado do balcão é pura cara-de-pau. A moça olha para o lado, procura o próximo cliente, dá a entender que o processo acabou. Ela deve se perguntar: - O que é que o otário ainda espera. Já pagou, pode ir embora. E você ali com cara de pamonha. O pobre cidadão tem que lembrar do seu direito e ter desinibição para pedir o que seria obrigação da loja fornecer: - Eu quero a nota fiscal! Perplexidade, ora veja, uma nota, que pedido mais inusitado. Agitação! A moça vai lá para trás da loja onde são gerados estes estranhos - e provavelmente raros - documentos. Sem olhar nos seus olhos, chega com a bendita nota. Acabou. Fica a impressão que você é um pé rapado que ainda usa estas coisas. Pedir nota fiscal, que pobreza! Você sai da loja cabisbaixo, auto-estima no chão. Bem, comigo não, eu saio é muito puto com a Mr.Cat.

Será que este tratamento deselegante da loja com os fregueses compensa? Claro, e muito. No preço da mercadoria estão incluídos cerca de 17% de ICMS. O estabelecimento, quando não nos fornece a nota, está sonegando e ficando com toda essa grana. Aquela frágil moça do caixa é figura importante. Ela dá enorme lucro para a loja. Boa parte dos ganhos do negócio sai do golpe da nota fiscal. O interessante é isto acontecer também em segmentos que trabalham com margens muito altas e atendem a parcela da população dita esclarecida. Uma butique de Ipanema cobra salgado pelas suas peças. O lucro é grande. Não é uma questão de sobrevivência do negócio, é apenas ganância, pouca vergonha e ausência de fiscalização pelo e Estado. Algum leitor deve estar pensando que os fiscais levam dinheiro para deixar isso acontecer? Que é isso gente, como podem pensar uma coisa dessas? Lembro uma vez, já faz mais de dez anos, pedi uma nota fiscal na Richard´s do Rio Sul. Foi um alvoroço. O vendedor simplesmente não sabia o que era aquilo e como emitir. Fornecer notas fiscais devia acontecer muito pouco nesta época. Curiosamente, as notas aparecerem mais no Rio Sul quando o shopping, que recebia parte do aluguel das lojas como percentual das vendas, percebeu que as vendas eram muito baixas. Chamou os inquilinos para conversar e acertaram as coisas. Fica o registro: a Richard´s hoje em dia faz questão de dar a nota fiscal.

A época é para ganhar a todo custo. Em tempos de Mensalão, sonegar imposto é pinto perto de outros crimes. O que fazemos? Partimos para o modelo “nos locupletemos todos” e propomos rachar o golpe? Um desconto de 8% seria bom negócio para as duas partes. Entretanto, meu estômago reage a estes expedientes. Reconheço que pagar imposto para a governadora Garotinha dói. Temos certeza que ela vai usar errado. É certo que vai usar para o mal. A propósito, ela vai gastar agora mais 100 milhões de reais em publicidade para tentar nos convencer que seu governo é bom. Isso é que é jogar dinheiro fora.

Para quem se interessou pelo assunto, peço, por favor, solicitem a difícil notinha a cada compra. Temos sempre a pequena chance de o dinheiro do imposto ser minimamente utilizado pelo governo em nosso proveito. E não votem na Garotinha, nem em seu fofo esposo para qualquer cargo político. Assim, estaremos fazendo a coisa certa.

- Ernesto Friedman -


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12abril2006
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