Show Cê - Caetano Veloso

o que tenho a ver com Paula Lavigne?

- sebastião agridoce -

Subi o Pão de Açúcar para ver e ouvir Caetano. Fui ver o show do seu novo disco Cê. No dia do padroeiro da Cidade do Rio de Janeiro, São Sebastião, a natureza carioca foi gentil com seu cidadão honorário e conteve a chuva. Como programa, teve vários acertos. A começar pela estrutura do serviço. O ingresso incluiu o estacionamento com manobrista, um conforto. A subida no bondinho foi civilizada e mesmo a descida, normalmente mais complicada, não exigiu espera muito grande. Por aí, tudo bem. Entretanto, achei a proposta do show equivocada. O novo disco de Caetano não é de fácil digestão. É exercício fatigante ficar mais de duas horas em pé no calor ouvindo músicas e letras que exigem alguma atenção e não são propícias a dançar. O show acabou por ser um sofrimento morno.

Cê não é exemplo maior da criatividade de Caetano. Em alguns momentos o show beira o puro e simples tédio. O som do quase rock, com belos solos de guitarra, e do quase funk, com a verborragia típica desse gênero, tendem ao chato. O exercício de identificar se os lamentos de Caetano com o sexo oposto são produtos de sua separação de Paula Lavigne, também não sustentam a curiosidade por muito tempo. Bem, de minha parte, não tenho o mínimo interesse em saber se a Paula deu ou não deu para um surfista de Arraial do Cabo. Te Odeio e Rocks geram uma pseudo empolgação na platéia, mas a coisa não decola. Aliás, não estou com paciência para saber que Caetano sofre com a presbiopia ou que sempre teve suas achegas lhe incomodando. Se quiser falar de sua vida amorosa, alugue outro.

E o show rolava. A platéia de pé no calor da arena do Noites Cariocas fica esperando alguma música que compense a saída de casa. É sintomático dizer que o momento de maior empolgação do público acontece quando Caetano canta o velho sucesso (de 1971) Como Dois e Dois, de Roberto Carlos! Mesmo uma música experimental como Fora de Ordem chega a ser saudada pela platéia como algo popular e dançante. A banda, cuja soma das idades é pouco maior que os sessenta e quatro aninhos de Caetano, produz alguns bons momentos de som pesado. Mas eu subi o morro para ouvir Caetano. Se ele quer dar força para os jovens amigos de seu filho, pode produzir o disco deles.

O CD Cê é daqueles para ficar guardado na estante. Quem comprar estará cumprindo a regra do manual dos antenados em música brasileira, mas faltou tempero nas criações. Ainda assim, Caetano merece um elogio por tentar. Se não deu certo, é uma pena. Os elogios que surgem derivam da condescendência com o irrefutável valor da obra de Caetano. Pouca gente vai deixar o CD muito tempo ouvindo no carro. Será esquecido rápido. É chato.



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21janeiro2007
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