Abaixo a Venda de Armas!

A gente recebe todo tipo de correspondência na Internet. Se você cair numa lista de spam, então, tá frito. Vai chegar uma média de 5 e-mails por dia oferecendo todo tipo de bobagem possível, sejam produtos e serviços para vender ou idéias para divulgar. É um saco! O curioso é que boa parte das mensagens é exatamente para vender listas para você também fazer spam e pentelhar outros milhares de endereços de e-mail. E a maluquice se perpetua. Dentre as esquisitices que se recebe, algumas são até engraçadas. Outras, nem tanto. A semana que passou recebi uma com o título Mensagem ao Presidente Bush. Transcrevo aqui a esquisita nota:

Encontrei na Internet uma campanha interessante que defende o direito à legítima defesa.
Eu estou de acordo pois se uma pessoa está sendo agredida por um bandido, ameaçada de morte por um criminoso, primeiro ela deve recorrer à polícia, mas se não for possível ela tem que ter o direito de se defender.
Infelizmente os bandidos estão soltos e estão saqueando, violentando, assaltando ou matando. É a nossa sobrevivência que está em jogo.
Na última reunião da ONU, no dia 9 de julho, discutiu-se o combate ao tráfico de armas. O governo norte-americano aprovou o combate ao tráfico, mas declarou que não irá proibir a posse e o porte de armas legais de defesa, pois é garantida pela segunda emenda constitucional.
O site está promovendo o envio de mensagens de congratulações ao Presidente Bush pela tomada de posição firme e corajosa.
Entre em (
aqui aparecia um endereço de site) e manifeste v/c tb sua
solidariedade.
Abraços
Haroldo 

Minha resposta mais sucinta a esta missiva vai no idioma do querido presidente do Arnaldo: Wrong number! Ou seja: Caro Haroldo, se você busca apoio para facilitar a proliferação de armas de fogo, ligou pro número errado. Explico: Eu acho um total absurdo fazer campanha para dar força à disseminação do uso de armas como meio de aumentar a segurança dos cidadãos. Essa solução é coisa de demente. Ou, claro, se você é dono de uma fábrica de pistolas e revólveres e vai faturar uma grana armando a população, tá fazendo a coisa certa. O slogan da sua campanha devia ser: um trezoitão em cada mão!

A discussão é boa. Se olharmos as coisas superficialmente, é razoável pensar que as pessoas devem usar armas para se defender. Entretanto, isto é uma armadilha de argumentação. A gente pensa numa situação pouco provável em que está encurralado, tem uma arma na mão apontada para o bandido e tudo que precisa para resolver a situação e puxar o gatilho. Mas as coisas não se passam assim. A verdade é que se a rapaziada se armar, isso aqui vira um faroeste. Qualquer discussão ridícula de trânsito vai acabar em tiroteio. O saldo final vai ser um bando de gente morrendo atingida por tiros. Bem, aqui no Brasil isso já não é tanta novidade pois as ditas mortes violentas fazem parte do nossos cotidiano. Mas, colocar mais armas na rua só aumenta a circulação de balas perdidas. Os revolveres vão ficar coçando na mão dos imbecis – e quando estamos nervosos somos todos imbecis - até que seja usado pelo motivo mais ridículo possível. O porteiro olhou atravessado? tiro no empregado desrespeitoso. O cachorro do vizinho latiu pra você? bala nos dois, cachorro e vizinho. O PM te achacou na esquina? bala no assaltante fardado. Vai ser uma festa!

A visão de se proteger comprando arma é um equívoco. Não passa pela cabeça do atuante Haroldo a idéia da gente batalhar pela melhoria do sistema, da polícia, da justiça? Antiquado né? Mas eu acho que este é o caminho. O ingênuo Haroldo comenta sobre "governo americano, tráfico, direito à posse e porte de armas..." Pura trapalhada de raciocínio. Governo americano está aí mesmo é para defender interesses americanos, incluídos aqueles da indústria de armas. Já o tráfico no mundo é principalmente gerado pelo insaciável consumidor americano de drogas que paga caro para ter o produto e com isso move o mercado. O governo americano, quando trata o problema da droga, tem que escolher entre diminuir a demanda doméstica ou atacar as fontes produtoras. Resultado, deixa rolar o problema interno dos consumidores e aproveita para agir na América Latina. Por exemplo, propõe, oportunista, sitiar a Amazônia com tropas americanas. Este é mais um bom exemplo da objetividade dos gringos. Invadir a Amazônia não resolve o problema da droga, mas arranja um jeito de tomar conta da desejada floresta, que como tudo que temos, não sabemos cuidar. Uma coisa é certa: depois que os mariners entrarem na mata brasileira (será que ainda é nossa?) não saem mais.

Nosso querido Haroldo propõe enviar e-mail de congratulações ao presidente Bush. O cara tá maluco. Não nutro especial simpatia por esse presidente. Não é simpático, não parece inteligente. Não faz nada pelo Brasil, que, por sinal, se alguém tem que fazer são os próprios brasileiros. E não esperem que os Jader Barbaralhos o façam! Sou totalmente contra esta empolgação colonizada do Haroldo de ficar babando o ovo do presidente Bush. Dizer que a atitude dele é "corajosa" é uma avaliação oba-oba de quem quer morar em Miami. Mas errada que isso só a expectativa do Haroldinho de que eu vá mandar congratulações pro Bush. Sai dessa cumpade!

Em tempo: Mais controle sobre a venda de armas! Mais controle sobre a concessão de porte de armas! Abaixo a venda de armas!

Mais em tempo: O e-mail do Arnaldo veio com do endereço haroldoyhi@netcourier.com . Se você gosta de armas, pode se corresponder com ele. Se você não gosta, também.

- Ernesto Friedman -


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10.10.2002

Caro amigo Ernesto, é óbvio que você está morando em algum lugar muito seguro (se é que existe no Brasil). Mas pergunto a você, já imaginou morando na favela, cortiço ou outro excelente lugar? Imagine agora alguém ou alguns indivíduos forçando a porta para arrombá-la mesmo você tendo ligado a luz e feito todo o barulho possível para indicar que alguém estava em casa. E, sem ter arma nenhuma para efetuar pelo menos alguns disparos de advertência, se vê na impossibilidade de exercer seu direito à legítima defesa, visto que nenhum louco iria tentar uma de Rambo, e, contrapor os marginais com uma faca utilitária de cozinha.

Pois é, estive nessa situação pelo menos umas três vezes. Mas com a diferença que eu tinha uma arma de fogo, e, bastou um ou dois disparos pela janela em direção ao chão para que os marginais desistissem da empreitada. Em, nenhuma das três vezes o Estado se fez presente, e, se o fizesse não chegaria a tempo de impedir o pior.

17.03.2002

Prezado articulista:
Infelizmente, é um costume brasileiro falar apaixonadamente sobre assuntos sobre os quais desconhece, baseando-se na velha ciência do "achismo". O senhor deveria saber que, para se obter um porte de arma é preciso:
1-Submeter-se a um exame psicotécnico
2-Submeter-se a uma prova escrita sobre legislação penal referente ao assunto
3-Prova prática de proficiência no manuseio de armas de fogo
O exame psicotécnico não é exigido para quem pretende ser ou vier a ser empossado como presidente da república, ministro da justiça, deputado, etc, etc....
A grande confusão origina-se no desconhecimento de que, a totalidade dos crimes vistos nos meios de comunicação, é praticada por indivíduos que portam armas ilegalmente, e sempre o farão, independente do que a lei estabelecer, por que são contraventores contumazes.
Para se compreender melhor essa diferença, no ano de 1998 foram expedidos 40.000 portes de arma no RGS, sendo que apenas 1(um) destes indivíduos envolveu-se naquele ano em um delito criminoso.
Tal grau de segurança não é alcançável por nehum dos medicamentos disponíveis nos estoques de farmácias e hospitais.  Entretanto, no ano de 2001 nenhum porte de arma foi expedido, mas ao contrário do que o seu artigo sugere, a criminalidade neste ano aumentou ao invés de diminuir. Portanto, deixe de lado o preconceito inerente ao desconhecimento e procure informar-se sobre o assunto de forma o mais imparcial possível, para só então emitir sua opinião, o que lhe permitirá conquistar o respeito dos demais pela supremacia da razão sobre à emoção.


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