ONDE ESTÁ O TEATRO?

Depoimento de Nelson Rodrigues:

"Meu nome estava em todos os jornais por essa época. Getúlio, impressionado, perguntou ao então ministro Capanema: ‘O que é que há com o teatro que os jornais só falam de teatro?’. Radiante, porque subvencionava nossa temporada, Capanema respondeu: ‘São Os Comediantes e é Vestido de Noiva.’

Isso foi em 1943, alguns dias depois da estréia do espetáculo Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues. Era o início de uma nova e audaciosa maneira de ver e conceber o teatro. A arte dramática alcançando a modernidade. Seguindo está "revolução" cênica, surgem o TBC, Oficina, Arena e tantas companhias e grupos estudantis e profissionais de teatro. O rebuliço é total. Muito a se experimentar e conquistar. Cada um contribuindo de forma inovadora. Valia a pena, exercer esse ofício, pelo simples fato de amar, incondicionalmente, o teatro. Ninguém esperava fama, dinheiro e personal trainer. Não queriam ser astros, queriam ser atores. A discussão entre ser ator e astro, prefiro abordar em outro artigo. O que com certeza dará "pano pra manga!"

E hoje o que acontece? Os esforços para se implantar um teatro essencialmente nacional morreu? A maioria das pessoas não freqüenta mais o teatro. O motivo não é apenas estar caro. É também estar chato. Essa é a opinião que tenho ouvido constantemente. Não apenas dos jovens. Nada surge de novo e revolucionário no teatro brasileiro. Falta subvenção? Falta. Falta apoio? Falta. Falta público? Falta. E o que fazer se tanto falta?

Outro dia, lendo, um artigo do Dudu Sandroni, parei para refletir. Ele tem razão. Reclamar é fácil. E fazer?

Será que o que se monta atualmente, não está completamente inadequado ao gosto do público? Como são escolhidos os textos? Para fazer sucesso? Chamar a atenção? Ganhar dinheiro? Não seria melhor montar um espetáculo que faça a diferença de alguma maneira? Que contribua culturalmente? Porque não buscar o irreverente? O incômodo? São muitas as perguntas e confesso não encontrar respostas para todas elas. Como também desconheço como inverter tal situação. Mas pensar e questionar nunca é demais.

Mais uma vez, na história do teatro brasileiro, surge a necessidade de uma renovação. É preciso reencontrar o caminho ou buscar um diferente. Cabe aos profissionais desta área reavaliarem o que está errado. Encontrar soluções para voltar a fazer teatro inteligente, interessante e formador de público. Desperdiçar esse espaço de experimentação, transgressão e evolução é burrice.

Vamos pensar, estudar e vasculhar a melhor forma de redescobrir essa arte. Nem que tenhamos que voltar a origem. Experimentar o que já foi feito. Ousar. Afinal, ao valorizar o teatro estamos investindo em nós mesmos.

- Renata Mafra - 
colaboradora


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01setembro2001
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