A maquiagem da 

O golpe das garrafinhas

Enquanto assassinos portugueses malucos, seqüestradores e Silvio Santos ocupam a mídia com ações espetaculares, por baixo do pano, a inflação vai aparecendo. Desta vez são as multinacionais. Provavelmente pressionadas pelo dólar alto, que reduz os ganhos no Brasil, quando medidos na moeda americana, as empresas têm de usar da criatividade para aumentar os lucros que enviarão às matrizes. Como aumentar lucro e honestidade nem sempre andam juntos, essas dignas empresas adotam práticas, no mínimo, pouco sérias para manter ou ampliar seus ganhos. O exemplo mais famoso e preocupante para a Saúde Pública, foi a redução do comprimento do rolo de papel higiênico, que passou de 40 para 30 metros, enquanto o preço era mantido inalterado! Considerando que boa parte da população vive hoje com restrições fortes no orçamento, o resultado dessa prática comercial será a falta de papel higiênico no final do mês. A previsão óbvia é que as coisas vão cheirar mal nessa época.

Outros fabricantes adotaram o mesmo artifício para seus produtos. A Nestlé foi de um cinismo atroz. Neste domingo, a multinacional publicou matéria de mais de ¼ de página no jornal  O Globo, explicando seu procedimento. (Mais uma vez, Polemikos foi discriminado, ninguém publica informes aos consumidores com a gente.) O fabricante suíço de leite em pó declara com todas as letras ter maquiado um aumento de preço. Duvido que tivesse esta cara-de-pau lá em Genebra! Por exemplo: eles reduziram a lata de leite Ninho de 454 gramas para 400 gramas, portanto, uma redução de 54 gramas, 11,9% do peso original. Quanto ao preço, entretanto, eles declaram que reduziram de 11%.  Digamos que é pouca coisa. Mas, como sempre, favoravelmente ao fabricante! E no biscoito Wafer? Seu peso passou de 200 gramas para 150 gramas, uma redução de 25%. Quanto ao preço, a Nestlé declara sem se ruborizar: "o preço do produto foi reduzido em 20%". Epa!! Onde foram parar os 5% de diferença. Meu caro leitor, eu respondo: - vão para os felizes acionistas da multinacional. Bonito é o final da nota: "Mais uma vez, a Nestlé reforça seu compromisso de respeito absoluto ao consumidor com produtos de alta qualidade e valor nutritivo." Então tá! Pelo menos eles são sérios o suficiente (ou têm bons advogados) para não declararem que têm respeito ao bolso do consumidor.

E a Coca-Cola? Bem, o procedimento da fábrica de refrigerantes foi mais sutil. Nas últimas duas semanas, em vários restaurantes, desapareceu a lata de 350 ml e a garrafa comum de 275ml e surgiu um linda garrafinha no tamanho e design original da Coca-Cola, com o volume de apenas ... 250ml. Legal né? O curioso é que os restaurantes não ajustaram preços para esta nova mini embalagem. O garçom de um deles, quando perguntado, não titubeou, "A Coca-Cola só está entregando este tipo de garrafa. Eu acho que é mais um caso de maquiagem!." Nós também! Nós também. Observem que a Coca-Cola está trocando uma embalagem de 350ml por uma de 250ml. Nós, os consumidores, quando pedirmos uma Coca nos restaurantes estaremos perdendo 100ml em relação à embalagem anterior. Quanto ao preço, vamos ter que negociar com o restaurante. Até agora, o que eu vi foi o preço ficar igual, seja uma garrafinha de Coca-Cola de 250 ml ou uma garrafa tradicional "média" de 275ml de Guaraná. .... Hum?! Taí! Por falar em guaraná, podemos fazer assim, enquanto esperamos a Coke voltar ao tamanho normal, passamos a tomar Guaraná da Ambev com gelo e uma rodela de laranja. Olha que eu não levo muita fé no consumidor brasileiro. Somos cordeiros manipulados pelas empresas. Mas ia ser fascinante ver o consumo de Coca-Cola diminuir em resposta ao golpe das garrafinhas. Que tal?

- Ernesto Friedman -


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02setembro2001
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