terrorismo gerando terrorismo 

Simplificação burra - O atentado terrorista ao World Trade Center causou comoção internacional. Os EUA, com todo seu poderio militar e tecnológico, mostraram-se incompetentes para lutar contra um inimigo virtual, que não tem uniforme, tropas para serem enfrentadas ou localização geográfica. O terror suicida maximizou o efeito de suas ações. Um grupo estimado de 50 pessoas arquitetou e aplicou um golpe certeiro na nação mais poderosa do mundo, gerando prejuízos que podem atingir a cifra inimaginável de 1 trilhão de dólares e tirando cerca de uma dezena de milhares de vidas. As imagens da destruição das torres do World Trade Center geraram o maior trauma por que passou a opulenta população americana. Da tragédia nasceu a revolta imediata do povo. O cidadão comum pede para lavar com sangue os escombros da ilha de Nova York. A mídia, propositadamente ou apenas seguindo a irracionalidade de uma nação em histeria, aceita a inevitabilidade de que os terríveis atos terroristas sejam revidados, sejam retaliados, com força igual ou maior. A discussão está centrada apenas no tamanho do exemplo que o império americano deve dar ao mundo. 

Ora, deveria haver alguma serenidade no caos desse planeta que já foi azul e se acinzenta rapidamente. Responder terrorismo com terrorismo é perpetuar a insanidade. A campanha maciça da mídia e do governo americano é para legitimar o caminho "do olho por olho". Prega-se a solução óbvia e burra baseada no terror oficial com tropas e mísseis.

Gigante irado - A posição americana no cenário mundial nunca foi tão confortável. Os EUA não têm opositores entre as nações. Sua superioridade militar e econômica é inconteste. Assim, a quem vale a pena atacar? Consta que o terrorista mais cotado para ser responsável pela ação do dia 11 de setembro se esconde no Afeganistão, um país miserável, encravado na Ásia, historicamente sofrendo invasões, e cuja população é massacrada por um regime muçulmano radical, o Talibã. Ali se esconde o grupo de terroristas liderado pelo xeque bilionário Osama bin Laden. Não é um grupo numericamente expressivo. Fala-se de cerca de três mil integrantes. Qualquer ação americana de grande porte, visando saciar a fome de vingança da população ferida em seu orgulho, vai matar milhares de inocentes que vão se juntar aos já milhares que vêm morrendo regularmente em ataques ao Iraque e outras áreas de conflito de interesses envolvendo os EUA.

Oportunidade perdida - Sou ingênuo. Pergunto novamente: não há outro caminho? Os timoneiros do planeta, líderes da espécie, poderiam e deveriam usar a oportunidade para dar um direção humana (?) a toda esta barbárie. A ordem mundial, controlada pelos EUA, poderia ser alterada. O maior estado do planeta é corriqueiramente despreocupado com o terrorismo diário em que vivem bilhões de pessoas que não foram aquinhoadas com a sorte de nascer americano do norte. Os EUA, só para citar exemplos recentes, não cedem em discutir agressões do meio ambiente se estas favorecem seu negócios; não se abalam com os custos sociais dos medicamentos e estão iniciando um novo programa militar tipo Guerra nas Estrelas para dinamizar a economia interna. O império displicente com o infortúnio de outros povos poderia tirar os olhos do próprio umbigo e promover uma verdadeira mudança nas relações internacionais. A globalização não precisava ser apenas a máscara de um imperialismo moderno. A paz militar poderia deslocar recursos de armamentos para áreas mais nobres do conhecimento humano. Os EUA poderiam, enfim, promover mudança maior do que tornar, a partir de agora, as viagens de avião um sofrimento paranóico.

Crua realidade - Mas - saindo das minhas fantasias de um improvável mundo melhor - o que acontecerá agora? É certo que os EUA vão atacar o Afeganistão e seu governo Talibã em busca do xeque Osama bin Laden. De sua parte, a mídia vai maquiar os ataques aéreos, considerando-os cirúrgicos. Mortos civis serão tratados como acidentes de trabalho. As ações militares em escalas monumentais serão justificadas e tratadas como atos de heroísmo. A economia americana vai se retrair e arrastará os países periféricos para recessão, desemprego e outras mazelas que nos perseguem desde sempre. Argentinas e Brasis vão ficar em situação mais crítica do que já estão. Lá no centro do império, após descarregarem sua fúria em algum lugar do globo, os americanos ficarão mais paranóicos, prepotentes e arrogantes. Para nós, brasileiros e outros países de segunda classe, sobrará o tradicional desprezo dos senhores do planeta, que ficarão na dúvida se, no fundo, achamos que eles bem mereciam uma lição.

Só como exercício: E se o tal xeque desse um tiro na cabeça e mandasse entregar o corpo ao presidente Bush? Como ficariam os EUA depois desse enorme coito interrompido, com seu taco de beisebol vibrando na mão e sem um alvo, sem uma cabeça para quebrar?

- Tirésias da Silva -


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15setembro2001
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