O mundo está de pernas pro ar

Vamos lá. A análise das maluquices nacionais e mundiais da semana nos leva a beira de ter um ataque de histeria ou de indignação. Ou as duas coisas. Mas, tirando o juízo de qualidade, o mundo está animado. Parágrafos importantes da História está sendo escritos por estes dias. Vejamos alguns casos. 

O caos brasileiro perdeu seu brilho dominante em presença do Titanic argentino. Nossos "nem tão queridos irmãos do sul" estão afundando. Neste momento, os bancos estão fechados. O presidente do BC informa candidamente que "não era preciso fazer o feriado bancário, porque não há mais dinheiro nos bancos." Pelo visto, não existe hoje uma moeda corrente na Argentina. Convenhamos que fica difícil mover a economia nestas condições! A expectativa do FMI é que o país encolha cerca de 15%. O FMI é bom em antecipar más notícias. Ele tem culpa no cartório pois endossou a aventura da paridade com o dólar ... mas, deixa pra lá, essa é outra história. A corrupção crônica argentina sangrou os dólares do país enquanto os mesmos corruptos fingiam que um peso valia um dólar. O resultado é que o país que iniciou o século como uma das maiores promessas mundiais, com população pequena, bom clima, sem problemas de educação, rico produtor de trigo e carne, boa produção de petróleo, e, hoje, caminha de volta ao início do século XX. Enquanto isso, sua classe dominante passeia no exterior gastando os dólares que surrupiou da nação. Quando as coisas se complicaram - como sempre - os ricos foram os primeiros a fugirem com a grana. Ao povo restaram as filas para pegar tíquetes-alimentação. 

Na Venezuela, um golpe de estado patrocinado pelos EUA quase derruba o esquisito presidente Chavez. A empolgação dos americanos em interferir na Venezuela não tem nada a ver com a qualidade do governo daquele país. Não podemos esquecer que o governo na Arábia Saudita é uma monarquia totalitária e corrupta e são apoiados pelos mesmos americanos. O motivo é o de sempre: o que interessa é controlar produção e preço do petróleo. Para os EUA, em sua guerra santa (?) contra os terroristas, pressionar os árabes, derrubando o valor de sua matéria prima mais preciosa, é estratégia prioritária. O mercado não mente: no dia em que Chavez parecia ter sido destituído, o preço de referência do petróleo no mercado mundial caiu 4 dólares. Mas, não deu certo. Chavez resistiu. Está acuado, mas continua no poder. A propósito, para os ingênuos que não acreditam na ostensiva intervenção americana no mundo, proponho um exercício de futurologia. Imaginem que o PT ganhe a eleição para presidente no Brasil. Por mais branda que seja a oposição hoje em dia, o plano de governo do PT não é muito alinhado com os interesses americanos. Se os gringos retirarem os dólares que têm aplicados em nosso sistema financeiro, o governo Lula vai para o espaço. Vamos acabar como os argentinos, na fila dos tíquetes-alimentação. Não que a miséria já não esteja instalada no Brasil, mas a classe média baixa, numa hora dessas, migra para pobreza num piscar de olhos. Mas, não se assustem, é apenas ficção política, podemos relaxar, os americanos não são maus, eles não farão isso conosco, podem votar tranquilos no PT.

A insanidade mais explícita está rolando na Terra Santa. A irresponsabilidade contumaz americana em resolver problemas dos quais os israelenses fazem parte deixou o problema judeu-palestino evoluir até o estágio de assistirmos o exército israelense destruindo cidades e exterminando palestinos nos campos de refugiados. Se fosse outro país o acusado dessas atrocidades, os EUA mobilizariam a comunidade internacional e usariam mesmo a força para resolver o problema. Mas quando é Israel os EUA são extremamente pacientes e tolerantes. O governo radical de direita de Israel está aproveitando a reação do povo palestino para realizar limpeza étnica radical nas áreas onde se encontram rebeldes árabes. Os EUA não podem negar alguma simpatia por assistirem Israel perseguir árabes. Neste processo, alguns terroristas perigosos para os EUA podem ser apagados. Logo, na pragmática visão americana, qualquer baixa civil é custo tolerável. Da parte de Israel, as operações estão indo bem. O marketing é o seguinte: quando morre um israelense, é um judeu sofredor e perseguido que morreu. Quando o exército judeu comete uma atrocidade, o responsável é um nebuloso governo de direita de Israel. Enquanto isso, os judeus usam sua enorme influência dentro dos EUA, pressionando a imprensa e o governo, para garantir a tolerância com suas ações nos territórios árabes. Não se vê um final feliz para o litígio. Israel tem a ira e o suporte econômico americano para manter esta guerra indefinidamente. Os palestinos têm toda a comunidade árabe para fornecer dinheiro e jovens suicidas para manter insuportável a vida nos territórios ocupados por Israel. Ainda estamos no túnel sem luz ao fundo.

Quanto ao resto, tudo bem. Aqui no Brasil só há um problema a resolver: Romário ainda não foi convocado!

- Tirésias da Silva -


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20abril2002
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