Morte em Erfurt

Milla Kette  
colaboradora

Os mesmos jornais que tratam suicidas Palestinos como mártires, vítimas, mostram-se justamente horrorizados ante o brutal assassinato de 14 professores, 2 alunos e 1 policial na cidade de Erfurt, na Alemanha, por um jovem estudante de 19 anos que havia sido expulso da escola. Como no caso de Andrea Yates, creio que esse assassino terá invariavelmente muitos em sua defesa. O verdadeiro causador vai ser, provavelmente, isentado da responsabilidade e a mesma empurrada para as armas, o sistema, a sociedade, tudo, menos o indivíduo que perpetrou o crime. Dois pesos, duas medidas?

Os jovens suicidas Palestinos são treinados desde a tenra idade para essa missão. Sheikh Hasan Yusuf (Hamas) condensou o método de treinamento utilizado numa única frase: "Gostamos de começar sua iniciação ainda no jardim de infância, seguindo até a Universidade." Diferentemente do que a mídia em geral tem veiculado, suicidas como os que atacaram o WTC em Nova Iorque, vêm de famílias de classe média, e são, freqüentemente, estudantes universitários ou já diplomados. Ou seja, a decisão de tornar-se um suicida não partiu de uma situação de pobreza, opressão e/ou frustração, como a mídia insiste, mas encontra-se profundamente arraigada na cultura, que os eleva ao status de verdadeiros mártires.

O que têm em comum o jovem Alemão que matou inocentes e suicidou-se em seguida, com os jovens que acessam ônibus, restaurantes, supermercados, envoltos em explosivos? O estudante Alemão havia sido expulso da escola e, deduzo, supunha-se injustiçado, considerava-se uma vítima do sistema. Os Palestinos suicidas também consideram-se vítimas, oprimidos pela existência de Israel. Interessante observar que o massacre em Erfurt ocorreu horas após o Parlamento aprovar mais uma lei "regulando o já restritivo controle de armas no país" (O Globo on line); nos dois casos, quaisquer que sejam as leis existentes, não terão força para impedir mentes assassinas de obter os meios para executar seus planos. A pena de morte não fez Andrea Yates pensar duas vezes antes de friamente afogar um por um seus 5 filhos.

Assim como o estudante Alemão e a dona de casa Norte-americana, os Palestinos suicidas são desculpados e a acusação recai em terceiros – o primeiro, nas armas, a segunda na novíssima e conveniente "depressão pós-parto", e os últimos na existência de um Estado opressor. Seria então correto deduzir que a mídia procura postar-se ao lado dos "oprimidos"? Em que o estudante teria sido opresso? Não teria sido ele justamente expulso da escola, por razões que os administradores tiveram como legítimas? Por que, ao invés de sacrificar 5 crianças totalmente indefesas, Andrea Yates não deu fim à própria vida? Por que os Palestinos não apresentaram uma contraproposta ao Acordo de Oslo antes de enviar jovens para a vergonhosa missão de suicidar-se a fim de matar outros civis? Seriam esse três, casos de criaturas realmente oprimidas?

A imprensa não só não apóia causas justas, como incentiva as injustas. Mais leis restringindo o cidadão obediente às leis, de possuir armas, jamais impedirá os fora-da-lei de agirem. Assaltantes, suicidas, assassinos, não necessitam registros para utilizar-se de armas e bombas. A mídia presta um desserviço tanto ao desculpar terroristas suicidas, vinculando-os a opressão e sofrimento, como ao explicar casos como o do estudante Alemão e de Andrea Yates. Colocar a responsabilidade onde cabe e não desculpar desvarios, isso sim é informativo – pena que os jornais creiam que isso não vende...


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28abril2002
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