Um País em Pânico

Milla Kette (millakette@aol.com)
colaboradora

Há certos dias em que minha paciência quase se esgota quando leio o amontoado de sandices sobre os EUA e seu governo que alguns Brasileiros não cessam de escrever. Os ataques invariavelmente têm como base um inacreditável desconhecimento do que realmente está acontecendo aqui e do que move esse país. Relatam alguns que pânico apossou-se da população norte-americana desde os ataques terroristas e que alastra-se a cada nova suspeita de ataque desses covardes/fanáticos assassinos. Recentemente uma amiga (brasileira) de minha filha passou uns dias em New York e comentou como foi agradável a sensação de caminhar pelas ruas movimentadas da Big Apple de madrugada, na maior tranquilidade. Ela também esteve em Washington para a formatura da irmã e misturou-se às centenas de turistas que aproveitam a Primavera. Interessante, mas essas duas descrições me parecem, em absoluto, relacionadas a nada mais que normalidade... Será que as pessoas que escrevem esse tipo de absurdo compreendem a responsabilidade que têm em pesquisar fatos antes de passar a ação?

Já li protestos quando um diplomata Brasileiro foi obrigado a mostrar os sapatos num aeroporto Norte-americano mas não todo o grupo com quem viajava, o que foi considerado um ultraje de proporções imensuráveis pela autora do texto. Tanto no Galeão como no aeroporto em Atlanta (em 2001 e 2002), fui obrigada a tirar meus sapatos também; aproveito para protestar porque ninguém escreveu sobre essa grave ofensa que sofri! Infelizmente, parece-me que a escritora não compreende o real problema. Ari Fleisher, porta-voz da Casa Branca, sofreu o mesmo tratamento; porque um diplomata estrangeiro deveria ser tratado com mais condescendência, fica além da minha compreensão. O tal do politicamente correto que tomou conta do país durante os tristes anos da dupla Clinton-Clinton, desembocou num cul de sac: a segurança nos aeroportos só pode ser efetuada se aleatoriamente e "racial profiling" (visar viajantes de aparência/ascendência Árabe) em qualquer situação é sumariamente proibido e, infelizmente, aprovado pelo Secretário dos Transportes, Norman Mineta. O resultado prático de Mineta colocar sentimentos acima da razão, é que muita vovó de bengala é parada, apalpada, amplamente vasculhada (até a bengala), virada do avesso para que o mundo sinta-se bem. Enquanto isso, lá pelas Arábias, o pessoal planeja mais ataques e Árabes (talvez terroristas) circulam placidamente pelos aeroportos daqui! Ah, imagino que vou ser chamada de racista ou coisa que o valha, mas, c’est la vie!

Em diversos outros textos li ataques a Bush por levar adiante a guerra ao terrorismo, ou seja, desentocar todos os vermes e exterminá-los, em vez de encolher-se e borrar as botas, como a Alemanha fez na década de 70 (e toda a Europa continua fazendo). Confesso que muito raramente chego ao fim dos mesmos, pois que meu estômago tem se tornado muito sensível com o passar dos anos e a leitura de tais descalabros. Culpada que sou de não adentrar-me nos dédalos dessas acusações minotáuricas, defendo-me, usando como escudo a sabedoria popular que diz que para bom entendedor, meia palavra basta –e vox populi, vox Dei! As críticas são muitas e seria tedioso enumerá-las e expor seus erros. Mas a grande maioria dos textos têm um ponto em comum: todos criticam e nenhum dá qualquer solução –prática, realista e viável— para resolver o problema que abateu-se sobre os EUA! Criticam os EUA por defender-se, mas não apresentam outra saída para lidar com terroristas senão a caçada que está sendo empreendida. E seguem criticando, expondo pretensos erros, ciscos no olho alheio, sem dar-se conta do argueiro que trazem e os impede de ver claramente a crise cada vez maior na qual o Brasil afunda-se. Esses mesmos que dão palpites furados sobre a política alheia, reclamam, escabelam-se e acusam Bush até de disléxico, não mostram indignação alguma com as ações do MST, para citar um único exemplo. O Brasil à beira de tornar-se comunista e esse pessoal preocupando-se com problemas de além-mar? Repito, uma vez mais, o ditado tão atual e sábio que minha falecida avó costumava lançar: macaco, olha o teu rabo e deixa o rabo do vizinho!


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22junho2002
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