Disque E para Enron

Milla Kette (millakette@aol.com)
colaboradora

O escândalo Enron deu vida nova a um conceito muito popular entre membros do Partido Democrata, de que é necessário criar mais leis e regular mais o mundo dos negócios. Não bastam as leis que já existem e, bem ou mal, têm funcionado (de outro modo, teríamos dezenas de Enrons todo mês). É como acreditar que mais leis impedirão estupros, seqüestros, crimes! Os US está chegando ao auge do absurdo da transferência de responsabilidade para terceiros - haja visto o processo contra McDonalds, KFC e Burger King, que está sendo arquitetado por obesos - e esse é, num sentido, um bom exemplo dessa histeria coletiva, que é incentivada pelos políticos Liberais (1). Explico-me: a vitimização transforma o cidadão em vítima que necessita ser salva, sendo o salvador o Estado.

O Congresso norte-americano continua investigando o caso Enron (2). Mas me incomoda que um sistema político, que não dá satisfação a ninguém do que faz com o dinheiro do povo, acha-se com total direito de julgar erros alheios. Por exemplo: em 1998 o General Accounting Office apresentou pela primeira vez um balanço de seus gastos; descobriu-se que mais de U$100 milhões em transações haviam sido erroneamente computados e outros milhões em equipamentos não foram encontrados. É pueril crer que um organismo que não consegue gerir-se a si mesmo, tenha condições de, não só singularizar os erros de empresas privadas, mas apresentar soluções para que futuros problemas não ocorram! Afinal, é o governo o responsável pelo estado desesperador em que se encontra o sistema de aposentadoria nacional, do qual ninguém sabe dizer exatamente a quanto - e se! -  monta!

Muitos políticos envolvidos nos comitês que estão estudando o caso Enron, receberam dinheiro para suas campanhas da mesma. Apesar dos Democratas mostrarem indignação porque o Good Old Party (3) recebeu contribuições da empresa, até Joe Lieberman (Senador Democrata e chefe do Senate Governmental Affairs Committee, que presencia audiências envolvendo o caso Enron) recebeu U$2.000! A representante do Texas - Sheila Jackson - aceitou U$38.000 (sete vezes mais que o Republicano Dick Armey, lider do Congresso). O Senador novaiorquino, Charles Schumer, recebeu U$12.933 (dez vezes mais que o lider minoritário do Senado, o Republicano Trent Lott). E os grandemente vocais, Liberais (1) de extrema Esquerda, Ted Kennedy, Hillary Clinton e Tom Harkin, também aceitaram doações.

Afirmam alguns que essa avalanche de mau-caratismo empresarial teve início nos anos Clinton. Dennis Prager (radialista e especialista na Torah), apontou a diferença entre uma sociedade onde alguns comportam-se de forma imoral e aquela na qual o imoral muda as regras com o fito de tornar seu comportamento aceitável. Nunca li melhor definição do ex-presidente! Não que eu acredite que se pode facilmente influenciar alguém a fazer o que não quer, mas um período onde a moral e os costumes foram espezinhados pelo cidadão que ocupava o cargo mais alto da nação, naturalmente deixou cicatrizes. Uma delas chama-se Enron. A primeira coisa que o Partido Democrata tentou fazer quando o problema foi descoberto, foi afirmar que a administração Bush estava envolvida com a empresa. Consta no "Admirável Mundo Novo" que 62.400 repetições fazem uma verdade... Enron participou de reuniões a portas fechadas na Casa Branca, sim. O que se omitiu foi que, Bush estava alinhavando um plano referente a energia elétrica, o que o levou a consultar empresas privadas e grupos defensores do meio ambiente. Essa informação faz toda a diferença e, por isso mesmo, foi deixada de lado, pois, com ela, não haveria como denegrir a imagem do atual presidente.

De acordo com Byron York (4), "executivos da Enron acompanharam oficiais do Departamento de Comércio Clinton em missões que resultaram em acordos lucrativos para" a empresa. "O próprio Bill Clinton empurrou um projeto da Enron para a Índia, bem como seu auxiliar, Mack McLarty (que mais tarde acabou na folha de pagamento da Enron)." A empresa participou ativamente do Tratado de Kyoto com Clinton e Algore –"um favorito Enron, porque teria sobrecarregado de obrigações suas competidoras." Enron doou muito ao Comitê do Partido Democrata nesse mesmo período. Tentar fazer parecer com que Bush e políticos do GOP agiram mal por aceitar contribuições da empresa, vai desnudar uma imagem pior de Clinton e seu partido!

Enquanto o Partido Democrata e seus asseclas acusavam Bush de "estar na cama com Enron" (o que eles dizem de todos os Republicanos), escabelavam-se de indignação, porque ele não fez nada para salvar a empresa... Duas ações exclusivas não podem habitar a mesma decisão, assim como dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço - trocando em miúdos: inteligência e Democrata, são oxímoros! Sim, houve telefonemas da Enron para a Casa Branca e o Tesouro, pedindo uma garantia a fim de manter o nariz da empresa acima da água, mas não deram resultado - e a prova está em que a empresa foi à falência. No entanto, um desses telefonemas nunca foi comentado - o de Robert Rubin para Peter Fisher, subsecretário do Tesouro. Rubin, foi secretário do Tesouro no governo Clinton (95/99), é hoje diretor do Citigroup (um conglomerado financeiro que concedeu empréstimos a Enron), e é quase tão respeitado internacionalmente quanto Greenspan. Quando Ken Lay telefonou para O’Neil, limitou-se a pedir uma garantia ou alguma forma de financiamento do governo norte-americano. Diferente daquele, Rubin pediu ao subsecretário que esse telefonasse às agências de avaliação de riscos a fim de que elas encontrassem uma "alternativa" para a evitar a desvalorização (que seria prejudicial ao Citigroup) dos títulos da Enron!

Nenhuma lei poderia ter impedido Enron de acontecer. O próprio projeto de lei aprovado, a famosa "reforma" McCain-Feingold para o financiamento de campanhas políticas, que passou graças ao escândalo, não o teria impedido! A lei teria permitido aos executivos da Enron, por exemplo, doar mais dinheiro à campanhas políticas! Outro exemplo? Entre outros absurdos, essa lei dificulta aos cidadãos que votam fazer propaganda, delatando algum candidato. O resultado prático desse tipo de lei (que, infelizmente, Bush assinou), não beneficia em absoluto o cidadão (que paga o salário dos políticos que delinearam a mesma!), mas tem mais controle sobre como ele decide usar seu dinheiro! Claro está que políticos não devem ser envolvidos nesse tipo de investigação, pois misturam-se os interesses.

Segundo James Higgins do Cleremont Institute (5), as falcatruas da empresa não se originaram nos anos 80 (como o pessoal à esquerda prefere crer), mas no início do período clintonista. As peripécias seriam o efeito do parecer EITF 90-15 - Emerging Issues Task Force do Financial Accounting Standards Board, o Conselho Financeiro, que faz as regras financeiras. Higgins afirma que esse parecer facilitava às corporações a retirada de empresas tais que Enron de seus livros, desde que estranhos cooperassem com apenas 3% do capital da entidade; os restantes 97% poderiam vir da empresa mãe. "Mas essa regra dos 3% minou o princípio básico do relatório financeiro americano: consolidação, a noção do que basicamente te pertence - normalmente algo do qual possuis mais de 50% - deve aparecer na tua folha de balanço." Complica-se, assim, o definir o que vai na folha de balanço de quem. Resultado: a criação de lucros imaginários e a omissão de perdas genuínas.

O que me incomoda - e muito - nessa barafunda toda, é a reação dos funcionários da empresa e que foi exposta apenas pela colunista Ann Coulter (6). Eles indignaram-se, porque Ken Lay não anunciou publicamente que as ações iam despencar - pelo que teria sido processado pelos acionistas! Ou seja, não estavam preocupados porque Enron estava fazendo algo ilegal, mas simplesmente, porque não faziam parte do esquema! Esses funcionários foram vítimas de sua própria escolha (eles poderiam ter investido em outra empresa). Eles não teriam o menor problema em, de posse de informações importantes, não só mantê-las em segredo, como aproveitar-se das mesmas para liquidar as ações que compraram por livre e espontânea vontade, conscientemente prejudicando quem as possuía e não era da empresa!

Estima-se que 62% das pensões desses empregados estava em ações da Enron, mas eles não eram obrigados a adquiri-las. Os funcionários públicos na Flórida, devido a um sistema antigo de pensões, perderam dinheiro sem nem mesmo terem escolhido onde aplicá-lo! Nesse plano - 401 (k) - a empresa colocava U$1 para cada U$2 do empregado, e o mesmo ficava obrigado a manter as ações até completar 50 anos. Assumindo que um funcionário não tenha adquirido ações por si mesmo, mas através desse plano, apenas dois terços do total teriam sido adquiridos pelo dito funcionário. As contas foram congeladas em outubro de 2001 (decisão tomada em fevereiro), porque seriam administradas por uma empresa de fora; os funcionários foram alertados para isso em duas ocasiões. As ações estavam caindo sistematicamente. Os empregados tiveram tempo suficiente para vendê-las, mas é mais fácil acusar terceiros, do que admitir a própria responsabilidades por atos mal pensados.

(1) Ao contrário do Brasil, aqui, como na Europa, Liberais são os políticos da Esquerda.
(2) http://financialservices.house.gov/search.asp
(3) GOP: Partido Republicano, cujo símbolo é um elefante; o símbolo do Partido Democrata é um... burro.
(4) "The Enron Trap", National Review, February 22, 2002, página 31.
(5) "The Real Decade of Greed", The Weekly Standard, July 15, 2002, página 27. Higgins é membro do Cleremont Institute for the Study of Statesmanship and Political Philosophy.
(6) A advogada Ann Coulter lançou recentemente um livro que vem complementar Bias: "Slander", que trata das distorções que a mídia (maioria de Esquerda) aplica a notícias e comentários.


envie este artigo a um amigo

envie agora seu comentário sobre este artigo

veja outros artigos da seção extra

homepage Polemikos

08setembro2002
Copyright © [Polemikos]. Todos os direitos reservados.