ÉTICA NA POLÍTICA

Percival Puggina (www.puggina.org)
colaborador

A ética envolve um impulso para o Bem. É o bem que se deve procurar, é o mal que se deve evitar, é o bem que deve estar presente na finalidade de todas as ações humanas, é o bem não pode estar ausente dos meios utilizados para atingir tais fins, e assim por diante. Na política, o bem recebe o nome de bem comum. É para ele que devem convergir as ações de todos os participantes do jogo político. Aqui, um primeiro grande esquecimento: para que haja ética na política é necessário que haja ética no eleitor, no político e nos partidos políticos. Seria ingenuidade imaginar que conseguiremos a ética como produto adquirido para uso específico no segmento da elite detentora de mandatos e presente nos quadros de governo e administração.

Não teremos grandes avanços enquanto parte expressiva, senão a maioria do eleitorado votar buscando o bem próprio através de representação corporativa, com o olho num emprego ou bolsa de estudo, ou ainda movido por sentimentos menores como o ódio ou o ressentimento. Se o eleitor vota assim, como esperar que a pessoa por ele escolhida vá se conduzir de modo diferente? Se o eleitor busca o próprio bem, como reprovar o político eleito quando este o deixa de lado e vai cuidar de seus próprios interesses? Qual a diferença moral entre a atitude de um e de outro? Quem vende voto por camiseta faz algo melhor do que o parlamentar que vende voto por alguma vantagem pessoal?

Por outro lado, os mais comuns deslizes éticos entre os políticos não estão relacionados com ilícitos penais. Bem mais freqüentes, e raramente reprovados, são os comportamentos daqueles que se elegem dizendo que vão fazer o que depois não fazem, ou vice-versa, que sacrificam convicção pessoal, que disputam posições para as quais se sabem despreparados, que são inoperantes, omissos ou ausentes, que negociam contra o bem comum, que não querem a paz e não a constróem, e que vendem suas convicções aos marqueteiros em troca de votos.

A sonora questão da fidelidade partidária não é diferente. A fidelidade dos eleitos aos partidos pelos quais concorreram é parte da questão da fidelidade, que também envolve a fidelidade do partido ao seu programa e aos compromissos de campanha, fidelidade do partido ao seu filiado, eleitor e militante, fidelidade do partido ao bem comum. Numa perspectiva ética, interessa muito mais que os partidos escolham sempre os melhores, tornem conhecidos seus programas e a eles sejam fiéis, busquem o bem comum acima e antes do bem partidário, sejam tão rigorosos com o erro do companheiro quanto o são com o erro do adversário e não lavem as mãos perante os equívocos, deslizes ou delitos cometidos por aqueles que apresentaram ao eleitorado e para os quais pediram votos.

Não devemos esquecer, por fim, que a parte principal da responsabilidade moral não reside em evitar o mal mas deve, principalmente, cuidar para que o bem seja feito. O agente político que não proceda assim é mero atravessador.

Percival Puggina é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.


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29setembro2002
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