O Prazer dos Clássicos

Bruno Garcia Andrade
colaborador

O Brasil, inegavelmente, sempre foi um berço de escritores geniais. Dele surgiram maravilhas como o criador da Academia Brasileira de Letras, Joaquim Maria Machado de Assis. Ou então, a rainha do regionalismo nordestino, Rachel de Queirós. Que, aliás, está relançando sua primeira e considerada maior obra, "O Quinze", pela editora ARX. Ou ainda, Lima Barreto, Eça de Queirós, Qorpo Santo. Enfim, tantos, que seria necessário uma página inteira para descrever todos os seus nomes. Talvez uma página ainda seja pouco; duas talvez. É melhor parar por aqui mesmo...

O gozo de ler, ou reler, estes esplêndidos autores é sempre indescritível. Ou seja, ao readquirirmos quaisquer exemplares desta interminável safra de gênios, a satisfação pode ser descrita inexoravelmente como: "garantida". De modo que, a cada nova leitura, a compreensão é sempre mais reveladora que na anterior. Como, se num passe de mágica, os acontecimentos fossem sendo desvendados. E, num jogo translúcido, chegamos assim, cada vez mais perto do objetivo real que o autor teve ao elaborar o texto original.

Muito tem sido questionado o valor dos clássicos. Na verdade, acima de qualquer opinião emitida, tanto a minha, quanto outra que o seja; o que deve ser levado em conta, é que eles estão acima do bem e do mal. Eles, sobretudo, devem estar acima do bem e do mal, como templos sagrados da cultura. Pois, estes livros, retratam, todos eles, um pedaço de nossa história, bem como as origens e comportamentos do povo brasileiro antigo. E isto, todo povo que se preze, principalmente o nosso, deve resguardar como um tesouro inestimável, que realmente o são.

Italo Calvino, em seu livro "Por que ler os clássicos?" disseca esta questão a fundo. Com a experiência de alguém que já navegou em muitos mares, ele questiona a conjuntura atual dos clássicos perante a sociedade contemporânea. E deixa bem claro sua preferência, lógica, pelos velhos, todavia não desatualizados livros da antiga geração literária.

Uma questão a ser analisada, e o que parece ser o principal entrave para os jovens na literatura dos grandes clássicos, é a linguagem contida neles. Alguns escritores por mim citados acima tornaram-se leitura obrigatória pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura do Brasil), o que proporciona ao aluno, uma aproximação desde jovem com os grandes mestres da literatura. Porém, deve ser analisado uma forma de aproximar-se o mais perto possível de uma linguagem coloquial, da qual todos os novos leitores possam degustá-la de modo completo, sem precisar correr incessantemente ao nosso amigo dicionário para sanar inumeráveis dúvidas de palavras, o que acaba tirando o prazer da narrativa.

É bem verdade, que nossa linguagem ao longo dos anos empobreceu muitíssimo. O que era coloquial há cem anos atrás, tornou-se inviavelmente complexo hoje. Isto, está intimamente ligado ao próprio desenvolver dos meios de comunicação, todavia, é uma realidade inegável. Por outro lado, todas são palavras. Isto é, fazem parte de nosso vocabulário, e já que existem, devem ser utilizadas o máximo de vezes possíveis. Assim sendo, temos um paradoxo literário. Em uma face da moeda, estão os intelectuais, que defendem o mantimento do linguajar prolixo. Na outra, os inexperientes jovens, que buscam um dia tornar-se como os grandes mestres, contudo são apenas jovens, não possuindo um vocabulário grandioso, o que lhe faz repelir, por vezes, aos clássicos; apelando assim, para um tipo de literatura mais fácil, de linguajar mais simples; como os de Harry Potter, por exemplo.

Está ocorrendo, deste modo, uma falta de comunicação; uma discrepância entre concordâncias, que poderiam, e podem, ser sanadas de modo exclusivamente simples; bastando, para tanto, abertura de uma das partes. No entanto, teria de ser resolvida uma grande questão: a de se vale a pena abrir mão de uma linguagem intelectual em busca da popularização dos livros.

A idéia de ter a ideologia dos grandes mestres integralmente compreendida por nossa juventude é realmente tentadora. Pois vontade há da grande maioria juvenil, mas barram na dificuldade. Mas, vale a pena um grande conselho: enquanto não decidem pela facilitação da linguagem literária, não deixe de ler os fantásticos clássicos brasileiros. Pois, saber que mestres como Rachel de Queirós e José de Alencar, por exemplo, estão há poucos instantes de distância, quer dizer, de leitura, é inacreditável. Ademais, por eles, qualquer esforço tornar-se invisível.


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09fevereiro2003
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