Mentira é algo que me irrita, mas quando um site como Mídia Independente (1) inventa, adapta, distorce fatos, censura textos, é até engraçado. Esse pessoal, a meu ver, é irresponsável, e apenas atinge alguns desavisados e lunáticos que procuram pano pra manga, lenha pra alimentar o fogo da frustração que sentem pelo Brasil não ser a potência econômica que os EUA são.

Mas quando a Folha de São Paulo publica um texto como o de Márcio Aith, de 16 de fevereiro, Marchas são "escondidas" pela mídia americana (2), a irresponsabilidade transforma-se em ataque muito mais eficaz, posto que tremendamente mais abrangente. Mas acima da revolta natural que senti pelo total desrespeito à verdade que a Folha exemplificou ao publicar esse artigo do representante em DC, está a obrigação que tenho de expô-los.

A nonchalance com que Márcio Aith distorce os fatos, rivaliza apenas à calma demonstrada pela Folha ao publicar tal absurdo. Ele crê que "[s]e dependesse das redes americanas de TV, os protestos antiguerra de ontem não teriam passado de fatos isolados." Não perderei tempo contrapondo esse absurdo. Quem tiver interesse, procure essas emissoras na Internet e cheque o pouco interesse que demonstraram pelas manifestações naquele dia. Indicativo de como a mídia brasileira usa da censura, é a revolta de Aith quando afirma que "os canais a cabo especializados em notícias (CNN, Fox News, MSNBC e CNBC) demoraram para exibir imagens das manifestações em Nova York e na Europa" e "sempre que o faziam, traziam […] depoimentos de convidados que criticavam o movimento pacifista." Que idéia tão nova para a mídia brasileira: mostrar ao telespectador dois ângulos diferentes! Márcio Aith apenas esqueceu de mencionar quantas horas assistiu dos canais mencionados…

Segundo ele, Fox News é "mais simpática a Bush", no entanto, em momento algum ele explica que as outras emissoras mencionadas são, como direi, muito menos simpáticas. Ele menciona pesquisas feitas pela Fox, mas não cita a que concluiu: "De acordo com a última pesquisa de opinião da Fox News, conduzida pela Opinion Dynamics Corporation, 2/3 dos americanos (67%) apoiam os EUA numa ação militar contra o Iraque –o mesmo índice de apoio do presidente durante seu discurso no State of the Union. Entre os "falcões", esse apoio sobe para 83% e mesmo entre as "pombas" a maioria apoia a retirada de Saddam (52%)." (3)

Aith pareceu surpreso que a segurança na marcha que ocorreu em New York foi alta: "o FBI infiltrou agentes disfarçados de manifestantes, colocou atiradores de elite no topo de prédios e, pela primeira vez num ato popular como o de ontem, utilizou equipamentos para detectar a presença de material radioativo." Uau! Isso, apesar dele mesmo reconhecer "a ameaça de um novo ataque terrorista em solo americano"! A qualquer pessoa com um mínimo bom-senso, essas medidas se apresentariam como óbvias na cidade onde al-Qaeda vitimou quase 3.000 civis inocentes, mas não para o Sr. Márcio Aith!

Se mentiras, interpretações ou invenções são veiculadas por CNN, MSNBC, CBS, ABC, AP, UPI, New York Times, Washington Post, o que seja, o americano tem a oportunidade de assistir Fox News ou ler qualquer um dos jornais e web sites de Direita que estão disponíveis (grande parte da população tem acesso à Internet), a fim de formar opinião. Que jornais ou emissoras de televisão no Brasil dão a chance ao leitor desavisado de comparar uma outra visão?! Assim, os inocentes úteis formam-se à mancheias no Brasil… Mas será que esses mesmos inocentes úteis não vêem as bandeiras vermelhas, os martelos, as foices, que pululam nas marchas pela paz? Isso se explica com uma única palavra: alienação.

"A versão da CNN transmitida somente nos EUA dedicou às manifestações o mesmo espaço que deu ao fato de o ministro das relações exteriores do Iraque, Tareq Aziz, ter se negado a responder a uma pergunta de um jornalista israelense durante coletiva na Itália." Sem deter-me no fato desse espaço não ter sido cronometrado pelo autor, o prefeito de Roma, Walter Veltroni, cancelou o encontro com Aziz por causa dessa recusa, o que explicou em carta enviada ao Ministro e à Reuters (4). Claro, essa era uma pergunta sem importância – para o Iraque! O representante do jornal israelense Maariv, perguntou se, em caso de guerra, o Iraque atacaria Israel, ao que Aziz respondeu: "Quando eu vim para esta entrevista coletiva, não estava em minha agenda responder perguntas da mídia israelense." Para bom entendedor, meia palavra basta…

Quanto à CNN Internacional e à Americana, passamos –meu marido e eu— o dia todo assistindo as notícias, indo de Fox News para CNN; sempre que passávamos para CNN, estavam mostrando as passeatas. Eu cria que um jornal que se pretende sério, ao menos checaria os fatos antes de colocar na Internet um ataque tão tendencioso e mentiroso.

Não, meu caro Márcio Aith, esses não são fatos isolados, onde grupos de cidadãos parcamente informados e organizados tomam as ruas para protestar contra a guerra. É muito mais que isso! Os grupos organizadores dessas demonstrações estão altamente envolvidos em ideologias de extrema Esquerda (ver o texto Anti-War? Antes Fosse!) e sabem exatamente a que vieram! Essa é uma queda de braço entre os grupos comunistas e socialistas e a Direita! Os EUA representam para eles o foco de resistência capitalista-democrática que, se eliminado, daria início à utopia que eles acalentam. A queda da União das Repúblicas Soviéticas, como muitos insistem, não enterrou o comunismo, mas apenas provou que ele simplesmente não funciona na prática e, se implantado, ceifa vidas, destrói economias, amordaça seres humanos. Os cidadãos desinformados são de utilidade suprema para esses grupos, pois emprestam legitimidade ao que, sem eles, teria um perfil assustador: o de legitimização de todo regime sangüinário e brutal no mundo! Mas Aith, os "pacifistas", os grupos de Esquerda sabem perfeitamente que apenas países democráticos lhes darão a chance de manifestar-se contrariamente ao governo. No entanto, são os países totalitários como o Iraque que distorcem as notícias que os jornais publicam…