Internet de graça?

Estamos o tempo todo expostos a uma avalanche de propaganda. Cada meio de comunicação, seja TV, rádio, jornal, nos bombardeia com anúncios usando os recursos particulares de cada tipo de mídia. Com a Internet não poderia ser diferente. Sendo um canal de comunicação relativamente novo, a tecnologia vem evoluindo muito rápido, mais rápido do que a capacidade do mercado de tirar proveito desse poderoso instrumento de propagação de informação. Assim, de maneira lenta, assistimos a evolução de políticas de preços e estratégias de propaganda na rede. Por exemplo, recentemente, a America Online decidiu não cobrar mensalidade pelo acesso dos internautas ingleses. Por que? Por que uma empresa inglesa, a Freeserve, disponibilizou o acesso gratuito para os súditos da rainha. A Freeserve não é uma empresa suicida. Ela, simplesmente, identificou que pode ganhar em publicidade o que abre mão de cobrar dos assinantes.

Outros exemplos do valor de um contato com um cliente pipocam nas engenhosas soluções que o mercado está arquitetando para capturar a atenção do possível "freguês". Um americano, por exemplo, fez as contas e concluiu que o preço de um micro está muito baixo, está tão baixo que ficou mais barato do que ele estaria disposto a pagar para que as pessoas vissem seus anúncios. Não hesitou. Lançou um plano em que ele distribui gratuitamente cerca de 5.000 micros para acesso a rede, com a pequena e singela condição: o usuário que usar o micro tem uma parte da tela permanentemente reservada para a apresentação de publicidade. Notem que este tipo de relacionamento com os clientes introduz outras possibilidades, tais como, em troca do micro, obter informações precisas sobre os hábitos de consumo dos clientes.

Os rapazes da empresa AllAdvantage tiveram outra abordagem. Eles se oferecem a pagar US$ 20 por mês para que você aceite ficar vendo mensagens publicitárias no seu browser enquanto navega na Internet. Brilhante solução! Eles recebem dos anunciantes, tiram o lucro deles e pagam para você ver o anúncio. E não precisam de nenhum investimento no hardware!

A última idéia é mais elaborada ainda. Vocês já devem ter recebido as mensagens com o título "com apenas um clique você salva uma criança!". A frase é um pouco exagerada. A idéia do criador do site foi apenas dividir com a caridade o dinheiro que obtém vendendo a atenção dos clientes para os anúncios das empresas. O apelo ao internauta para que ele, sem esforço, doe dinheiro para uma instituição de ajuda às crianças, esconde a verdade de que, com a atitude de prestar atenção a propaganda de uma empresa, ele está "pagando" pela doação. Cada vez que você acessa este site, você está destinando o preço da sua atenção, alguns centavos de dólar, para caridade em geral e alguns outros centavos para o criador do site. A esperteza não tem limites!

O fenômeno da identificação do valor do tempo que um cliente dedica para ver a informação (anúncio) que um empresa disponibiliza na Web é mais uma faceta das modificações que a Internet está trazendo para o mundo dos negócios. Um provável desdobramento dessa estratégia de propaganda é que os custos de provedores da rede tendam a zero, negociados em troca da atenção do usuário para os anúncios que lhe sejam mostrados. As coisas vão se passar de maneira semelhante ao que acontece com as televisões públicas, cuja recepção é gratuita. Quem desejar serviços mais limpos de publicidade e com melhor qualidade, vai pagar para isso, nos moldes do que hoje acontece nas TV por assinatura. Como o futuro anda chegando muito rápido, logo logo vamos ver como estas coisas vão ficar. Aguardemos!

- Ernesto Friedman -


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29julho1999
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