Internet e empregos

A Internet está mudando rapidamente a maneira de fazer negócios. A mídia costuma generalizar que a Internet muda tudo. Talvez. Mas algumas coisas ela vai mudar primeiro. A "distância zero", criada pela Internet na aproximação entre cliente e produto, está gerando ansiedade nos profissionais que trabalham em atividades de intermediação. Se você é vendedor e não agrega nada ao processo da venda que não seja receber o pedido, ou encomendar o produto ou serviço, ou preencher documentos, você certamente terá problemas com seu emprego no futuro. Seu posto de trabalho pode, por exemplo, desaparecer. Emocionante, não?

Nesta classe de profissionais de alto risco encontram-se os corretores em geral. Corretores de imóveis, seguros, ações, eles de pouco vão servir num cenário onde este tipo de serviço poderá ser bem atendido através da Internet. Agentes de viagem também. Se não descobrirem algum jeito de acrescentar alguma vantagem à sua participação no processo de compra de pacotes turísticos, escolher itinerários, fazer reservas e emitir bilhetes, vão ter seu mercado de trabalho bastante reduzido mais adiante.

A grande rede interfere sobre os negócios, remoldando a maneira de fazer as coisas ou, como gostam alguns, reengenheirando. Mas, um fator comum do aperfeiçoamento dos processos é sempre a redução de pessoal. A Internet possui aplicações que são inteiramente novas. Hoje, você pode entrar num chat e ficar conversando com outras pessoas de uma maneira inimaginável uma década atrás. Mas, quando a Internet entra em algum negócio que já existia, é para deslocar a mão-de-obra "desnecessária". A onipresente Amazon.com está vendendo de tudo pela rede. Pode ter aumentado o número de empregados da Federal Express para atender o aumento de pacotes indo de um lado para outro dentro dos EUA. Mas, o número de pessoas vendendo livros ou CDs deve estar diminuindo. Eu acho.

A Business Week relatou recentemente o caso da empresa Webvan, criada, entre outros sócios, pela Yahoo. A proposta da empresa é criar uma solução realmente nova para que as compras que se faz hoje no supermercado sejam feitas diretamente pela Internet. A idéia é ocupar o espaço que hoje é atendido insatisfatoriamente (segundo os idealizadores da Webwan) por soluções adaptadas pelas grandes cadeias de supermercado. Na Webvan o negócio foi completamente redesenhado. O software necessário foi desenvolvido do zero por uma equipe de 80 programadores. A sofisticada logística foi toda planejada para rotear pequenos caminhões através da cidade entregando os pedidos com precisão dentro de janelas de tempo de 30 minutos. Um primor de projeto.

Mas, quando você vê a avaliação financeira do empreendimento, chama atenção que a proposta da Webvan é reduzir o custo das instalações para 1/6 do que gasta uma rede de supermercados comum. Ou seja, o custo com tijolos diminui muito. Então, o grande fator de redução de custos é citado rapidamente: a mão-de-obra vai cair para a metade. Perfeito. Com 50% de abatimento no custo de pessoal, este novo negócio tem grandes chances de ser competitivo. Isto nos EUA é excelente. O americano neurótico fica satisfeito por que não precisa mais sair de casa para fazer sua feira, ser obrigado a ver pessoas e tratar com os caixas latinos que, para receber US$4/hora, embrulham e recebem o dinheiro das compras. Estes vão ficar desempregadosmas logo serão absorvidos pela efervescente economia americana.

O que sempre me intriga é que estas soluções, de um jeito ou de outro, vão vir parar aqui, no Brasil. E onde vão parar os desempregados dos nossos mercados. Latinos eles já são. Mas onde vão encontrar outros empregos para ganhar os tais US$4/hora ? A propósito, o caixa de supermercado brasileiro ganha cerca de US$1/hora.

Desculpem-me. Eu pretendia falar das soluções usando Internet. Ha ... estas soluções são ótimas! Pronto, já falei. Acabou.

- Ernesto Friedman -


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30agosto1999
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