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em 06maio2002
O que há pra se fazer com o dinheiro? Ora, gastá-lo, dirá um displicente abastado. Entretanto, nós, a grande maioria, que não podemos ser perdulários pela simples ausência de numerário, quando sobra algum, buscamos investimentos que possam nos render alguns trocados para o futuro. Perseveramos na busca de segurança no tempo que há de vir. Pois é fato que todo cuidado é pouco! Porém, tão pouco, que não adianta muito tão zelosa precaução. De repente, o vento sopra ruim e nossa poupança vai embora num vendaval. Vocês viram? Assim aconteceu agora com nossos irmanos argentinos. Quem pode dizer que não seremos eles amanhã? Mas, essa ladainha que impinjo a vocês sobre o gastar ou não gastar é apenas subterfúgio para apresentar a tese de que, de quando em vez, devemos cometer uma ousadia. Afinal, a vida segue, e se não seguimos a tal senhora, ficamos pelo caminho e perdemos o barco. Estejam convencidos de que cometer rara extravagância não merece culpa. Como exemplo prático, narro minha experiência bem sucedida com um dos templos da gastronomia no Brasil: o restaurante Le Saint Honoré, no hotel Le Méridien Copacabana.
Se você não sabe onde é o Méridien, pode parar por aqui. Você está perdido e não será agora, pelas minhas mãos, que achará o caminho dos prazeres. O Saint Honoré é no 37o andar do hotel Méridien, que desde muito é um monumento encravado na Princesinha do Mar. O salão do restaurante é amplo, com cadeiras largas e confortáveis para acalentar traseiros opulentos, mesas espaçosas e românticas velas iluminando nosso apetite noturno. O visual do colar de pérolas da Av. Atlântica lá embaixo é um deslumbre! Você percebe que atingiu o Olimpo carioca. O ambiente se completa com um piano em repertório clássico, executando grandes temas do cinema, Tom Jobim e outras variantes. Tem o Fantasma da Ópera e The Sound of Music! Parece brega, mas a música de fundo combina com o ar conservador do Saint Honoré. Tudo é equilíbrio.
O maître lhe atende com a combinação de deferência e fleuma de quem está habituado aos reis e poderosos. Como é para ser em lugares sérios, o cardápio de minha acompanhante na aventura nem traz os preços. Ora, por que perturbar as damas com detalhes monetários? Estão eles certos. Afinado com o espírito de uma primeira excursão, optei pelo menu degustação. Para beber, concentrei minha atenção em um Baron de Rotschild, nome de família valioso, cujo sabor, conforme comprovamos, não nos faltou.
A cerimônia começa e os pratos se seguem com a naturalidade das coisas boas. Um pequeno e saboroso pedaço de cherne temperado para abrir o paladar, seguido de atum com guacamole que ficarão na memória das minhas papilas. Depois, cenouras e outros vegetais cozidos para atingir a necessária neutralidade que realça o lagostim. O intervalo é ditado por frappé de maracujá que nos prepara as gustativas para o próximo prato: uma picanha com pequenas poções de abóbora, tudo sutileza ao paladar. A sobremesa combina chocolate com calda de goiaba ou cassis. Fiquei sem conseguir identificar, enfim, mas estava delicioso. Para encerrar, pequeno creme brûlet acompanha o café expresso. Satisfação geral. Nenhum enfado, apenas o prazer bem exercido. O atual jovem chef, discípulo do mestre Bocuse, vem à mesa trocar algumas palavras sobre sua obra. É de bom tom se buscar alguns adjetivos em francês para elogiá-lo. Treinem em casa.
Enfim, a avaliação final é de que a promenade ao Saint Honoré é plenamente recompensada. Como tudo tem seu preço, o de uma casa desse nível é marcante. Um casal deve saber que gastará cerca de US$150 em um jantar. Mas, se dispuser de recursos e não quiser deixar a vida passar, esse ponto alto da gastronomia carioca e brasileira é bom investimento. Recomendo a ousadia.
- Gustavo Gluto -
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