Gero
Rua Aníbal de Mendonça, 157. Ipanema. tel. 2239-8158 ver mapa

- gustavo gluto -

em 26setembro2004

Cheguei lá! Depois de muito hesitar, perpetrei uma visita a este templo da gastronomia carioca. Sua fama como restaurante se iguala à referência como ponto onde os ricos e famosos se encontram para a solenidade de comer e beber e verem e serem vistos. Como não sou um abastado, optei por estrear no almoço, pois os preços são mais em conta. Escolhi a primeira sexta-feira da primavera, um belo dia de sol no Rio. Alguma emoção me tomou à entrada. Já tinha passado em frente à porta em outra ocasião, logo depois da inauguração. Acenaram com uma hora de espera que, apesar da curiosidade que nutria pelo lugar, me despachou célere para outros cantos. Desta vez fui direto, deixei o carro com o manobrista e adentrei o salão. De cara, a decoração me impressionou. É de decorador famoso, que propaga o estilo do Fasano de São Paulo. O uso de belas janelas estreitas permite que a luz de uma tarde ensolarada de Ipanema nos chegue em boa dosagem, para o conforto da vista. Vendo o estado em que estão hoje as paredes dá para antecipar que quando a obra acabar vai ficar tudo muito chique. É que ainda falta o acabamento. Provavelmente, na pressa de abrir esta filial carioca, a casa começou a funcionar com as paredes cruas, com os tijolos à mostra. Depois, o negócio engrenou e não tiveram tempo para terminar. Por mim, podem deixar como está. Ficou simpático e chega a parecer intencional. Fotos do Rio - grandes-angulares num preto e branco que me remeteu a Ansel Adams - completam bem o ambiente. Um balcão com bancos estofados (para proteger as nádegas dos especiais enquanto esperam uma mesa) domina o salão e é o melhor lugar para você ficar se deseja aparecer. Enfim, no Gero, esperar é uma prática luxuosa! Cheguei lá!

Tomei uma mesa bem localizada e, enquanto saboreava a berinjela frita servida de entrada, me dediquei ao exercício de ver os tais famosos. A casa enche depois de uma hora da tarde. Os famosos não se fizeram de rogados e chegaram com presteza. Os literalmente afortunados estavam representados por Ronaldo Cezar Coelho (cuja declaração de renda para o TRE registrou algo como 200 milhões de dólares) e, vejam só, o Boni, que declarou à Veja que acha que consegue viver razoavelmente com cerca de 300 mil reais por mês. Minha fascinação pelos numerários aumentava a pulsação. Meu nervoso combinado com abobrinha frita devem ter sido os responsáveis pelo leve enjôo que me acometeu no final do dia. Mas, naquele momento, era só emoção. A presença do ex-diretor da Rede Globo, famoso pelo seu conhecimento de vinhos e pela sua coleção destes, e do enólogo Renato Machado me inibiram a enveredar pela carta do nobre líquido. Reconheço que os preços um tanto frutados do Gero também contribuíram para minha decisão de derivar pelas caipivodcas. A clássica de limão estava apenas mediana. A de morango agradou. Além dos ricos, alguns globais menos votados circulavam entre os desconhecidos, todos impressionantes na desenvoltura em exibir o fair-play dos bons de bolso. Aquela amostra de alta extração me ensinou como as cirurgias plásticas são uma constante como mecanismo de ajuste facial dos escolhidos de ambos os sexos. O Gero é realmente um ponto de máximo das celebridades do Rio. Se minha conta bancária permitisse, ali, repartindo o sagrado ato de me alimentar, junto àquela nobre gente, eu poderia até sentir que vencera. Foi por pouco.

Estou falando, falando e sinto que há algo que esqueço. Ah, sim, a comida! Há um menu completo – entrada, prato principal e sobremesa – que nos oferece a tranqüilidade de saber antecipadamente o custo da refeição. Ou nem tanto. O preço é de R$58, mas, acrescentando-se águas minerais (R$5 a unidade), caipivodcas (R$14 a unidade), serviço (R$10) e manobrista (R$7), o custo da refeição chega logo ao dobro, ou seja, por volta de quarenta dólares. Minha salada verde com queijo de cabra e pêras estava adequada. É uma combinação vitoriosa. A entrada que vem com polenta não justificou a fama. Nos pratos principais, a galinha d’Angola trouxe novo sabor para um galináceo. Os risotos são interessantes e atendem aos apreciadores. As opções de sobremesas surpreendem bem no crème brûlé e no bom tiramisu. O chocolate vem representado num misto de torta e mousse acompanhado de sorvete. Mais uma vez me faltou a desejada sensação de encantamento.

Acho que o Gero deve ser melhor do que eu experimentei. Se a fortuna esbarrar em mim e não me derrubar, vou ensaiá-lo outras vezes. Levando em conta o conjunto das sensações propiciadas, fica como recomendação para os visitantes do Rio e dos excursionistas à Zona Sul. É um ponto para ver os vencedores que habitam a Cidade Maravilhosa e se enganar que é um deles.



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26setembro2004
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