Caro Severino
Eu não acho que tenho um problema. Mas, como as pessoas vivem me falando, venho consultá-lo para saber se o povo tem razão em me criticar. O que estas despeitadas falam é que eu logo que arranjo um namorado, vou logo marcando casamento. Quando todos pensam que a coisa vai mesmo sair, eu desmarco tudo. Já estive duas vezes na beirinha do altar. Sempre, quando está chegando a hora, acontece alguma coisa e eu recuo. Daqui a dois meses vou tentar de novo. Que é que você acha? É azar? É doença? Estelita, Barra Mansa/RJ
Minha pequena estrela
Casamento é palavra mágica. Toda vez que mulher diz este vocábulo para mim, eu desapareço. É dito e sumido! Mas como é fácil de ver pelo movimento nas igrejas e capelas, nem todos compactuam da minha opinião e os incautos continuam a cometer o ato. O que me fascina na sua carta é a senhora - ou senhorita no caso - com tanta coisa no mundo para se preocupar, ficar se prendendo na burocracia. Fascínio por papel é coisa de escrivão ou advogado. Se isso lhe atrai, siga a carreira de Direito. Não acho direito é passar a vida numa carreira atrás de um "sim" de um moço. Concordo que casamento é bom para ganhar presente dos amigos. Se a senhora tem posses, pode até ganhar um apartamento da família. Aí, o ritual tem validade como negócio. Mas, se for para ganhar geladeira e arriscar entrar numa gelada, tome tenência, é melhor brincar de casinha do que casar de verdade. Além disso, a vida nos fornece altares mais nobres para gastarmos nossa energia.
Por que esse desassossego atrás da vida de esposa profissional? Por que não um descompromissado estágio como namorada? Sua hesitação e estacadas na frente do obstáculo, qual mula esperta frente ao precipício, não é mau sinal, apenas mostra que, por trás deste açodamento nupcial, resta alguma sanidade. Se atenha ao pouco de razão que brilha em você como pequena estrela no céu escuro do convencional.
P.S. Se a insânia prevalecer, que se há de fazer? Que o amor lhes seja companheiro para toda a vida!
Do fugidio, Severino
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21junho1999
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