A mulher de 1999

 
  Polemikos resolveu escolher a mulher do ano. Fui escolhido para apresentar o símbolo feminino desse último "novecentos". Assim foi feito. Vamos com calma. Hoje eu vou falar sério. Comecemos pelo segundo lugar.

Fernanda Montenegro foi a vice campeã na nossa escolha da mulher 1999. O fato de não ganhar foi seu maior mérito. Fernanda é uma jóia que não merece aparecer apenas por que brilhou mais uma vez em Central do Brasil e foi disputar, enquadrada, um Oscar em Hollywood. Merece mais. A intérprete de Dona Doida deve se sentir honrada em ser retirada de nossa crítica lista.

Bem, o que fica? Ficou a mesmice feminina brasileira. O brilho que restou neste 1999 foi reservado às moças cujo o currículo geralmente recai na profissão genérica de "atriz e modelo". A importância da mulher se restringiu à beleza do rosto ou do bumbum.

O destaque do início do ano ficou com Tiazinha. A sado-mazô light fez sucesso vendendo seu kit máscara e chicote no carnaval de 99. Da mesma forma, sua herdeira, a Feiticeira deverá dominar o carnaval 2000 com seu kit de odalisca. Já a Ana Paula Arósio fez 21 o ano todo. Foi filmada em closes intermináveis na novela das oito e sua superexposição acabou por consagrar a novata Sophia Loren nacional da mesma novela. A imagem da mulher brasileira foi administrada pela tevê ou pela Playboy. Ah, esquecíamos, o futebol também se tornou esporte feminino. A Milena fez gol de placa e terminou o ano grávida de Ronaldinho. Aí está outra profissão cobiçada: esposa de craque de futebol.

Mas, afinal, qual nossa escolha? Vocês já devem ter adivinhado. A mulher brasileira polêmica do ano foi Adriane Galisteu. Surpresos? Explicamos. Esta moça conseguiu se manter à tona durante todo o ano de 1999. Manobrou no jogo do marketing pessoal com competência masculina (!). Por sinal, casou-se com um profissional de propaganda, criando um acontecimento, só para se separar em seguida, criando outro fato no mundano circo de Caras. A menina que veio de baixo na velocidade da Fórmula 1, cuja carreira parecia fadada a ser esmagada pelo acidente de Senna, mostrou garra de flamenguista. Ocupou seu espaço com todos os recursos de que dispunha. E olha que ela não é tão prendada assim. Não tem os olhos da Arósio. A bunda da Tiazinha. Os novos peitos da Feiticeira. Mesmo assim, criou um padrão de beleza que colocou na rua louras esbranquiçadas exibindo bronzeados tão artificiais quanto a cor dos cabelos. Galisteu ganhou até um programa de entrevistas: o símbolo máximo do sucesso. A menina chegou lá.

Esse é o retrato da brasileira do fim do milênio. Adriane Galisteu é a menina pobre que vence todos os obstáculos e confirma a regra da miséria geral da mulher brasileira. Do jeito que o país está, as mulheres estão piores do que nunca. A chance de emprego é menor para elas. A prostituição é um mercado em que o Brasil se globalizou há muito tempo. A gravidez na adolescência é um problema de saúde pública. A Aids aumenta aceleradamente entre as mulheres.

Mas deixemos de maus pensamentos. Não liguem para isso não. A capa da Playboy vai trazer, no próximo mês, a princesa de corpo escultural para ser adorada pelos homens e invejada pelas mulheres. Eta mediocridade!

- Severino -

 
 

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04janeiro2000
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