Oportunidades perdidas
Me lembro quando cheguei ao Rio. Eu só andava de ônibus e passava diariamente pelo Passeio Público. Havia um ponto em frente à Mesbla. O ônibus parava tempo suficiente pra gente ler o anúncio que havia na fachada de um sobrado. Acho que era na esquina da Rua Senador Dantas. As palavras no cartaz eram duras: "Quantas oportunidades você já perdeu por não saber dançar?" Eu olhava e ficava matutando sobre a última festa que tinha ido. Lembrava da moça bonita do outro lado do salão de baile e eu cheio de vontade de abordá-la. Mas, imobilizado pelo temor de não conseguir executar um simples dois-pra-lá-dois-pra-cá, acabava ficando só. Era a derrota causada pela perversa combinação de timidez com falta de recursos.
Mas a vida é cheia de outras oportunidades perdidas. Costumamos lamentá-las depois, quando já é tarde demais. Entretanto, podemos e devemos aprender a lidar corretamente com estas chances. É sábio valorizar o que o destino nos oferece. Este ditame é expresso de muitas formas. O Príncipe Charles, certa vez, instado a dizer o que aprendeu em sua vida de herdeiro da coroa inglesa, declarou que o maior ensinamento que este posto lhe trouxe foi: "Não se deve deixar de ir ao banheiro quando se tem uma boa oportunidade. Nunca se sabe quando teremos outra chance!"
O senso de "pegar o pássaro na mão quando ele voa baixo" aparece na cultura popular brasileira sob muitas formas. As vezes, com propostas mais abrangentes do que a do príncipe inglês. O pai de um amigo, do alto de sua experiência, lhe ensinava: "Há três coisas que não se deve desprezar pois não se sabe quando se terá novamente: um bom banheiro, comida e mulher." Vê-se que era homem objetivo e desejoso do melhor para seu filho. No livro Minhas Mulheres e Meus Homens, de Mario Prata, o conselho volta a aparecer, declinado, então, pelo pai do autor: "Tesão contida é tesão perdida." Notem que esta jóia de pensamento serve também para as mulheres inteligentes.
Mas, foi nas ruas do Rio de Janeiro que me deparei com uma expressão da sapiência popular em estado puro. Era tempo da obra do metrô do Largo da Carioca. Quem vê hoje a estação da Carioca não imagina o tamanho do buraco que havia por ali. Em volta do grande canteiro de obra, tinha um tapume que separava a cratera do resto da cidade e que durou os anos que levaram para construir estação. Ali, no coração da cidade, naquele espaço mural de alta visibilidade, onde os cariocas trafegavam indo e vindo para o trabalho, foi apresentada a forma mais sintética e pujante do valioso ensinamento. Estava lá, pintado no tapume com letras maiúsculas, por um sábio anônimo, para todos usufruírem: "A FODA PERDIDA É IRRECUPERÁVEL!"
- Severino -
envie agora seu comentário sobre este artigo
veja a opinião dos leitores na seção de cartas
mais severino
Início da página | homepage Polemikos
25março2000
Copyright © [Polemikos]. Todos os direitos reservados.