Ainda prefiro o diálogo
Fui lá ver. Essas coisas não se deve perder. Nos shows de Bangcoc tem até algumas que fumam. Eu já vi muitas, mas falando, deve ser algo impactante. Então, como disse, fui ver os Monólogos da Vagina. Fantasiado de classe média alta, me juntei aos casais que comparecem em peso ao Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea para relaxarem no fim de semana. Ali, cada macho comparece compenetradamente acompanhado da sua. Com os monólogos, o objetivo de rir sem compromisso é atingido com mais facilidade do que um orgasmo vaginal.
Vagina é um tema polêmico. Apesar de ser comprovadamente a região do corpo feminino mais inteligentemente utilizada, objeto constante do pensamento masculino, a peça mostra que é mais um caso em que se faz bom uso de alguma coisa sem se saber bem do que se trata. É como a eletricidade. Ninguém sabe direito como funciona internamente, mas a humanidade meteu o dedo e produziu maravilhas. Com a vagina é parecido. É uma profusão de mistérios: orgasmo feminino, menstruação, clitóris e outros tantos. Entretanto, fica o registro, sua utilidade é inquestionável.
O tema central dos Monólogos da Vagina é o tratamento discreto que este órgão tem do público em geral. Os homens falam dela o tempo todo. Mas usam de subterfúgios, como falar de pernas, coxas, bundas etc. Como dizia um desses sábios de mais idade: "Tanta complicação por um pedaço de carne mijada!" Já as mulheres, ao que parece, não falam. Também, séculos e séculos como o repositório do pecado do mundo são difíceis de reverter. Daí que três mulheres discursarem sobre o assunto durante mais de uma hora é uma catarse para as pecadoras que vão ao teatro. Os homens aplaudem com educada condescendência a empolgação com que a apologia da vagina é recebida por suas acompanhantes. As portadoras ficam orgulhosas de levarem seus parceiros para ouvirem uma palestra bem humorada sobre suas partes. Da parte desses, a generosidade e cumplicidade para com este símbolo da ausência a ser preenchida deve ser motivo para preenchimentos tardios após o único ato da peça e podem propiciar atos de libidinagem posteriores, que conforme o Aurélio, quer dizer "conjunção carnal ou qualquer de seus equivalentes no desafogo da libido".
O que pode inibir um pouco o tesão do casal é o estande, logo na entrada, onde uma moça faz propaganda de camisinha vaginal. É brochante. Algo capaz de inibir a ereção de um ejaculador precoce de mão cheia. Interrogo se alguém usa aquilo. Uma camisinha é um artefato erótico comparado a um saco plástico daqueles. Tara é tara!
- Severino -
envie agora seu comentário sobre este artigo
mais severino
veja a opinião dos leitores na seção de cartas
Início da página | homepage Polemikos
08agosto2000
Copyright © [Polemikos]. Todos os direitos reservados.