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  Governo: o pior sócio!

O título acima não está correto. Se você é um banco falido ou um grupo internacional interessado no programa de privatização brasileiro, o governo é o sócio perfeito. Vai te emprestar ou, mesmo, se você chorar um pouquinho, vai dar logo toda a grana. Uma maravilha de generosidade! A explicação para isso recai sempre nas melhores intenções: salvar o sistema financeiro, dinamizar a economia nacional...

Em outras áreas, entretanto, as coisas se passam de modo diferente. Assim é o caso das ditas áreas sociais, tais como saúde, educação e segurança pública. Bem, nessas áreas, a incompetência ou, mas precisamente, a necessidade de atender aos interesses políticos e de grandes grupos, faz com que o governo se omita ou cometa todo tipo de desacerto.

Veja-se a saúde. A população precisa de atendimento médico. O governo tem condições de prestar um bom serviço. Entretanto, esbarra no interesse dos grandes grupos privados de saúde. Esta é uma simbiose perfeita. Os custos ficam com o governo. Os lucros ficam com os sistemas de saúde privados. A população perde com a má qualidade do atendimento público e o alto preço dos serviços médicos da medicina privada. Mas o governo não interfere no preço dos serviços dos hospitais particulares. Esses são intocáveis.

E na educação? Bem, aí a coisa pega. A educação seria o verdadeiro caminho para tirar o Brasil do buraco econômico e social em que se encontra. Toda essa história de concorrência, globalização, dado que somos um país de ignorantes, é apenas conversa para passar o tempo enquanto deputados se reelegem, tecnocratas permanecem nos cargos, os ricos ficam mais ricos e, claro, o país vai afundando, levando o povo com ele.

O governo deveria ter um projeto radical para reverter a tendência de obsolescência do nosso povo para a competição econômica internacional. Não temos operários qualificados para ler os manuais de um torno mecânico, numa época em que os operários já estão sendo trocados por tornos computadorizados. Nossa mão-de-obra barata e desqualificada não é mais fator competitivo. É apenas lastro.

Mas o governo deveria fazer alguma coisa pela educação. E faz. Ou finge fazer. Como não tem força política para gastar na educação, o governo se limita a jogar para a torcida. Ferindo as regras do direito, se intrometendo em contratos entre escolas e pais de alunos, o governo, na maior cara de pau, incentiva a inadimplência.

É ridículo. O empresário arrisca seu capital. Cria seu colégio. Negocia com professores e pais. Depois, aparece o governo, que, como um sócio majoritário compulsório, viola as regras do direito, quebra contratos, decide sobre salários de professores, preços de mensalidades e, explicitamente, incentiva o calote do pagamento dos colégios. Afinal, para que pagar se o governo me protege? Deve ser a pergunta que se faz um pai de família na hora de distribuir seu limitado orçamento.

A educação parece ser nosso maior problema. Poderia ser nossa grande solução. O governo trata o tema com hipocrisia e oportunismo político, fugindo à sua responsabilidade. Os empresários de ensino, estes danem-se! Escolheram um mau negócio. Pior que isso, não sabiam, mas teriam o pior sócio possível: o governo.

- Ernesto Friedman -


 
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08dezembro1999
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