Uma
escolha por educação - África, Costa do Marfim: Junto ao mercado, o lixo se acumula em montes que alcançam dois metros de altura. Ali, restos de comida e outros dejetos se deterioram. O cheiro, insuportável, é bem tolerado pela gente que circula no local. Suas narinas já estão anestesiadas. O país também se deteriora, enredado em dificuldades. Problemas comuns a quase toda a África - como fome, doenças, analfabetismo - empurram o país, que já foi promissor, em direção ao buraco da falência total. - Caribe, Cuba: Um rapaz visita a ilha e se hospeda na casa de um trabalhador de construção civil. Na volta, o anfitrião, por cortesia, escreve carta agradecendo a visita do jovem brasileiro. A texto, cheio de emoção, escrito em articulado espanhol, surpreende a quem esperava os rabiscos de um mero trabalhador de obra. Assim é Cuba. Um país com problemas, mas contando com bem montada infra-estrutura de saúde e ensino. O analfabetismo foi erradicado. A medicina é acessível a todos. A orgulhosa ilha está pronta para qualquer grande mudança. O país comunista, se for necessário, poderá ser assimilado pelo capitalismo do vizinho EUA. A matéria prima para entrar no jogo eles têm: seu povo, está preparado. - América Latina, Brasil: Mães chegam de madrugada à porta de uma escola do subúrbio do Rio de Janeiro para garantir lugar na fila de matrícula, que acontecerá mais mais tarde, quando a escola abrir. São atacadas por marginais e três delas são estupradas. Simbólico? O Brasil enfrenta desequilíbrios econômicos periódicos. Sua antiga vantagem na competição mundial, baseada em contingentes de mão-de-obra barata e desqualificada, foi perdida. Precisam-se de pessoas preparadas, com educação elevada, flexíveis para se adaptarem aos modernos métodos de produção. Não somos uma Irlanda, que pode oferecer um país pronto para o investimento estrangeiro. Nem somos a China, que dispõe de inesgotável fonte de mão-de-obra barata para competir no preço dos produtos. Que fazer deste quadro? Se o Brasil tivesse que escolher uma estratégia prioritária? Se tivéssemos que concentrar os esforços em apenas uma área para arrebatar esta nação? Qual seria o desafio perseguido? Escolheríamos fornecer saúde fosse ela pública ou privada - com qualidade, a qualquer custo, para toda a população? Ou o objetivo seria acabar com a crônica deficiência de habitações? Afinal, a indústria da construção civil é muito dinâmica e arrastaria consigo o desenvolvimento de toda a economia. Ou jogaríamos todas as fichas na educação? Daríamos escolas e ensino decentes para todos. O que fazer? Minha modesta opinião: a concentração deveria ser feita na educação! Por quê? Porque no longo prazo este é o caminho para mudar um país. Para resgatar nossa dignidade. A educação iria municiar o povo com capacidade crítica. Através dela, a gente poderia lutar por seus direitos e identificar os deveres a serem cumpridos. Acham que estou sendo radical? Dirão que o problema que proponho é hipotético. Que a realidade é muito mais complexa que uma simplificação como essa. Concordo. Mas me fica a impressão de que a estratégia geral deveria ser por aí. O que vocês acham? - Tirésias da Silva - |
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