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  Tirésias e Friedman, no mínimo, discutem

Nossos colaboradores permanentes debatem e parecem ter posições antagônicas quanto à questão do valor do salário mínimo no Brasil.

Tirésias da Silva – O fundamental é que é impossível se sobreviver com R$151,00. Um trabalhador não tem como morar, comer, se vestir com esse salário. Não há orçamento que se adapte a esta quantia. O governo tem a responsabilidade de adotar um valor para o salário mínimo que atenda a um padrão mínimo de sobrevivência para a população.

Ernesto Friedman – Por que então não fazemos melhor? O governo deve estabelecer que o salário mínimo seja R$1.000,00. Deve dar um jeito no desemprego, que é problema mais grave, e prover emprego para toda a população. Aproveitando o embalo, seriam construídos apartamentos sala e três quartos para todas as famílias brasileiras e, de quebra, a força da gravidade seria reduzida, para nos sentirmos mais leves e confortáveis. Que tal?

TS – Caro Ernesto, dispenso seu cinismo. O problema é sério. As pessoas estão morrendo...

EF – Concordo com você que o problema é sério. O que estou tentando mostrar é que não adianta esta visão ingênua de que podemos resolver problemas estruturais simplesmente decretando leis. Eu insisto que as relações de troca não podem ser manipuladas além de pequenos ajustes locais. O governo tem que centrar suas ações em medidas que provoquem a valorização da mão-de-obra. Tabelar o valor de um empregado, se não for ignorância, é pura hipocrisia.

TS – Mas você concorda que existe um mínimo de renda que permite a um cidadão subsistir?

EF – Não, não concordo! Talvez exista, mas é impossível calculá-lo. Este não é um valor exato como você tenta acreditar. Na realidade, as pessoas podem viver com qualquer renda ou, mesmo, mal sobreviver, que, infelizmente, é experimentado por muitos no Brasil. Meu ponto de vista é: o debate sobre salário mínimo é bom para vender jornal! É bom para ACM bater boca e fazer papel de preocupado com o povo. O que deveria estar em discussão é: como reduzir o crescimento da população através de controle demográfico impedindo haja tanta gente despreparada e pronta a aceitar qualquer migalha para trabalhar; como reduzir a corrupção que desvia o dinheiro que deveria produzir bens e pagar salários; como reduzir o controle de certas áreas da economia por grupos que impedem a competição e o desenvolvimento dessas áreas. O foco da discussão deveria ser outro.

TS – Mas R$151,00 é muito pouco. É ridículo!

EF – Aí está a irrelevância dessa discussão estéril. O valor do mínimo hoje já é muito inferior ao que é razoável pagar a um ser humano. Qualquer emprego útil vale mais que isso. Os empregos que só merecem este salário não deveriam nem existir.

TS – E o argumento de que o aumento do salário estoura o orçamento da previdência? Não é uma falta de respeito com o aposentado?

EF – Meu caro Tirésias. Esta conta é pura aritmética. Não adianta lamentarmos um fato verdadeiro. O problema do aposentado é de todos nós mas, antes de tudo, é um problema da criatura que delegou ao governo a missão de prover recursos para sua aposentadoria. Se este governo está falido, o aposentado tem um problema. Mas dinheiro não cai do céu. Se você não tiver dinheiro, você não paga sua empregada. Por que o governo tem que pagar sem ter em caixa? Temos que parar com essa idiotice de achar que as regras da realidade não funcionam quando se trata do governo. Tolice!

TS – Gostaria de saber se concordamos em alguma coisa. Você poderia sugerir algo?

EF – Claro. Enquanto debatemos, brasileiros sofrem ou, mesmo, morrem, por que nossa elite é como erva daninha que se aproveita de todas as oportunidades para sugar a energia dessa gente. Esta elite é extremamente competente para garantir seu salário mínimo de R$10.000,00 por mês e disso não vai abrir mão nunca. A não ser que as coisas mudem. Mas aí já é outra história.

TS – Tá certo. Nisso nós concordamos.


 
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10abril2000
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