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  500 anos: Comemorar o quê?

A tevê vem fazendo grande esforço para criar um clima de entusiasmo no aniversário de 500 anos da descoberta do Brasil. As escolas têm escolhido este como o tema principal das redações. As editoras aproveitam a onda para lançar livros sobre a época e os acontecimentos do descobrimento. Mas ... tirando as comemorações burocráticas, eu estou a procurar o motivo para tanta euforia e - surpresa! - não acho. Não que eu seja baixo astral (será que sou?), mas companheiros, me digam: o que temos para comemorar?

Se fossem os americanos, motivos não faltariam. Sua economia está aquecida, empregos jorram, o povo jogando nas ações da Internet que nem brasileiro joga no bicho. Eles têm do que sorrir. Bem, se o mote fosse o orgulho, teríamos o exemplo dos franceses lutando para manter sua cultura e garantir a qualidade de vida do seu povo. Foi justa sua comemoração de alguns anos atrás, quando engalanaram Paris e aproveitaram para vender a beleza de sua bela capital. Depois, ainda deram sorte e ganharam a Copa do Mundo. Motivos não faltam!

Mas e o Brasil? Bem, isto aqui está ruinzinho. Até o americano Skidmore – especialista em nossa triste história recente – tripudia da gente e aponta aquilo que temos de pior: nossa elite. Enquanto nossas instituições se deterioram e as opções para escapar do subdesenvolvimento se reduzem, nossos ricos se deliciam com a riqueza fácil, a impunidade, o desprezo pelo semelhante e buscam uma falsa nobreza, um estilo Miami de ser, que, além do mau gosto, é quase obsceno no cenário empobrecido do Brasil.

As imagens do momento são emblemáticas. A corrupção explode em todos os níveis. O negro que alcançou o cargo mais importante do executivo nacional, como prefeito de São Paulo, costumeiro trampolim para candidatura a presidência da república, é flagrado ganhando mesada de empresário em troca de favores. Os senadores trocam acusações graves e grosserias sem o menor pudor. É claro que ACM está envolvido. A polícia vive o paradoxo de receber salários ridículos enquanto dispõe do enorme poder que a elite apavorada lhe concede. O resultado é óbvio. Os policiais vão gradualmente se estruturando para tirar partido desse desequilíbrio. Enquanto atuam no varejo, reprimindo pequenos delitos, se organizam no atacado, aliando-se aos traficantes ou qualquer outro trambiqueiro da moda para formar quadrilhas organizadas. Eles estão certos. Se nossa elite é uma merda, por que não fazer parte dessa elite. Vale a pena. Aqui, o prêmio de ser poderoso é alto e o risco é baixo.

Nesse quadro, o presidente FHC brilha na omissão. Já entendemos que ele não quer nada com esta hora do Brasil. Sua consciência, cada vez mais anestesiada, lhe diz toda noite que as coisas são assim mesmo. Nada resta a fazer. Basta ele ir tocando o barco e fazendo suas viagens de avião. O que tiver que acontecer, se não será por sua culpa, muito menos vai ser por sua iniciativa. Do Brasil, de uma de suas temporadas no exterior, ele disse: Tenho asco! Eu também tenho. Dele.

Mas o tema inicial do artigo era comemoração (ou falta de motivo para). Sinceramente, se vocês tiverem um bom motivo, me escrevam. Aguardo ansioso a criatividade dos leitores.

- Tirésias da Silva -


 
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20abril2000
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