Um herói
brasileiro
Somos um país pobre de heróis. Nossa elite quer a riqueza e poder. Não têm valor exemplos de bravura ou caráter. As casas maravilhosas de políticos como Amazonino Mendes ou Jader Barbalho são os emblemas do vale tudo social que a política brasileira sabe bem exercer e ensinar a população. O Presidente da República acha que faz muito cumprindo seu emprego burocraticamente, tocando o barco, fazendo alianças oportunas e viajando ao exterior para fingir que é estadista. Nesse cenário árido de exemplos nobres, o rompante de culpa e vergonha, que o senador José Roberto Arruda apresentou pela TV Senado para todo Brasil, foi auspicioso. Foi exemplo de pudor que se destaca na devassidão exibida diariamente pelos políticos profissionais. O maior mérito de Arruda foi sua fraqueza em ostentar o habitual cinismo de nossos políticos. Faltou-lhe a cara de jacarandá baiano de Antonio Carlos Magalhães, sólido em suas negações, administrando com enorme perícia o jogo de influência no qual é atacante veterano. Para ACM, a ousadia de ser cobrado por falta de ética deve soar como alguma ingenuidade pretensiosa de políticos imaturos. Ou, pode ter faltado a Arruda o cinismo limite de Jader Barbalho, que sorri brejeiro afirmando que sua mulher enterrou 9 milhões de reais na criação de rãs. A falta de espírito canalha, o jeito de bobo flagrado no primeiro furto é a grande qualidade de Arruda. Ainda lhe resta decoro para chorar perante a cobrança dos filhos. A busca da ética para Arruda é um tormento. Ele acha que é honesto porque não recebeu dinheiro cash. Não fiz fortuna a partir dos cofres públicos, diz ele. Mas, sua visão canhestra da honestidade, seu arrependimento, parecem conter algum sofrimento. Ele participou de um trambique. É fato! Mas não exibe um semblante orgulhoso como o de Estevão, cuja única mágoa foi ter sido pego em flagrante. Somos um povo triste. Somos ricos. Se não fôssemos, como poderíamos ser roubados nesta escala de bilhões e ainda apresentar uma economia vigorosa? Para uma nação como a nossa, um mau ladrão. Um incompetente que sofre por ter sujado seu nome e jogado fora a carreira política é um personagem magnânimo, uma agulha num palheiro. Sejamos modestos. Não adianta querermos heróis magníficos: superatletas, megaempresários, gênios ou líderes políticos. Somos uma massa de miseráveis mal alimentados, negociantes forçados à corrupção, crianças ignorantes pela má alimentação e falta de ensino, liderados por uma classe política de testas de ferro ou meros gatunos. Contentemo-nos com poucas e minguadas vitórias. Arruda é uma delas. Ali tem uma semente de caráter. É um bom gatuno. Talvez, por viver entre os ratos, ele já não distinguia mais o certo do errado. De tanto ver trocas de favores, cartas marcadas, armações, não sabe mais se errou por estuprar um voto secreto ou se o voto secreto, teimando em não ser sabido, foi o culpado da violação. A avaliação de nossa pequenez, nossa selvajaria moral, pode ser o caminho para avançarmos. O melhor para o Brasil era que, depois de ouvirmos choros, deboches, mentiras, Arruda e ACM fossem solenemente cassados. Seria um começo. Jader Barbalho também merece. Mas este já é caso de polícia. - Tirésias da Silva - |
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