Megaespeculadores |
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Estou perplexo. Eu e o tão
falado megaespeculador George Soros. O cara estava lá no lugar dele,
investindo seus bilhões, aproveitando-se das taxas de juros generosas
que o Brasil – a propósito, governado há oito anos por FHC – lhe
paga com pontualidade. Eis então que Soros lê no jornal que Fernando
Henrique está em apuros. José Serra, seu indicado para a capitania
hereditária, não decola. A candidatura de Lula está forte. Tão
forte, que FHC, desesperado, apela para o argumento de que se
elegermos o presidente errado (leia-se, se não elegermos seu filhote
José Serra) o Brasil vira uma Argentina (veja
artigo de 26.05). George Soros se solidariza com o atolado
presidente e resolve apoiar seu discurso, dizendo claramente que o
mercado – leia-se: os estrangeiros e brasileiros endinheirados que
mamam nos juros escorchantes que o Brasil cobra dos brasileiros em
geral – teme o calote que Lula pode dar, caso se eleja. Uma
mãozinha de um companheiro de luta. Mas... surpresas da vida! Não é
que Fernando não gostou do apoio do bilionário. Pode ter sido apenas
jogo pra torcida, mas FHC partiu para um discurso todo lambuzado de
patriotismo, tipo fera ferida, e repetiu a conversa fiada fajuta que
os "fundamentos da economia estão sólidos, que ele respeita a
decisão do povo". Argh! Bela interpretação de estadista! O
pobre – tem uma fortuna de mais de 6 bilhões de dólares – Soros
não deve ter entendido nada. Ele só pretendia ajudar a campanha de
Serra. Foi deselegância do Fernando tratar assim um correligionário.
Bem, tirando o deboche do meu parágrafo anterior, é claro que a situação está preta. O cenário está ruim para o Brasil. Os especuladores estão com os dentes afiados para faturar em cima a fragilidade da economia brasileira. Como diz Joelmir Beting com felicidade: "A expectativa da crise provoca a crise que sanciona a expectativa." Com tanta gente interessada em tirar proveito do Brasil, não precisava o próprio governo entrar como sabotador, ameaçando o país com os resultados da eleição de Lula. O pior é que vai dar merda de qualquer maneira. De todo jeito, depois da eleição, o governo terá que dar uma solução para os juros nas alturas. Com juros de 18% ao ano, nossa dívida interna fica impossível de ser paga. A estratégia do PSDB é ir pagando a extorsão, através do rendimento do dinheiro que os estrangeiros enfiam aqui para usufruir de nosso profit paradise. A segurança que Serra oferece ao mercado é a gente continuar pagando a chantagem em dia. O problema é que não é possível manter os juros elevados indefinidamente. A economia está estagnada. O desemprego está batendo novos recordes. Afinal, é cretinice muita chamar de crediário emprestar dinheiro a juros de 10% ao mês. Isto é agiotagem oficial. Não dá para o consumidor comprar sua geladeira financiada nem o empresário investir. Com Lula ou sem Lula, teremos um solavanco mais adiante. Com Serra, o solavanco será amortecido através do uso, pelo PSDB, da única ferramenta de controle da economia que lhe restou: a taxa de juros. A desculpa esfarrapada de sempre é que juros baixos aumentam a inflação. Dessa forma, o governo continuará escondendo que está de calças arriadas frente (digo, de costas para) ao capital internacional. E se Lula for eleito? Bem, aí a gringalhada vai ficar em polvorosa. Os dólares vão fugir do país. No curto prazo, o próprio Lula presidente vai ter que pagar juros altíssimos. Entretanto, se a idéia de soberania ainda tiver alguma importância, Lula tem mais condição de discutir um novo projeto de Brasil no cenário mundial. Talvez até propor algo menos humilhante do que baixar a cabeça e pagar. Enquanto isso, além de Soros, outros aliados de FHC estão fazendo bem seu papel. A capa de Veja dessa semana está uma gracinha de propaganda subliminar. O papo deles é que o que vale para o cargo de presidente da república é o preparo do governante. Daí para dizer que Lula é despreparado e que Serra é um gênio da administração é um tantinho de distância. - Ernesto Friedman - |
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