Homem do Ano Polemikos de 2002

Foi um ano fraco para a escolha do Homem Polemikos. Os corruptos, tradicionais candidatos, em virtude da grande quantidade de casos que apresentaram, ficaram difíceis de se destacar. São tantos que não conseguimos eleger este ano o graúdo, um que sintetizasse a classe, como o juiz Nicolau, o ícone da corrupção em 2001. Vocês já devem ter esquecido, por exemplo, do magnífico marido de Roseana Sarney, o Jorge Murad, o homem que só paga em dinheiro vivo. O cara é tão vivo que acharam 1,4 milhões de reais em notas de R$50 em sua empresa. Até hoje não se sabe quem proporcionou a ele esta grana. Murad, profissional da área, ficou quieto, saiu de cena, e deve continuar atuando em sua lucrativa carreira. Em compensação, o velho patriarca Sarney está nas paradas como líder político apoiando o governo Lula. Somos uma terra de cordiais. Ninguém liga o lustroso cabelo do acadêmico Sarney com as estripulias da filha e marido Murad. Ainda na política, o candidato Garotinho saiu-se muito bem nas eleições presidenciais de 2002, apesar de ter uma manchinha no seu prontuário. São as tais fitas que o ex-governador não deixa ninguém escutar. Prefere ver o diabo pregando na sua Igreja do que deixar a imprensa divulgar suas conversas negociando prêmios em dinheiro para seu antigo programa de rádio. O início de 2003 mostrou que sua eficiência em esconder detalhes de sua história não se repetiu na hora de perceber que seus homens de confiança na fiscalização de impostos estavam ligeiramente mais ricos. Coisinha de 30 milhões de dólares. No mínimo, o pio Garotinho pecou por displicência. Pode ser que o evangélico governador ainda venha a atolar na lama do Silveirinha&Amigos. Ainda não foi sua vez de ganhar nosso laurel. Vamos ver como ele se sai como marido da Garotinha.

Um leitor de Polemikos lembrou de um grande personagem da área cinzenta que existe entre o futebol e a política brasileira. Nas palavras do leitor: "Ricardo Teixeira, apesar das mazelas, cambalachos e falcatruas que acompanharam toda a sua longa gestão na CBF, ainda se manteve na direção da entidade, sobrevivendo ao bombardeio das CPIs. Não satisfeito, ainda pleiteia um cargo de direção na FIFA. E ainda tenta construir uma imagem de dirigente vitorioso, aproveitando o título da Copa do Mundo 2002, ganho com nenhuma gota de seu suor. Portanto, para mim, o Homem Polemikos 2002 é Ricardo Teixeira, a prova viva de que, no Brasil, a picaretagem ainda vale a pena." Fica registrado o voto do anônimo e sagaz leitor. Ainda teve mais gente importante no futebol. Ronaldo e Romário continuam a escrever suas histórias fora de série. Ronaldo foi o fênix que saiu de um joelho bichado, que muitos achavam ter encerrado sua carreira de atleta, para ganhar a Copa do Mundo e virar o jogador de futebol do ano. Este não é polêmico, é premiado pelos céus. Já o baixinho Romário, apesar da idade provecta, continua perto da pequena área fazendo gols e criando casos. Ele diz que quer chegar aos 1.000 gols. Estamos aguardando.

Na política brasileira, Lula brilhou junto com a estrela do PT. Elegeu-se presidente. Terminou o ano quase como um personagem mítico. Atualmente está em Davos, no Fórum Mundial, botando o dedo na ferida da indiferença mundial dos mais ricos pelos mais pobres. Ele seria a escolha natural para o título de Polemikos. Entretanto, a unanimidade não nos interessa. Vamos dar mais tempo ao metalúrgico para ele mostrar como se sai no poder. Já FHC saiu de cena para entrar na boa vida. Ou continuar a boa vida, porque ele pareceu ter usufruído bem do status de presidente. O pollítico da boa conversa, do turismo com cerimonial, do discurso intelectual, do bom vinho, FHC vai curtir o sucesso em Paris e outros points internacionais. Não precisa de nossa modesta comenda. Que vá em paz.

Na briga entre Bin Laden e Bush, o primeiro continuou a tirar o sono do segundo. Bin Laden, ficando quieto, fez mais mal que se tivesse agido. Ficou todo o mundo esperando outra ação espetacular do magrela de lençol na cabeça. Já, o porta-voz das empresas de petróleo e também presidente dos EUA, George Bush, aproveitou a deixa do Bin Laden para tocar seu projeto de controlar das reservas do petróleo mundial. A Venezuela, coincidentemente – e tem gente que acredita mesmo nestas coincidências –, se desestabilizou. Os EUA prontamente pediram a saída de Hugo Chávez e a colocação na presidência de um político mais maleável aos interesses estratégicos dos americanos. Até hoje Chávez não foi tirado de lá e se não fosse tão pouco fotogênico poderia se tornar um líder contra o poder mundial absoluto dos EUA. Mas, parece que o latino que vai ter maior exposição na mídia em 2003 vai ser nosso Lulinha Paz e Amor.

Cansados de buscar alguém e desejosos de resolver logo esta pendenga, decidimos premiar o velho George W. Bush. Ele não é brasileiro, mas, convenhamos que seu poder não tem fronteiras. O homem mais poderoso do mundo teve um ano morno. Preparou uma enorme guerra, como fosse uma ereção, e está postergando o orgasmo em busca do motivo que lhe dê o mínimo de legitimidade para bater no Saddam Hussein. O ano de 2002 terminou com mais de 100 mil soldados americanos lá nas arábias prontos para dar uma raquetada no antigo aliado americano. Assim, pela capacidade de sobrevivência, pela competência em esconder as armas de destruição em massa que o Bush diz que ele está preparando, escolhemos o velho Saddam como nosso Homem Polemikos de 2002. Esperamos que este prêmio seja nossa modesta contribuição para a lista de motivos de Bush para invadir o Iraque.

- Ernesto Friedman -

para conferir:
Homem Polemikos de 2001
Homem Polemikos de 2000
Homem Polemikos de 1999


 
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03.02.2003

Prezado Ernesto:

Fiquei curiosíssima e resolvi te pedir que, se te sobrar um tempinho entre uma e outra porretada nos EUA e Bush, me explicasses uns destrambelhos que escreveste no texto "
Homem do Ano Polemikos de 2002" (http://polemikos.com/brasil/br20030126.html).  Afirmaste o seguinte, entre sandices tipo guerra = ereção: "Já, o porta-voz das empresas de petróleo e também presidente dos EUA, George Bush, aproveitou a deixa do Bin Laden para tocar seu projeto de controlar das reservas do petróleo mundial."  Bush é porta-voz das empresas de petróleo?  Really?  Quais exatamente, e como ele o faz?  Bush deixou do bin Laden?  Really?  Quando?  Bush quer controlar as reservas de petróleo mundial?  Really?  Como?  :-)

Vou aguardar ansiosa tua resposta e aproveito para observar que essas são perguntas
PARA TI, não para o Tirésias, ou meu amiguinho e admirador Dawalibi, OK?  Nem para algum leitor que possa ter um palpite --muito provavelmente, bem infeliz...

Um abraço.

Milla Kette
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Cara Milla,
 
Eu não te entendi. Juro. Você pareceu surpresa com a referência ao relacionamento estreito do presidente Bush com o setor petróleo dos EUA. Você desconhece, ou há alguma análise muito sofisticada (eu não peguei) de sua parte que você quer desenvolver a partir da pergunta. Se desejar ter mais referências sobre a intimidade do clã Bush com o petróleo tente algum site de busca com as palavras chave Bush, indústria de petróleo etc e vão aparecer dezenas de referências. No final dessa nota envio uma pequena matéria da Folha de São Paulo que resume um pouco do assunto.
 
Pelas perguntas debochadas de sua nota, fiquei com a impressão de que você não é muito ligada na importância do petróleo ao longo da história. Deixa eu repetir: os acontecimentos de 11 de setembro foram uma boa oportunidade para George Bush buscar seu lugar na história. Este lugar pode ser conquistado, entre outras coisas, pela reordenação do controle mundial do petróleo. Você me pareceu melindrada com as afirmações que fiz. Não de apoquente. Eu não estou a fazer juízo de valor (além, claro, de debochar da postura de bonszinhos) sobre a atitude geral dos EUA neste momento. Como nação mais poderosa do planeta, esta atitude - no caso, a busca do controle das reservas do Iraque - é uma linha de ação razoável. É uma estratégia a seguir. Pode ser que a França e Alemanha achem uma exorbitância de poder. Pode ser que milhares de pessoas vão as ruas discordar, mesmo dentro dos EUA. Mas, o poder está aí mesmo é para ser exercido. O trabalho dele, o Bush, é se interessar pelo bem estar dos americanos. Os outros que cuidem dos seus cidadãos. Você desconfia disso? O que me impressiona é sua aparente indignação. Podia ser má fé. Mas, acredito de verdade que não é isso. Fico com a hipótese de que você esteja sendo apenas uma ingênua de direita. Ser de direita é super razoável. Ser ingênua, não é.
 
Acho que nosso papo está interessante. Estou encaminhando para publicá-lo na seção de comentários anexa ao texto do homem do ano. Você se incomodaria?
 
Um abraço
 
Ernesto Friedman
 
 o artigo prometido:
 
Grupo de Bush tem ligações com o setor de energia  
PAULO DANIEL FARAH da Folha de S.Paulo

Uma parte considerável do grupo em torno de George W. Bush (e o próprio presidente) tem laços estreitos com o setor de energia.

O principal representante dos interesses petrolíferos do Texas na administração Bush é o vice-presidente Dick Cheney.

Depois de atuar como secretário da Defesa durante a operação que pôs fim à invasão iraquiana do Kuait, em 1991, Cheney tornou-se o executivo-chefe da Halliburton, uma das maiores empresas de petróleo dos EUA, com sede em Dallas.

Quando a ONU relaxou as sanções a Bagdá e permitiu que o Iraque comprasse peças de reposição para seus campos de petróleo, em 1998, foi a Halliburton, sob o comando de Cheney, que arrematou o contrato para reparar os danos causados pela guerra e fazer com que os oleodutos fluíssem melhor.

Duas subsidiárias da Halliburton fecharam negócios no valor de US$ 24 milhões com o ditador Saddam Hussein, que Cheney descreve atualmente como um 'ditador mortífero' e 'o pior líder mundial'.

Também em 1998, a aquisição por parte da Halliburton da Dresser Industries - fornecedora de equipamentos para a indústria petrolífera com estreitos laços com a família Bush - transformou-se em um desastre.

Graças aos contatos que Cheney fez durante a Guerra do Golfo, os representantes da Halliburton no Oriente Médio não lidam com funcionários quaisquer, mas com reis, príncipes e presidentes. Mesmo na administração democrata de Bill Clinton, o nome de Cheney era usado para quebrar o gelo em diversos países.

29.01.2003

Prezados amigos:

Sobre a eleição do "Homem Polemikos" 2003, quero parabenizá-los pela escolha. Não havia pensado em Saddan, por isso apontei o Ricardo Teixeira (a propósito, o comentário citado no artigo é meu).  Mas acho que o ditador Iraquiano merece o título, embora ele pudesse dividí-lo com o Sharon (o Nobel já foi dividido em determinadas ocasiôes, por que não dividir também o "Homem Polemikos", de importância equivalente?). Fica aqui a sugestão para o ano que vem.

Só não sei se haverá voluntários para entregar o prêmio, até porque Saddan pode não compreender muito bem o espírito da iniciativa...

Um abraço,

Marcelo Dawalibi


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26janeiro2003
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