show de interpretações em filme instigante
É algo de diferente nas telas. O impacto é semelhante ao soco no estômago que Kids (1995) provocou. Este Thirteen é um pouco mais família e não trata da Aids, mas a excursão no mundo juvenil é arrepiante. Filmes instigantes, com baixo orçamento, temas atuais, tratando de comportamentos de uma época, com interpretações magníficas são bom caminho para estreantes brilharem. A diretora Catherine Hardwicke usou bem a fórmula, fez seu primeiro trabalho para a gente não esquecer e já começou sendo premiada no festejado Festival de Sundance. É fato que ela contou com duas ajudas fundamentais: as atuações magníficas de Holly Hunter e da menina (ela nasceu em 1987!) Evan Rachel Wood. Esta última tem uma performance de quem está possuída pelo personagem. Magra e alta, com 1,70 metros de altura, olhos azuis bons de câmera, a moça ocupa a tela todo o tempo e cava seu futuro promissor no cinema. Vamos vê-la muito por aí. Uma estrelinha de primeira grandeza.
Aos Treze (Thirteen) mostra, em ritmo acelerado, a transformação de Tracy (Evan Rachel Wood), uma menina introvertida e (como dizer?) normal, de família pobre de Los Angeles, chefiada por uma ex-alcoólatra separada que tenta sobreviver como cabeleireira enquanto administra um caso com um ex-drogado. Enfim, um lar típico. O desajuste da família e a pressão do rito de passagem da idade, onde o desejo de ser alguém, ser reconhecida e fazer parte de um grupo levam Tracy ao envolvimento com a doida e gostosona da escola, Evie Zamora (Nikki Reed). Ela torna-se sua mentora no processo de largar os ursinhos e partir para a vida de pequenos furtos e acesso a drogas em geral. Curiosidade: a história real da atriz que interpreta Evie, Nikki Reed, foi que inspirou o roteiro do filme. Nikki deve ter tido uma infância dureza. A personagem Evie é o próprio demo, o guia perfeito para quem quer se afundar no mundo do vale-qualquer-coisa para se obter os prazeres máximos de nossos dias, quais sejam: consumo, fama e drogas. Notem que sexo não entra na lista e aparece para teen Tracy como tarefas a serem cumpridas dentro do ritual de iniciação na adolescência.
Se investigarmos mais a fundo, o roteiro do filme não traz nenhuma mensagem especial. Mostra as armadilhas das transformações dos adolescentes: drogas que todos os jovens experimentam e a maioria consegue ultrapassar e o piercing, que afinal todo moleque usa hoje em dia, aparece com conotações masoquistas. Tudo mostrado com a câmera na mão, que dá o tom convenientemente nervoso a narrativa, mas que deve ter sido escolhido por ser a solução mais barata e ajustada para um orçamento de filme independente. Fica o interessante das situações limites que conhecemos ou ouvimos falar e que tememos que aconteçam com nossos filhos. A heroína Tracy embarca fundo na viagem de ficar grande. Para carregar mais as tinturas do personagem, a menina é histérica e anoréxica ou é histérica porque é anoréxica, não importa, com tendências autoflagelantes inteiramente afinadas com estes tempos de piercings e tatuagens. Isto pode justificar a forma acelerada e pouco crítica com que Tracy abraça a vida de roubar, se drogar e participar de qualquer festinha para ganhar status de alguém fora da multidão. O filme peca nas tintas fortes do roteiro. A natural sensação de que nossos filhos podem se envolver nestas ameaças, como drogas e roubo, são artifício eficiente para garantir a atenção de um mercado adulto que sai perplexo e aterrorizado com o mundo de perversão que ronda seus filhinhos na rua. O filme mostra como a “a juventude está perdida”. Infelizmente, a juventude, por definição, sempre está perdida.
O melhor do filme é a combinação da atriz antiga, Hunter, e a nova, Wood, como gerações diferentes mostrando competência. O esforço da mãe, tentando manter contato com a filha apesar de todos os condicionantes de sua vida miserável, é realista. A mãe Mellanie (Holly Hunter) convence pelo exibição de mais um caso de fracasso de comunicação onde ninguém é totalmente culpado ou inocente. A cena final do filme é uma convergência de emoções. Uma bela visão da leoa que lambe as feridas de sua cria. De novo, Holly Hunter deixa sua marca.