Buena Vista Social Club

Pura emoção e boa música! O documentário de Wim Wenders sobre a velha guarda da música cubana, resgatada do anonimato e da aposentadoria, é exato e eficiente. O diretor alemão dos famosos Paris, Texas e Asas do Desejo, mostrou sabedoria ao renunciar a grandes exercícios de criatividade. A percepção de que ali estava material pronto, lapidado, transbordando a emoção que vem da ilha comunista do Caribe, fez com que Wenders relaxasse, produzindo uma obra contida da parte da direção. A opção por mostrar depoimentos singelos dos músicos, suas apresentações consagradoras em Amsterdã e Nova York, intercalados com imagens de Havana, é o grande mérito de Wim Wenders, que gerou este filme inesquecível.

Wenders filma o resultado do projeto do músico Ry Cooder, que já havia trabalhado com o diretor em Paris, Texas. Depois de fracassar o projeto de reunir africanos e cubanos na produção de um disco, Cooder tocou o trabalho apenas com músicos cubanos. Ao poucos, viu aparecerem velhos artistas que já tinham abandonado a carreira havia muitos anos. Os músicos são retiradas do esquecimento do fim de suas vidas. Como diz Cooder: um milagre. A arte dessas pessoas foi preservada e divulgada para o mundo. Alguns desses profissionais tinham trabalhado na antiga casa de shows Buena Vista Social Club, que dá nome ao filme.

A depauperada Havana oferece o cenário exótico – para nós brasileiros, muito familiar - da vida dos artistas. As câmeras de vídeo de alta resolução da Sony, trabalhando com forte contraste, transmitem o calor das cores vivas da cidade. A simplicidade limite dos prédios, roupas e pessoas é o contraponto adequado para as jóias musicais dos artistas apresentados. Entre um número musical e outro, ouvimos depoimentos pessoais dos músicos. Wim Wenders nos sensibiliza com a oposição entre a simplicidade, o ostracismo do fim de uma vida e o reconhecimento do virtuosismo daqueles artistas pelo público internacional. Ele mostra a pobreza do apartamento e primitiva religiosidade do cantor octogenário Ibrahim Ferrer, com quem choraremos juntos, a garganta apertada, na apresentação final no Carnegie Hall.

Buena Vista é como o bom "puro" cubano. Não há o que errar. O CD do filme é excelente. Buena Vista é do tipo "veja o filme e compre o disco". No meu caso, inverti a ordem. As gravações do CD são excelentes, mas assistir, no filme, o pianista Rúbens Gonzales (78 anos) entrar no palco e extrair aquele som maravilhoso do piano é um privilégio para olhos e ouvidos.

Um aspecto sensível, de que Wenders soube escapar com agilidade, é o forte conteúdo político do tema Cuba. Mas as imagens nos trazem sempre informações instigantes. Ver os artistas sendo redescobertos pelo produtor americano, nos leva a perguntar como o sistema cubano, tão eficiente em outras áreas sociais, fracassou em oferecer mais oportunidade a estas pessoas. Por outro lado, é impressionante ver aqueles garotos mulatos, que no Brasil teriam grande chance de estarem nas esquinas pedindo esmola, praticando esporte de alto nível. As meninas fazendo balé e os garotos treinando esgrima mostram que a pobreza das paredes descascadas dos prédios de Cuba não espelham a qualidade e oportunidade de vida daquele povo. A síntese dessas diferenças é resumida pelo músico Compay Segundo que diz: "Para o bem ou para o mal, Cuba tomou um caminho diferente".

cotação:

- Ernesto Friedman -

 
 

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19fevereiro2000
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