Joana D'ArcJeanne D'Arc

 
 

Verônica Duprat colaboradora

Será que Freud explica?

Se explica, não sei. Mas é só assistir o filme Joana D’Arc e relembrar as idéias dele – Freud. Um exercício. Basta apenas mergulhar nos jogos de poder da misteriosa Idade das Trevas... Acompanhar a ascensão da Igreja Católica com sua intervenção – tão decantada – nos negócios do Estado. Amar/Odiar o rei? Você decide.

Apelar para a "memória coletiva". Navegar (seria?), quiçá com saudade, naquela civilização. Ver França e Inglaterra brigando e, nesta perspectiva, a figura, o mito Joana D’Arc! Cantada pelos franceses, desde sempre em prosa e verso. Símbolo da gana, da força, do amor à Pátria, a guerreira.

A minha idéia era a de, mais uma vez assistir à odisséia de Joana D'Arc. Depois do almoço numa típica cantina italiana, caminhei alguns quarteirões e entrei no Cinema. O almoço farto pode servir de desculpas para minhas "visões" acerca do filme. Ao meu lado, o companheiro dormia. Eu, sozinha, meio distraída, achei o filme, em princípio muito chato. Era a mesma historinha?

Não. Não era a mesma. À Joana de Luc, faltava a calma que a Fé confere aos mártires. Luc Bresson inovava. Ele estava ousando discutir, questionar o mito. Joana, histérica, gritando, indomável, emergia não como a Salvadora da Pátria, amante inconteste da França. Ela era uma mulher, buscando vingar a morte da irmã, estuprada pelos ingleses, que, por ela, se sacrificara. Novidades? Os efeitos especiais, as batalhas, a voz meio histérica da atriz escondiam talvez a necessidade de desmistificar Joana. O diretor a tratava como uma mulher à procura de vingança. De vingança pessoal. Analfabeta, sem recursos, movida pela força do ódio, ela levanta a França. Coroa o rei. E continua a investir contra os ingleses! Sempre.

De onde estou tirando essas idéias? Do fundo de minha loucura, onde me encontro também com sérios questionamentos! Quem foi Joana D’Arc? Teria Luc Bresson a pretensão real de destruir o mito? Estaria apenas mergulhando naquela alma atormentada, trazendo para o seu espectador uma Joana nova? Não importa, penso...O que vale é o que você pode sentir, ver. O que busco é a emoção aristotélica diante da arte, entendida como provocadora de sensação. É a mente que viaja e que traz polêmica. Discussão.

Sozinha na cela, Joana já sabe que vai ser queimada. Os ingleses conseguiram destrui-la. O rei a abandonou. Os padres não podem mais ouvi-la em confissão. Tudo acabou? Só resta a fogueira?

Não. Joana D’Arc não fica sozinha. Satanás em pessoa surge de sua imaginação! Encarna e, acredito, aí está o clímax do filme. O diálogo que se inicia entre Joana D’Arc e Satanás é maravilhoso. Adorei. Ela vai, então, ser conscientizada de que, na verdade, não lutou pela França. Lutou por si mesma. O incrível é que Bresson não deixa por menos. É ele, o próprio Satanás, quem, depois, vai ouvir Joana em confissão. São diálogos excelentes em que ele a leva a "rever" todos os seus passos, palavras e ações. O mito da França desfaz-se. É uma mulher forte que lutou por si mesma, pela sua irmã, contra seus medos, que permanece. Bresson desnuda Joana D’Arc. Destrói o mito. Ela teria sido guiada pelo ódio. Pelo demônio que a acompanha até o ultimo momento.

O elenco é excelente. Milla Jovovich, John Malkovich e Dustin Hoffman. Para quem gosta de ler nas entrelinhas, recomendo Joana D’Arc.

 
 

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14abril2000
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