Cronicamente Inviável
O Dia da Caça

Brasil Inviável

Como minha lista de filmes pendentes estava longa, resolvi dedicar uma tarde de sábado ao cinema, assistindo a dois filmes em seqüência. Escolhi aqueles, cuja exibição em sessões alternadas no Espaço Unibanco 3 era uma indicação de que já estavam para sair de cartaz. E resolvi prestigiar o Brasil, os dois filmes escolhidos são nacionais falando de questões nacionais: Cronicamente Inviável, de Sérgio Bianchi, e O Dia da Caça, de Alberto Graça. Mais uma vez constatei que o Brasil está realmente em uma grave crise. Não se diz que é nos momentos de crise que o processo criativo cresce? Pois estes filmes se somam à safra de bons filmes que o Brasil vem produzindo nos últimos tempos: O Quatrilho, Como Nascem os Anjos, Central do Brasil, Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos, Bossa Nova e outros. Outros, mas não o bastante para permitir acabar com a lei de obrigatoriedade de exibição de filmes nacionais que tanto desagrada aos exibidores.

Os dois filmes, cada um, e os dois juntos nem se fala, equivalem a um tapa na cara de cada um de nós brasileiros. Mostram o Brasil e seu povo. Está tudo ali: a simpatia do brasileiro, o jeitinho, a prostituição masculina e feminina, a corrupção, o preconceito racial e econômico, a violência, o tráfico de drogas e de bebês, a exploração, a decadência dos valores etc.

Cronicamente Inviável é um misto de documentário com situações do dia a dia nacional, interpretadas, entre outros, por Cecil Thiré, Daniel Dantas e Beth Gofman. Estão lá o relacionamento da patroa com a empregada que já é patrimônio da família, o dono e a gerente do restaurante, ele gay e ela traficante de bebês, o garçom que complementa o orçamento vendendo o corpo, o rato de praia, os catadores de lixo, o escritor que fala da problemática nacional e ao mesmo tempo faz uns "servicinhos" extras para ajudar nas despesas, a frieza da madame que atropela o garoto de rua e só demonstra preocupação em não se atrasar para o compromisso, o mau-humor e irresponsabilidade do taxista etc.

O Dia da Caça é um thriller: com suspense, mocinho e mocinha (Marcelo Antonny e a francesa Barbara Schulz estão ótimos) e bandidos de primeira (destaque para Jonas Bloch). Contrariando a fama do cinema nacional, o sexo não foi explorado apesar da beleza do casal de mocinhos. Estão lá representados o nosso governo, a nossa polícia, a nossa imprensa.

São filmes pessimistas. Mostram um Brasil inviável, sem esperança. São filmes que mexem com a gente, incomodam. Afinal, fazemos parte deles. Somos os personagens. Mas talvez o fato de incomodarem seja o que justamente sinaliza alguma esperança. O objetivo deve ter sido este: provocar para nos acordar, nos incentivar a reagir!

- Mila Tavianne -
colaborador


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01julho2000
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