Cidade dos Sonhos Mulholland Dr. entender ou não entender, eis a questão! Cidade dos Sonhos é filme destinado à polêmica. Ao final da apresentação, os comentários ouvidos na saída do cinema variam entre "uma merda" e "gênio". Enfim, o objetivo de David Lynch de instigar o espectador funcionou novamente. A primeira vista, a questão mais importante é saber se entendemos o filme. Sobre isso, Lynch não perdoa e se diverte em informar aos críticos que lhe cobram algum sentido, que se alguém disser que entendeu é justamente por estar muito longe de o ter conseguido. Eu gostei do crítico que disse logo: - Não se entende nada, mas é uma intensa experiência cinematográfica. E isso é mesmo! O filme nos toma a atenção e eu fiquei fascinada com a, digamos... história que Lynch nos conta (ou ameaça contar). Dificilmente, alguém afeito ao razoável e lógico consegue esclarecer todo o roteiro. Entretanto, se dispensarmos esta estranha tendência a querer compreender as coisas, o prazer proporcionado por Cidade dos Sonhos é indiscutível. Ou não? Provavelmente, até sobre isso cabe alguma discussão. O filme é um belo delírio. Pode ser o devaneio de uma mulher culpada de um crime que se deixa levar por versões várias, onde ela rescreve os personagens, se modificando, mudando o caráter dos outros, os motivos, enfim, difícil da gente acompanhar. Ou, pode ser também o produto de um diretor criativo que prolonga um protótipo de série de tevê (diz-se que esta versão é verdadeira) e se compraz de distorcer um roteiro básico, intercambiando atores, reciclando trechos da história e incluindo atraentes pedaços de roteiro, mesmo que estes só contribuam para diminuir a chance do roteiro se explicar. De novo, pra quê explicar? E assim, cria-se uma obra estranhamente bonita como um quadro de um homem de paletó voando segurando seu guarda-chuva, ou uma parede torturada pelos belos rabiscos de Jackson Pollock ou os relógios se derretendo de Dali. Se a imagem estática pode ser delirante, por que não se pode fazer o mesmo com os filmes. É gostar ou não. Isso é o que interessa. Cidade dos Sonhos, mesmo que a encaremos como uma colcha de retalhos de roteiros fracamente costurada, nos traz imagens magníficas. O teste de atriz do personagem Betty (ou Diane, serve qualquer uma) é uma delícia de cena. Por sinal, entre os atores, Naomi Watts brilha, com interpretações destacadas que lhe valeram vários prêmios e a indicação para o Oscar de 2002. O Clube Silencio, com todo seu espanhol falado e cantado, e a tensão que rola é outra emoção de primeira. A propósito, os longos planos de suspense tornam o filme uma tortura para os mais impressionáveis. As cenas de sexo com as duas belas moças são estimulantes. Em meio a muita esquisitice acontecendo, a câmera trabalha com perfeição, aproximando, enquadrando na medida certa para valorizar os momentos. A música, do tipo atenção-vai-acontecer-alguma-coisa-agora!, é o mais vulgar dos recursos que Lynch utiliza para criar a estranheza de Cidade dos Sonhos, título este melhor que o original em inglês. Depois do filme, podemos conversar horas sobre as armadilhas que Lynch planta na história. Nada que esclareça muito, mas divertido de se falar a respeito. Se relaxarmos, podemos imaginar várias explicações para o inexplicável. Realmente, esta é a proposta. David Lynch, com esta ousadia embaralhante, pode ser chamado de gênio. - Eugenia Corazon - envie agora seu comentário sobre este artigo veja a opinião dos leitores sobre o artigo Entender ou não entender, eis a questão! 22.12.2003
05.12.2002
11.09.2002
03.06.2002
28.05.2002
23.05.2002
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