Acorda Milla Kette! Nossa seção te artigos enviados por colaboradores está recheada de material provido por Milla Kette. Esta autora parece residir nos EUA e, de lá, toca a tecer comentários sobre o Brasil e seus infindáveis problemas. O curioso é que Milla tem algumas posições preconcebidas e, em seus artigos, se dedica rotineiramente a aplicá-las ao Brasil e o mundo. Exemplo: Milla Kette é preocupadíssima com uma comunização iminente do Brasil. Alguém pode acreditar que, a essa altura dos acontecimentos, este protótipo de neoliberalismo que é o Brasil pode estar se comunizando? Pois não é que Mrs. Kette acha que a qualquer momento o politburo se instalará na Praça dos Três Poderes. Mas ela não fica por aí não. Para Milla, o suicídio dos palestinos que se explodem no West Bank é coisa de terrorista e pronto. Os israelenses estão certos e não se fala mais nisso: o resto é insanidade. Ou seja, a autora costuma errar no básico de uma discussão que se pretende, no mínimo, polêmica. Milla parte de preconceitos e trata os assuntos com a superficialidade que as simplificações provocam. E a simplificação, para quem analisa, é sempre burra. Milla afirma com veemência: "O Brasil é uma economia que se socializa mais e mais a cada dia que passa." De onde ela tirou isso? Onde ela se entocou nos EUA para ficar com essa impressão? O governo FHC privatizou cerca de US$150 bilhões de dólares ao longo de seus governos. O país está tão inserido na economia mundial, que qualquer discussão sobre a próxima eleição provoca a evasão dos queridos dólares e o pânico de todo o sistema. Por favor Dona Kette, veja que não foi um possível futuro Lula que fez isso, foi o atual governo monetarista alinhado com o FMI. Culpar o futuro governo pelas mazelas de uma dívida interna e externa contraídas ao longo dos oito anos de FHC é alta sacanagem. Continua a autora: "o Capitalismo é o único sistema econômico que propicia liberdade de escolha e onde o indivíduo é responsável por suas decisões". Concordo Milla, mas isso funciona quando seu país já começou a corrida global por cima e tem soberania para usar as regras como for do seu interesse. O Canadá subsidiou seu fabricante de aviões Bombardier com 3 bilhões de dólares para que ele pudesse competir com a Embraer. Seus queridos americanos cagam para as regras que advogam e subsidiam suas pouco eficientes siderúrgicas e laranjais da Flórida para competir com os produtos mais baratos do Brasil. A França protege sua agricultura com unhas e dentes. Enquanto isso, nós, brasileiros, somos tão bonzinhos que esta semana, generosamente, preterimos um estaleiro nacional e entregamos a construção de uma plataforma de petróleo de meio bilhão de dólares para um estaleiro de Singapura. Quer mais capitalismo? Acho que a articulista, na segurança de seu green card, está é preocupada em discutir o direito inalienável de escolher qual Wal Mart é mais agradável. Por favor, Milla, o buraco é mais embaixo! Aliás, é sempre mais embaixo quando queremos discutir as coisas razoavelmente. Caia na real Milla. Sai do dólar, caia no real. Só para não perder o embalo, ainda na matéria de sofisticado título A Máquina de Moer: Somos Todos Bombyx mori a autora comenta "Tem se falado muito em Enron. Mas Enron era apenas uma empresa que não afetou um país inteiro, apenas os que estavam envolvidos de alguma forma com sua existência." Acho que a laboriosa comentarista perdeu boa oportunidade de aprofundar a discussão. Ela parece relações públicas do governo americano desconversando, dizendo que a falência da Enron foi uma bobagem a toa, que só os desempregados que foram pra rua e ficaram sem fundo de aposentadoria se deram mal. Milla se engana ou quer se enganar. O caso Enron é um grandioso exemplo de que o problema maior talvez não seja ser mais capitalista ou mais socialista. Todos os sistemas têm brechas grosseiras para a corrupção e o mau-caratismo. A Enron foi mais um dos casos de manipulação de balanços que estão aflorando hoje com frequência no seio do capitalismo. A Enron foi uma maracutaia onde até o presidente dos EUA pode estar envolvido. O caso não foi explorado a fundo porque um país em guerra contra o terrorismo não pode se dar ao luxo de levantar dúvida sobre se seu presidente levou grana de campanha da Enron para deixar de lado os problemas que ela já indicava possuir. O golpe da Enron demole vestais do sistema capitalista. Juntaram-se no golpe, executivos de altíssimo nível e instituições de reputação ilibada, como a empresa de auditoria Arthur Andersen, para surrupiar bilhões dos cidadãos americanos. Ou seja, o idolatrado sistema que Milla Kette defende cegamente também tem podres gigantescos. Seu maior motivo de sucesso é mesmo a elite que é melhor que a nossa. Afinal, nossos políticos e empresários gerenciam o Brasil como capitanias hereditárias e não se afligem em se alinhar com os empreendedores estrangeiros que, legitimamente, querem tirar vantagem onde for possível. Entretanto, Milla, você não vê essas coisas. Cara Milla, te peço que não deixe o luxo da civilização americana, que você usufrui nos States, nublar sua visão. Pára com essa coisa de americano é o máximo! De que judeu é um sofredor! É bem capaz de você pensar que Lula é comunista. Deixa disso menina. Acorda Milla Kette! - Tirésias da Silva - envie agora seu comentário sobre este artigo opinião dos leitores sobre o artigo acima ( ver artigo ) 05.07.2003
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