Câmera Digital

conjunto compacto de recursos para fotografar

- carlos ordina -

Vocês lembram de Blade Runner? Esse filme já pode ser tratado como um clássico: tem 20 aninhos de idade. Pois bem, há uma cena do filme em que o herói interpretado por Harrison Ford usa um aparelho parecido com uma tevê para ver uma foto digital. Ele passeia pela foto, amplia os detalhes, até achar uma informação que lhe ajuda na tal caçada aos clones fugitivos. Não havia câmeras digitais para vender na época do lançamento do filme. Hoje, estamos perto de ter a fotografia digital como o filme mostra. Ao longo dos anos, assistimos várias máquinas aparecerem, mas sempre com fortes limitações, seja nas funcionalidades que apresentavam ou no seu preço elevado. Me lembro quando as revistas de fotografia nos traziam artigos sobre limitados modelos Nikon por preços pouco convidativos como US$10.000 ou mais. Entretanto, sabíamos que produtos melhores que a precursora Mavica da Sony estavam a caminho. Era questão de tempo. De dois anos pra cá, a corrida dos fabricantes se acirrou e o mercado está inundado de máquinas atraentes. Nikon, Canon, Fuji, Sansung, Sony são alguns atores desse efervescente mercado. Novos modelos de um mesmo fabricante aparecem a cada 6 meses ou menos, sempre com novos recursos e, principalmente, melhorando a qualidade da foto produzida. Das máquinas com resolução de 1 Megapixels (quer dizer, a foto é representada por 1 milhão de pontos), se seguiram aparelhos com 2, 3, 4 e, no final do ano passado, chegaram as máquinas de 5 Megapixels de resolução, sendo a Coolpix 5000, da Nikon, no momento, o xodó do mercado. Seu preço, em torno de US$1000, ainda a coloca fora do conceito de produto popular. Mas, aguardem, daqui a pouco o preço baixa.

Este artigo mostra uma câmera que reúne o estado da arte da tecnologia digital e baixo preço. Notem que perseguir a combinação de funcionalidades e custo é um tipo de perversão, algo como um masoquismo consumista. Deslumbrados, comentamos as maravilhas dessas máquinas, apenas para lembrar, daqui a um ano ou dois, como elas eram limitadas. Mas, que seja! A máquina escolhida foi a Canon PowerShot S200. O motivo da escolha dessa câmera foi sua excelente combinação de preço e recursos oferecidos. Por US$350 obtém-se uma câmera digital com 2,1 Megapixels de resolução de imagem, do tamanho de um maço de cigarros (87.0 x 57.0 x 26.7 mm) e pesando apenas 180g. Para alguém como eu, averso a equipamentos pesados e incômodos para carregar, que usa uma clássica e genial Minox 35MB até hoje, a pequena Canon é fascinante. Apesar do pequeno volume, a S200 oferece todas as novidades de uma câmera digital e ... claro, traz as limitações comuns desse tipo de equipamento. O maior deles é a dificuldade de transformar as fotos digitais em fotografias em papel. A fotografia digital está diretamente associada ao computador. Você já pode comprar uma impressora especialmente para imprimir fotos diretamente da câmera, mas, normalmente, precisa do PC (a S200 usa interface padrão USB) para ver as fotos em tamanho grande na tela do micro ou enviar as fotos para a impressora. Acreditem que assim como a humanidade ainda prefere ver as horas em relógios com ponteiros do que em relógios digitais e ler jornais em grandes e macias folhas de papel do que ler notícias na Internet, também gostamos de ver as fotos em típicos formatos 10x15cm de papel, que podemos sujar com nossas impressões digitais, organizarmos em álbuns ou perdermos pelas gavetas da casa. Ainda não há um serviço disponível para você entregar o cartão de memória da máquina e receber de volta as fotos em papel. Nos EUA, existem sites voltados para transformar a foto digital em papel, mas funciona você enviando pela Internet e eles te devolvendo pelo correio. O procedimento de transferir foto da câmera para o computador e daí para um site de "revelação" é sem dúvida mais trabalhoso do que deixar um filme para revelar e pegar uma hora depois.

O futuro oferecerá a possibilidade de que nossas fotos preferidas fiquem passando na tevê ou no que venha a substituir as telas padrão que temos distribuídas pela casa. A propósito, a S200 já oferece este recurso. Você pode ver suas fotos na tevê simplesmente ligando um cabo ao seu aparelho de televisão. Pode-se programar a câmera para ficar mostrando as fotos no modo slide show. Tal qual o detetive Deckard, de Blade Runner, também é fácil dar zoom na imagem ou ampliar os detalhes que interessam. Como a foto já está digitalizada, ela pode ser modificada pelo software que acompanha a câmera ou outros tantos disponíveis no mercado. Pode-se também decidir sobre que efeito desejamos aplicar na imagem, antes mesmo de fazê-la. A S200 faz fotos em cores, em preto-e-branco, em sépia ou com os contrastes reforçados ou suavizados. É só escolher no menu da máquina. Por sinal, a escolha do que desejamos fazer, dada a enorme quantidade de recursos, é um problema. Harrison Ford usava comandos de voz para ver sua foto. Isto já seria possível hoje, mas ainda não está disponível, pelo menos na S200. Se você quer tirar retratos simples, a operação da pequena câmera é fácil. Quando se quer fazer alguma coisa mais sofisticada, é necessário usar os menus. Aí, a coisa pega! A Canon criou menus que são, na medida do possível, fáceis de usar. Mas os humanos com mais de 40 anos vão provavelmente se enrolar com os controles. Sejamos justos, o usuário comum também não sabe usar as máquinas fotográficas tradicionais. Estimo que os recursos das máquinas fotográficas comuns e os conceitos básicos de fotografia só são entendidos por cerca de 10% daqueles que apertam botões de câmeras mundo a fora. Ou seja, a maioria vai tirar fotos simples e ficar satisfeita com o resultado.

Uma característica ainda não resolvida de todo pela indústria de câmeras digitais é o atraso que as câmeras apresentam (a S200 inclusive) para disparar uma foto. Você aperta o botão, a maquininha faz um bocado de barulho e a foto só acontece quando o que você queria documentar já saiu do lugar, parou de sorrir ou, como no caso de um carro de corrida, já passou! Ainda bem que a gente pode ver o resultado imediatamente e, se não gostar, apagá-lo em seguida. Isto facilita que controlemos a ocupação do cartão de memória que guarda as imagens e que, na máquina digital, corresponde ao antigo rolo de filme. No modo padrão e resolução 1600x1200 (fotos muito detalhadas), com a memória de 8Mb que vem na máquina, é possível tirar apenas 11 fotos. Entretanto, o normal é adquirir um cartão de 32 ou 64Mb (US$30 ou 40), que permite fazer e guardar 50 ou 100 fotos, respectivamente. Se você for comedido, dá para documentar uma viagem de turismo com um cartão. De qualquer forma, dependendo da qualidade escolhida para as fotos, um cartão de memória de 8Mb pode guardar até 87 fotos. Você decide! Como a decisão angustia, você vai mesmo é sentir saudade daquela época que era só chegar na loja e escolher o filme de 24 ou 36 poses. Bons tempos aqueles!

Por falar em decisões, tenho que apontar uma bobeada do projeto da Canon: a S200 não possui um indicador de quanto resta da bateria. A câmera apenas te avisa quando a bateria está necessitando ser recarregada. Isto nos leva à solução (como sempre, mediante um acréscimo de custo) de adquirir uma bateria sobressalente. Para diminuir nossa preocupação, saiba que uma carga permite fazer 150 fotos e que você pode carregar a bateria quando quiser sem prejudicar sua capacidade. Não precisa esperar a energia chegar ao fim. Ou seja, é só uma questão de organização do fotógrafo.

Para contrabalançar as críticas, saibam que a câmera S200 é também uma filmadora digital com som. Com a memória de 64Mb e usando resolução 640x480 (que produz imagem de boa qualidade para vídeos) pode-se fazer um filme de quase 1 minuto. Como as memórias tendem a aumentar de capacidade (hoje, a maior é de 128Mb) a pequenina câmera vai, com o tempo, virar uma filmadora de razoável qualidade.

Bem, o diagnóstico final é que a qualidade e o preço das câmeras atingiram o ponto onde já vale a pena brincarmos com o conceito de foto digital. Curiosamente, a boa e a má notícia é a mesma: os defeitos deverão ser reparados conforme evoluírem os modelos, tornando a vida do fotógrafo digital mais fácil. Entretanto, a mudança acelerada que se espera vai fazer com que rapidamente fiquemos com aparelhos obsoletos nas mãos. Parece que o mal da deterioração acelerada faz parte da tecnologia digital. Também foi assim com os PCs e sobrevivemos. Sabemos que o ouro que tocamos hoje, será lixo em dois ou três anos. Recomendo relaxar e entrar na onda. E, no mais, sorria, você está sendo filmado!

(20.11.06 revisitando) As mãquinas padrão de hoje são 5 ou 6 MP. Para usar a filmadora das máquinas, compram-se cartões de memória com 1 ou 2 Gb. E a vida continua.



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09setembro2002
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