O Conselheiro Come João Ubaldo Ribeiro 2000, Editora Nova Fronteira Diz a lenda que a todos que iam pedir algum trabalho a Rui Barbosa, ele se esquecia (ou tinha acanhamento) de tratar do assunto do pagamento. Sendo assim, sua esposa muito sutilmente perguntava ao requerente do tal serviço se já haviam tratado do pagamento pelo trabalho. Após a resposta invariavelmente negativa, ela pedia que ele, antes de sair, voltasse e acertasse essa questão. E sempre se justificava com a seguinte frase: - O conselheiro come. A Bahia é cheia de histórias, assim como o baiano João Ubaldo Ribeiro, autor do livro de crônicas O Conselheiro Come, editado pela Nova Fronteira. São mais de quarenta crônicas publicadas nos jornais nos últimos dez anos. Ubaldo trata das agruras pelas quais passa um escritor, mesmo um acadêmico, no Brasil. Baiano de nascimento, carioca por opção, vascaíno convicto, Ubaldo é sempre associado à figura do folgazão, do manemolente, do gozador. Seus textos têm humor mas principalmente ironia, às vezes ácida e ferina. Apesar disso (ou por isso mesmo) são sempre deliciosos. Ele tem um extremo domínio de nossa língua e às vezes, por brincadeira ou sarcasmo, gosta de utilizar as palavras com alguma erudição. Nada que incomode. Ao contrário disso, até diverte. Nas crônicas do livro, ele trata da própria inabilidade diante dos avanços tecnológicos que nos impõe a informática, critica o politicamente correto, reclama do governo e daqueles que reclamam que ele deveria reclamar mais do governo. Desmistifica o ambiente da Academia Brasileira de Letras, e zomba da idéia da imortalidade. O livro termina com a crônica Carta ao Presidente em que ele dosa com maestria elementos como humor e ironia e ainda faz uma profunda crítica ao destino que o governo dá aos assuntos sociais. É um excelente livro, mesmo para aqueles que costumam acompanhar semanalmente os textos publicados por ele nos jornais. Vale a pena comprá-lo, até para relembrar pois a seleção foi feita com muito critério e capricho. - Arnaldo
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