ernesto friedman
Harry Potter e a Pedra Filosofal
J. K. Rolling
1999, Editora Rocco
Eu conheci um bruxo. Foi há muito tempo, eu tinha seis ou sete anos de idade. É bem provável que vocês não acreditem, mas posso até fornecer seu endereço. Ele vivia - ou existia para mim - em frente ao número 109 da Rua Humaitá, onde eu morava. O feiticeiro se disfarçava de jornaleiro e tinha uma pequena banca de jornais perto da esquina com a Rua Desembargador Burle. Sua banca – ou casa de mágicas – ficava embaixo de uma enrugada e frondosa árvore, que me parecia muito grande, afinal, eu era um toco de gente. Apesar disso, nos anos 60, as ruas eram seguras o suficiente para eu ir sozinho até o jornaleiro.
O bruxo não tinha nome. Ele se disfarçava de um típico italiano vendedor de jornais. Cuidadosamente arrumados na banca de jornais, ele expunha seus apetrechos com poderes mágicos. Pareciam simples gibis, mas, quando eu abria um deles e exercitava meus recentes conhecimentos de leitura, era transportado para um mundo de aventuras. Surgiam para mim estórias maravilhosas, fantasias impossíveis, todas recheadas de efeitos especiais criados pela minha imaginação. Eram histórias em quadrinhos do Batman, Super Homem (eu não entendia por que na capa da revista vinha escrito Superman) e, meu preferido, o Fantasma.
Como todo mago importante, o jornaleiro cobrava caro por seus serviços. Tínhamos um acordo. Cada revista que eu comprava, podia ler rápido, sentado no degrau da loja em frente ao jornaleiro, e trocá-la por outra, para ler e devolver. Era um truque simples de multiplicação de revistas: com o dinheiro de uma revista, eu lia duas. Esse truque, combinado com a venda de jornais velhos para o açougue, permitia meu acesso ao mundo mágico das histórias em quadrinhos.
Foi nessa casa de mágicas, pelas mãos desse mentor, que me iniciei na leitura. Ele também fazia mágicas mais poderosas. Com o tempo, percebi que ele vendia umas revistas pequenas – acho que por isso eram chamadas "revistinhas" – para os garotos mais velhos. Tempos depois consegui ver o desenho de uma mulher nua numa página daquelas revistas. Aquilo me despertou estranhas emoções. Entretanto, só alguns anos mais tarde eu estaria preparado para usar os hormônios certos e preparar as porções mágicas do desejo sexual.
Mas a boa mágica não está só. A magia do mal, desde tempos imemoriais, tenta ocupar espaço entre os bruxos. Na segunda metade desse século, as trevas voltaram com força. O bom cinema e a literatura tiveram que combater novos inimigos. A televisão – o mais forte poder do lado negro da Força – tirou muito do interesse infantil pela leitura. Um feitiço mais moderno, o videogame, vem derrubando muito do potencial mágico das crianças. Mas, de tempos em tempos, para mostrar que ainda é forte e está na briga, o lado bom vence. Este foi o caso do livro Harry Potter e a Pedra Filosofal. Escrito pela escritora inglesa J. R. Rowling, o livro conquistou a garotada. Com mais de 20 milhões de exemplares vendidos, já encaminhado para ser uma superprodução do cinema, Harry Potter é um sucesso. A primeira história fez as crianças formarem filas nas portas de livrarias para comprarem o segundo livro da mesma autora: Harry Potter e A Câmara Secreta. No Brasil, os dois títulos de Harry Potter ocupam as listas dos mais vendidos.
Rowling soube usar sua caneta mágica – ou teclado mágico – e usou ingredientes invencíveis para enfeitiçar os mais jovens. Criou um ambiente onde tudo pode acontecer. Voar numa vassoura, desaparecer, transformar uma coisa em outra, ver e conversar com fantasmas faz parte da vida encantada dos pequenos bruxos e bruxas que estudam na Escola Hogwarts de Bruxaria e Magia, a mais famosa da Inglaterra. Nesse ambiente literalmente mágico, Rowling colocou as crianças enfrentando problemas e aventuras do cotidiano. O medo da primeira aula, o garoto antipático da escola, o professor que nos persegue, e outras experiências marcantes da vida de uma criança, aparecem na história de Harry Potter e criam a ligação entre o mundo real de um menino e o fantástico universo paralelo dos bruxos.
Eu me aproveitei do poder de Mrs. Rowling e presenteei meu filho com o livro Harry Potter. O feitiço funcionou perfeitamente. Como num passe de mágica, ele se empolgou com a aventura do jovem bruxo e já está quase terminando o livro. O truque é eficiente e eu recomendo a pais interessados em iniciar pequenos feiticeiros.
Quanto ao valor deste livro, fico com a resposta de Vargas Llosa, na Veja, quando, perguntado sobre Harry Potter, resumiu: "É delicioso perceber que a leitura ainda é uma forma de entretenimento.".
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opinião
dos leitores
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10.03.2001
A autora deste livro tem a imaginaçao fertil. Alguém pode dizer a ela que ela é a melhor autora do mundo e nunca pare de escrever Harry Potter por que eu já estou viciada nesse livro, já li 3 vezes cada um.
01.09.2000
Encantador o comentário sobre o livro Harry Potter de Ernesto Friedman. Adorei a forma como retrata o bruxo disfarçado em jornaleiro que povoou sua infância e o iniciou no mundo mágico da leitura! Bastante pertinente também sua colocação sobre a TV e o videogame, a analogia feita entre a magia do bem e do mal. Perfeito! Mostrei o comentário pra minha filha (de 13 anos) que tendo o livro na cabeceira, já há algum tempo, entusiasmou-se em lê-lo! Tinha a impressão que era livro pra "criança", como se ela já não mais fosse... ah, esses "teens"!
Clélia Riquino
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30setembro2000 Copyright © [Polemikos]. Todos os direitos reservados.
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