O Não Me Deixes:
Suas Histórias e Sua Cozinha Rachel de Queiroz 2000, Editora Sciliano A escritora Rachel de Queiroz sempre se notabilizou por ser precoce. Seu primeiro romance, O Quinze, foi escrito antes dela completar 20 anos. E apesar disso, é uma das obras mais importantes da nossa literatura. Foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, depois de muito tempo de inadmissível exclusividade masculina. E agora, aos 90 anos, nos brinda com o livro O Não Me Deixes: Suas Histórias e Sua Cozinha. Em sua obra, Rachel de Queiroz sempre abordou a vida do sertanejo nordestino. Uma vida simples e pobre, cheia de dificuldades e sem nenhum glamour. Para nós, do Sudeste, sempre será difícil entender esse modo de vida. Nós que, em maior ou menor grau, nos acostumamos a discriminar o nordestino do sertão que vem para cá fugido da seca e da pobreza. Os chamamos de baianos em São Paulo ou de paraíbas no Rio de Janeiro, mostrando nossa incapacidade de discernir e perceber as nuanças e diferenças entre cada uma de suas culturas. Nós até compreendemos o modo de vida do nordestino do litoral. Com seu sotaque gostoso, sua música alegre, sua culinária rica. Mas o modo de vida sertanejo sempre foi difícil de entender, de compreender, de aceitar. Ele, entretanto, vem para cá e sobrevive em condições muito mais difíceis que as nossas, confirmando o que Euclides da Cunha já tinha percebido e tornado público. Que ele é um forte. Nesse livro, a autora retrata a rotina na cozinha de sua fazenda no sertão do Ceará e aborda a culinária sertaneja. Mostra a diferença desta culinária simples e pobre com as da Bahia e Pernambuco, mais ricas e famosas. Uma culinária baseada principalmente na escassez. Como a própria autora salienta, "se tiver um pedaço de toucinho para temperar o feijão, muito bem, mas é luxo." Por isso mesmo, uma culinária aparentemente menos inventiva. Mas é só aparência. É muito mais difícil criar na escassez do que na fartura. E o sertanejo revela-se, enfim, criativo com as poucas opções que tem. Usando a carne de bode e a farinha. O feijão e a galinha. O milho e o leite. E depois disso, regalar-se com os doces. Sim, pois o livro mostra que em matéria de doces a culinária sertaneja recupera toda a riqueza de que se privou. O livro traz receitas típicas do sertão cearense. E entremeia essas receitas com histórias deliciosas, ora fictícias, ora reais, com personagens da fazenda. Mais do que um livro de culinária, fala da vida do sertanejo. Uma vida simples e econômica, como sua cozinha. - Arnaldo Heredia - |
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