O Conto da Ilha Desconhecida 
José Saramago
1998, Companhia das Letras

buscas, ilhas e descobertas

... "O homem nem sonha que, não tendo ainda sequer começado a recrutar os tripulantes, já leva atrás de si a futura encarregada das baldeações e outros asseios, também é deste modo que o destino comporta-se connosco, já está mesmo atrás de nós, já estendeu a mão para tocar-nos o ombro, e nós ainda vamos a murmurar, Acabou-se, não há mais que ver, é tudo igual..."

Estamos sempre a buscar algo, cada um numa procura – que mesmo que pareça coletiva – é pessoal. Às vezes o objeto de desejo está próximo, mas não o vemos tentando encontrá-lo mais adiante. Precisamos muitas vezes de sair de dentro de nós mesmos para nos encontrarmos. Mas temos que buscar, alçar vôo, avançar pelos mares, atrás do desconhecido. Cada um, mais dia menos dia, encontrará o tão almejado.

José Saramago consegue nos levar numa viagem deliciosa com seu livro O Conto da Ilha Desconhecida. Um livrinho de 62 páginas. Devorei em vinte minutos. Quando vi, tinha acabado e eu perdida nos meus sonhos desconhecidos. E li de novo. E me deu uma vontade imensa de falar dele.

Ainda mais nesse começo de milênio, onde todos buscam ilhas desconhecidas, onde tudo é improvável, incerto, um mundo novo que surge. Onde mal começamos a nos acostumar com as descobertas e surgem outras.

Mas o homem continua a ser a melhor fonte de investigações. Nunca deixamos de nos surpreender a nós mesmos.

Fábula precisa essa que o autor nos conta. Me vi rindo em muitas passagens. Me identificando com o homem – personagem – que sem medo algum foi atrás do que desejava. "... Disseram-me que já não há ilhas desconhecidas, e que, mesmo que as houvesse, não iriam eles tirar-se do sossego dos seus lares e da boa vida dos barcos de carreira para se meterem em aventuras oceânicas, à procura de um impossível..." O personagem então afirma que não sabia navegar, mas aprenderia no mar. Conseguiria fazendo, errando, começando, mas fazendo. Incomodado com a certeza, investindo no inimaginável. Mesmo que sem tripulação, acompanhado apenas por uma mulher – afinal em toda procura se precisa de um cúmplice, de alguém que também acredite! – ele iria encontrar sua ilha.

As ilustrações - aquarelas de Arthur Luiz Piza - são lindas, suaves. Um dado interessante, elas também são difusas, incertas, cada um enxergará o que desejar.

Ótima dica para quem já conhece a obra do Saramago e também para quem quer conhecê-la. Um presente charmoso e que dificilmente não irá agradar.

"...Pela hora do meio-dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma..."

- Renata Mafra -
colaboradora

 

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11janeiro2001
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