eugenia corazon
Pilatos
Carlos Heitor Cony
2001, Companhia das Letras
Pilatos é um excelente e oportuno lançamento editorial. Este livro de Carlos Heitor Cony, de 1974, merece ser reapresentado aos leitores. Acima de tudo, Pilatos destaca uma qualidade magistral do escritor: seu humor. Os personagens e as situações delirantes que Cony cria para eles são de se dobrar de rir. E digo dobrar, literalmente. O domínio do texto, à beira do escracho, usado com maestria para mostrar a loucura social do Brasil nos anos 70, é um prazer por si só. Ali está todo o know-how que Cony desenvolveu em estilo e que seria muito útil, mais tarde, ao autor para construir algumas passagens hilariantes que encontramos também no premiado Quase Memória (1996). Mas o objeto do humor de Cony é profundamente sério. O leitor, embalado pelo estilo do escritor, gargalha ao mesmo tempo em que se depara com um retrato elaborado do povo brasileiro naquela época: seu caráter, qualidades e mazelas frente à situação limite da cidadania sonegada pelos governos militares.
Pilatos é a história de um homem que, após um acidente, tem seu pênis, digo, o pau arrancado do lugar habitual em que ele se situa na anatomia masculina. O dono do órgão passa então a carregá-lo, devidamente inanimado, dentro de um vidro de compota. A partir dessa bizarra situação, nos deparamos com aventuras e personagens entre o miserável emocionante e a caricatura engraçadíssima. A castração física do personagem é a irresistível metáfora para a situação do Brasil pós golpe de 64. A impotência é a grande estrela da história. Ela aparece até no grosseiro tesão irrefreável do personagem Dos Passos, que resume seus objetivos em : "eu preciso enfiar esta merda em qualquer canto!". Mas não se precisa das referências à história recente do Brasil para se gostar de Pilatos. O livro traz seriedade embrulhada em humor, como era comum nos anos de censura dos governos militares. É um livro dos anos 70, com a vitalidade dessa época de grande criatividade da cultura brasileira, mas não é um livro datado, é um prazer para qualquer tempo. Um gringo talvez não entenda os delírios de nossa terra. Mas, coitados, eles são muito mal informados sobre nosso povo!
Recomendo Pilatos em dose única. É livro para um ou dois dias. Depois então, que nosso herói sem caralho encontra seus companheiros de odisséia, não dá para largar a leitura. Eu garanto. Se você não gostar, pode escrever pra gente aqui em Polemikos que nós ... publicaremos seus comentários.
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opinião
dos leitores
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16.11.2003
Realmente, trata-se de um dos livros mais marcantes que já li. O escatológico tem graça, não é banal. Aqui Cony segue uma tradição desde as obras de Rabelais, levando ao grotesco a nossa sinistra realidade nacional, e por que não dizer, humana?
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