eugenia corazon
Coração Enfurecido
Ingrid Betancourt
2002, Objetiva
Nota (14.10.2006): O artigo abaixo foi escrito antes de 23 de fevereiro de 2002, dia em que Ingrid Betancourt foi seqüestrada quando seu avião sobrevoava a Colômbia. Ela se encontra presa até hoje em poder dos guerrilheiros da Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
O Brasil vê hoje seu Senado envergonhado, atolado na enxurrada de sujeira que vem a público. O povo acompanha pasmo a novela de confissões, choros arrependidos, versões cínicas e acareações. Dificilmente este momento nacional não irá repercutir sobre o futuro político brasileiro. Esperamos que, depois disso, a safra de Barbalhos e ACM saia da cena política nacional. Perplexos, nos perguntamos: Se presidentes do Senado e líderes do partido do governo estão envolvidos em maracutaias, o que não será perpetrado por deputados e senadores que vivem na sombra de seus cargos, armando golpes e traficando interesses para seus padrinhos? Neste Brasil de instituições políticas apodrecidas, a ameaça do traficante Fernandinho Beira-Mar (recentemente preso na Colômbia) de fornecer uma lista de políticos ligados à droga, pode trazer mais sustos à nossa frágil democracia.
Mas foi lá mesmo, na Colômbia, que a combinação tráfico de drogas e corrupção levou o país a situações extremas de deterioração da democracia. Na Colômbia, o capital que controla o poder corrompendo políticos, não vem de grandes grupos monopolistas interessados em manter o controle sobre setores da economia, como é o caso do Brasil. Lá, são os cartéis da droga, que movimentam bilhões de dólares, que, literalmente compram deputados, senadores e ... presidentes da república.
No livro Coração Enfurecido, da atual senadora colombiana Ingrid Betancourt, ela nos conta sua vida e nos apresenta a história política recente da Colômbia. Atualíssimo, lançado na França em fevereiro de 2001, Coração Enfurecido conta a trajetória dessa filha de um conservador senador da Colômbia, que vai a ser embaixador na França. Sua filha Ingrid se educa na Europa em contato com figuras como Pablo Neruda e Gabriel Garcia Marques. O destino a faz retornar a seu país para empreender uma carreira política de sucesso, baseada na luta contra a terrível máquina de corrupção movida pelo dinheiro do tráfico de droga. O cenário político retratado por Ingrid Betancourt nos é familiar. São deputados e senadores medíocres, com ambições míopes, desligadas do futuro dos colombianos, totalmente alinhados com os interesses dos empresários da cocaína. Devemos nos cuidar, se não soubermos administrar nossa democracia, a Colômbia poderá estar mostrando hoje, muito do Brasil de amanhã.
A grande beleza da história de Ingrid Betancourt está na sua postura radical de luta contra a corrupção. Ela toma posições firmes, sem negociar com os corruptos do poder, mesmo que para isso coloque em risco a própria vida. Esta proposta heróica é rara aqui nas nossas terras tupiniquins. Aqui, na política também, somos o país do jeitinho, do "toma lá dá cá". Nosso atual presidente é mestre em negociar com corruptos notórios para conseguir seus objetivos políticos. Betancourt mostra que há outra estrada. Ela recusa o confortável jogo do convívio com a canalhada e é reconhecida pelo povo colombiano. Ingrid Betancourt foi eleita senadora com a maior votação do país, mesmo candidatando-se por um partido pequeno, que ela mesma criou pouco antes das eleições.
Depois de deputada e senadora, Betancourt deverá se candidatar à presidência da Colômbia no próximo ano. Sua ousadia é imensa. Mas, para quem teve que viver anos longe dos filhos, depois que estes foram ameaçados de seqüestro e morte, que já escapou de atentado à sua vida, é natural esperar este próximo passo. Vale a pena ler o livro para compreender melhor o poder da corrupção, o problema da droga e, mais que tudo, para ver que existe uma opção de cidadania em que não há concessões. Fiquem atentos a esta senhora, ainda ouviremos falar dela.
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