O Rei de Havana Pedro Juan Gutierrez 2001, Companhia das Letras Cuba é o país da América Latina mais parecido com o Brasil. Com sua mistura de brancos, negros e mulatos. Nenhum país tem tantos mulatos quanto Cuba e Brasil. Em nenhum país, as classes pobres produzem uma música tão rica, tão mágica nem tão sensual. Aliás, em termos de sensualidade, os dois países não encontram paralelo no mundo inteiro. No Brasil, como em Cuba, come-se essa mistura magnífica que é o arroz com feijão. Por tudo isso é que há uma natural empatia entre as duas culturas. E talvez por isso é que o livro O Rei de Havana, de Pedro Juan Gutiérrez choque tanto o leitor brasileiro. Durante muito tempo, uma parcela da nossa elite intelectual, sobretudo a de esquerda, acostumou-se a endeusar, e até mesmo invejar as soluções encontradas pelo comandante Fidel Castro para transformar esta ilha num exemplo de sucesso social. No tempo de Fulgêncio Batista, Cuba era um prostíbulo de luxo dos Estados Unidos e Fidel e mais alguns companheiros trouxeram dignidade a esse povo. O que se seguiu foi uma deterioração dessa realidade, causada pela derrocada da União Soviética e principalmente pelo embargo econômico imposto pelos Estados Unidos. E hoje, uma parcela considerável da população cubana vive no mais absoluto estado de miséria. Nada muito diferente da realidade dos miseráveis da sociedade brasileira. O que choca, porém, é que proporcionalmente, a parcela cubana que vive nessa situação sub-humana é muito maior que a nossa. O livro de Gutiérrez trata justamente desse povo, na figura de Rey, um menino que habita os meandros de uma Havana decadente e promíscua. Nessa cidade, ele cresce e envolve-se em sua teia de pobreza, crime e prostituição. O relato é de uma crueza cortante e contundente. É forte e chocante. Mas, apesar de tudo isso, revela-se a coragem de um povo que insiste em resistir e em lutar. Como lutou na época de Sierra Maestra. A tradução perfeita de José Rubens Siqueira, faz com que não percebamos, em momento algum, que se trata de um texto escrito em língua estrangeira. Isso só aumenta a percepção da semelhança entre nossas realidades. Por mais romântica que possa ter sido a revolução e por mais que tenha sido, historicamente importante, esse movimento, alguma coisa vai ter que mudar em Cuba. Pelo que mostra o livro, a situação é emergencial e degradante. Não dá mais pra viver das glórias do passado e nem exigir desse povo sofrido, mais resistência. E não adianta ficar mostrando o balneário de Varadero pro resto do mundo. Varadero não é Cuba. Está se transformando num prostíbulo de luxo para os turistas, assim como fora a Cuba de Batista. Sobretudo agora, com esse retrocesso político que é o novo governo americano, o embargo tende a continuar mais forte e mais feroz. Não há como resistir. Aliás, será que o Brasil teria resistido por tanto tempo? - Arnaldo Heredia - |
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