ernesto friedman

O Alquimista
Paulo Coelho
1988, Planeta do Brasil

A entrevista das páginas amarelas de Veja (número 1714) foi com Paulo Coelho. O mago estava com a cachorra! Do alto de seus milhões de livros vendidos, Coelho pontificou como um alucinado. Tomado por alguma entidade humorística, ele declarou: - Sou ótimo escritor. E sou vanguarda. Delírio? Comédia? A repórter da revista procurava cercá-lo. Perguntava sobre seus poderes de Merlin tupiniquim e o grande malandro ensaboado só desconversava. Afirmou que não se interessa mais por fazer chover, ventar, ficar invisível ou se comunicar por telepatia. Disse que fez tudo isso, mas cansou. Pra mim, ele não quer mais saber de magia negra, é melhor curtir de escritor de sucesso e saborear a grana preta que ganha. De Paulo Coelho, a mágica que eu testemunho, é ele vender seus intragáveis livros. Neste truque, ele é insuperável. Débeis de todas as classes sociais amam as obras herméticas do David Copperfield caboclo. O autor escreve difícil... difícil de engolir. Eu, certa feita, resolvi me exercitar escrevendo um texto de auto-ajuda tendendo para o esotérico. Para me espelhar num clássico, no mestre, decidi enfrentar a leitura do O Alquimista. Achava que uma provação como essa era o caminho do conhecimento. Falhei. Minha autoflagelação literária foi exagerada. Era tortura hedionda. Minha disciplina foi insuficiente para vencer o português de Coelho. Parei lá pela página 20. Mas estou em boa companhia, Rachel de Queiroz diz que parou na página 8.

Cabe a Paulo Coelho o comentário feito por Millor Fernandes a respeito do livro Marimbondos de Fogo, de José Sarney: "é o tipo de livro que quando a gente larga não consegue pegar de novo". Pois é, o escritor Paulo Coelho está neste grupo. Aliás, outro grupo a que ele quer pertencer, junto com Sarney, é a Academia Brasileira de Letras. Agremiação estranha, que combina Sarney, Ivo Pitanguy, Roberto Marinho e João Ubaldo, e que adotará a transmissão do cargo por herança, com a eleição de Zélia Gattai, mulher de Jorge Amado, que receberá, de pensão, a cadeira do finado marido. Felizmente, por enquanto, Paulo Coelho desistiu da Academia. O cara nos poupou de vê-lo acrescentar a imortalidade a seus inúmeros pretensos poderes. Como diz meu guru Tirésias: devemos ter cautela pois as coisas sempre podem piorar!

Falando sério, acho que Paulo Coelho não fala sério, ele apenas debocha da gente. O camarada é inteligente. Encontrou o caminho de fazer dinheiro e ser famoso, as duas coisas mais valiosas de nossa época. Conta-se que antes de virar bruxo, o pretenso escritor encontrou Nelson Motta no calçadão da praia e perguntou: - Qual o segredo para ficar rico? Nelson se esquivou a responder. Disse que aquela não era sua expertise. O fato é que o grande Paulo achou o Caminho de Santiago e o caminho das verdinhas. O ex-adepto da Sociedade Alternativa, toda noite, antes de embarcar no sono dos ricos, deve exibir discreto sorriso (ou estrondosa gargalhada) por assistir diariamente a humanidade deglutindo as bobagens que fala e escreve. Se seu parceiro Raulzito ainda vivesse, teria crises de riso vendo o amigo sacaneando o mundo todo com esta farsa.

A carreira de escritor pilantra talvez seja a grande obra do terrorista alternativo Paulo Coelho, que, no final, vai desmascarar a babaquice que grassa mundo afora. Será que o ex-rebelde encontrou maneira de fazer da própria vida a prova da demência geral? Seria apoteótico se, futuramente, num programa de entrevistas, Paulo Coelho começasse a dizer coisas coerentes como: - Vocês acreditam mesmo nestas tolices de magia? Algum panaca pode acreditar que sou capaz de fazer chover? Ah, vão pastar! O bom mesmo é vender muito livro, ganhar grana e viajar de primeira classe! Se Paulo Coelho fizesse algo assim, pelo menos honraria o instigante radicalismo que praticou com Raul Seixas. Mas... não me iludo. Poder mágico mesmo, a que ninguém resiste, é o que fama e dinheiro exercem sobre as pessoas. E Paulo Coelho já é um dos possuídos.


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