A onda que se ergueu no mar
Ruy Castro
2001, Companhia das Letras

O livro Chega de Saudade: a História e as Histórias da Bossa Nova de Ruy Castro, publicado em 1990 pela Companhia das Letras, é um dos mais importantes livros sobre a história de nossa música popular. E é importante, não só pelas informações históricas contidas nele, mas principalmente pela forma com que o autor as expõe. Há muitos livros importantes sobre o tema, mas nem sempre palatáveis. Vide os livros de José Ramos Tinhorão.

Sem fugir do rigor investigativo dos fatos, Ruy Castro consegue imprimir um tom coloquial e agradável em seus livros. Isso também aconteceu nas ótimas biografias de Nelson Rodrigues (Anjo Pornográfico, Companhia das Letras, 1992) e de Garrincha (Estrela Solitária, Companhia das Letras, 1999). São relatos historicamente rigorosos e ao mesmo tempo apaixonantes. Consegue-se, nesses três livros, perceber o quanto o autor admirava o jornalista e dramaturgo, o jogador de futebol e a Bossa Nova. E essa admiração não permitiu, nesses casos, que ele deixasse algum tipo de deslumbramento afetar o relato.

Devido a esses três livros, não titubeei em pedir ao meu amigo secreto, no final do ano passado, que me presenteasse com o livro A Onda que se Ergueu no Mar. Comecei a devorá-lo ainda antes do natal e aos poucos fui sendo tomado por um sentimento de decepção. A primeira característica que me surpreendeu foi o tom extremamente pessoal do relato, no sentido de que o autor se inseria nas histórias que contava como que querendo "mostrar" sua eventual intimidade com figuras como Tom Jobim, por exemplo. O rigor investigativo acabou dando lugar a impressões e interpretações pessoais.

Um segundo problema é que muito do que foi escrito sobre Tom Jobim, Orlando Silva e João Gilberto já havia sido publicado no livro de 1990. Parece que o autor abandonou tanto o prazer de investigar que acabou se esquecendo de pesquisar até o que ele próprio escreveu. Algumas histórias já haviam sido contadas por ele mesmo. Há nesse livro histórias sobre esses personagens que não são repetidas, mas nesses casos a impressão que se tem é que são histórias menores, sem tanta importância, indignas de constar no livro anterior. Como se esse fosse pra ser um livro menor, de menor importância.

A mesma sensação persiste quando se depara com relatos sobre personagens que não tinham merecido tanto destaque no primeiro livro, como é o caso de João Donato. Ora, todo mundo que adora Bossa Nova sabe quanta importância esse magnífico músico teve para o movimento. E mais do que ninguém, Ruy Castro também sabe disso.

Este é um livro, mesmo para quem não leu o primeiro, vazio e sem paixão. Os relatos são mornos e falta justamente o ingrediente mais importante dos outros livros de Castro, ou seja, sua sede pela informação. Pra quem já leu Chega de Saudade fica essa sensação de decepção, quase de engodo. Enfim, um livro que não vale a pena. Nem mesmo se tiver sido ganho de presente.

- Arnaldo Heredia -

 

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21fevereiro2002
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